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Vídeos feitos com IA tomam as redes sociais; conheça tecnologia Veo 3 que inova e assusta

Nova atualização da IA do Google, a Veo 3, possibilitou a geração de vídeos com áudios. Especialistas apontam efeitos de popularização da tecnologia

Nova atualização da Inteligência Artificial do Google, a Veo 3, possibilitou a geração de vídeos com sons

Já imaginou estar preso em um congestionamento e ser ‘resgatado’ por drones? A solução absurda para o trânsito foi transformada em conteúdo com a nova atualização da Inteligência Artificial Generativa do Google, a Veo 3, por um morador de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O vídeo ‘criado’ pelo mineiro teve 138 mil visualizações no Instagram e se soma a outros conteúdos feitos inteiramente pela ferramenta que tomaram as redes sociais nas últimas semanas.

À Itatiaia, Enderson Gomes, trabalhador autônomo e responsável pelo perfil TV Bicame, onde compartilha os vídeos feitos com IA, conta que gasta cerca de 4 horas para fazer cada conteúdo. Enderson explica que a ferramenta produz vídeos de até oito segundos a partir de comandos de textos detalhados por ele. Com a limitação de tempo, ele precisa gerar vários vídeos para formar os conteúdos maiores compartilhados no Instagram.

“O mundo, no dia a dia, já está muito difícil pro trabalhador. Então, eu pensei em trazer algo leve e cômico, de forma que eu possa brincar com o que há de errado na cidade, assim, no meu ponto de vista, de assuntos que ninguém conseguiu resolver, mas de uma forma que seja mais alegre, mais descontraída e até mais lúdica”, conta o responsável pelo perfil sobre as inspirações para as ideias dos vídeos.

No vídeo mais viral do próprio perfil, Enderson conta que brincou com o trecho da saída de Nova Lima, próximo ao Colégio Santo Agostinho. “Ali quando quebra um carro, quebra um caminhão, um ônibus, o trânsito ‘garra’ todo. Então, o novalimense, aquele que já está acostumado a trabalhar em Belo Horizonte, ou tem que passar por ali, já está acostumado com o trânsito ‘garrado’”, explica Enderson Gomes.

Conteúdos virais, mas que levantam preocupações

Imitação de reportagens, moradores reclamando de buracos ao cair dentro deles e, até mesmo, releituras bíblicas, são alguns dos temas de vídeos feitos com Inteligência Artificial que ‘invadiram’ o Instagram e o TikTok nas últimas semanas.

Boa parte dos conteúdos foram produzidos pela Veo 3, da Flow, uma plataforma do Google. A tecnologia foi lançada em maio e inovou por possibilitar a criação de conteúdos ultra realistas com geração, inclusive, de vozes humanas e sons ambientes. A ferramenta pode ser assinada a partir do valor de R$ 96,99 por mês.

Apesar de inovadores, os conteúdos assustaram muitos internautas pela proximidade com a realidade. Os vídeos conseguem imitar rostos e vozes humanas e simulam situações cotidianas, a partir de comandos por texto. Além disso, são produzidos com uma velocidade que impressiona.

O pesquisador Roberto Vasconcelos, professor do departamento de Direito do Trabalho e Introdução ao Estudo de Direito, da Universidade Federal de Minas Gerais, ressalta que grande parte dos vídeos são feitos de forma caseira, mas teme que, no futuro, as pessoas tenham dificuldade de diferenciar os conteúdos feitos pela IA dos feitos por humanos.

“Com a velocidade do avanço dessas tecnologias, a gente pode ter certeza que, nos próximos anos, nós vamos ter conteúdos gerados por IA, que vão ser indistinguíveis. Então você pega esses vídeos que viralizaram agora, eles são vídeos na verdade de baixo custo. São feitos de maneira caseira, mas imagina um estúdio profissional ou uma equipe profissional com mais tempo. Ela vai gerar conteúdos que são indistinguíveis”, explica Roberto Vasconcelos para a Itatiaia.

Já o professor do departamento de comunicação social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), André Goes Mintz, detalha que um dos efeitos mais paupáveis do barateamento da produção de conteúdos por IA pode ser uma crise relacionada a credibilidade das imagens.

“A gente tem um cenário em que as pessoas começam a ficar mais desconfiadas dessas imagens. Isso pode produzir efeitos dos mais diversos. O curioso, inclusive, é uma situação em que da mesma forma como você pode ter uma imagem falsa, você vai ter dificuldade de convencer pessoas de um acontecimento mesmo como imagem verdadeira”, disse André Mintz.

IA não substitui o trabalho humano

André Goes Mintz, professor do departamento de comunicação social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ressalta ainda que existe uma contradição relacionada ao avanço das ferramentas de Inteligência Artificial Generativa. Isso porque, ao passo que a IA gera uma apreensão a uma série de profissionais que trabalham com produção de conteúdo, ela é treinada a partir de conteúdos produzidos por humanos.

“Por mais que em certos contextos as Inteligências Artificiais pareçam facilitar e agilizar certos processos, elas têm esse débito com as pessoas que produzem essas imagens. Isso gera uma grande apreensão de artistas, de produtores de conteúdo, jornalistas, escritores, por toda classe de trabalhadores da cultura. Justamente porque na mesma medida em que ela ameaça certos trabalhos, ela o explora sem consentimento de várias pessoas. Então, esse é um problema generalizado dessas IAs”, detalha André Mintz para Itatiaia.

Como consequência, o pesquisador reforça que a ferramenta depende que as pessoas com a produção de conteúdos de qualidade para que siga evoluindo. “A Inteligência Artificial depende que essas pessoas continuem produzindo imagens e textos. Mas ao mesmo tempo tem uma tendência de redução dos incentivos para que as pessoas continuem produzindo. Justamente porque se elas estavam fazendo isso para trabalho, por exemplo. Assim, há uma chance de redução dessa produção qualificada”, finaliza.

A geração de textos, imagens e vídeos por meio das ferramentas de Inteligência Artificial generativas também levanta questões relacionadas à proteção do direito das imagens. O pesquisador Roberto Vasconcelos, professor do departamento de Direito do Trabalho e Introdução ao Estudo de Direito, da Universidade Federal de Minas Gerais, explica que, do ponto de vista jurídico, conteúdos produzidos com uso exclusivo de inteligência artificial não são protegidos por meio de direito autoral.

“O direito autoral protege as obras que são produzidas pela criatividade humana pelo ser humano. Isso é um primeiro aspecto. Então, não seria possível, por exemplo, você reivindicar a cobrança de direitos autorais relativos a algo que você criou utilizando uma ferramenta dessas”, ressalta Roberto Vasconcelos.

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Rebeca Nicholls é estagiária do digital da Itatiaia com foco nas editorias de Cidades, Brasil e Mundo. É estudante de jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNIBH). Tem passagem pelo Laboratório de Comunicação e Audiovisual do UniBH (CACAU), pela Federação de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) e pelo jornal Estado de Minas