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Pré-estreia de ‘O Agente Secreto': quando Recife encontra BH na tela e na plateia

A estreia do filme de Kleber Mendonça Filho marcou a abertura da 19ª CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, que ocorre com programação gratuita até o próximo domingo (28)

Abertura da 19ª CINEBH - International Film Festival nessa terça-feira (23)

A estreia de “O Agente Secreto”, um dos filmes brasileiros mais aguardados do ano — para muitos, o mais esperado — foi marcada por filas que tomaram quarteirões e pela recepção calorosa do público que lotou o Cine Theatro Brasil Vallourec, no Centro de Belo Horizonte, com cerca de mil pessoas, na noite dessa terça-feira (23).

Para um espectador em especial, a sessão foi como reencontrar com a sua cidade natal. “Reconhecer um pouco do Cinema São Luiz aqui em Belo Horizonte foi bem especial”, disse o professor recifense Rafael Mello, de 31 anos, que vive na capital mineira há dois anos e meio.

O filme marca mais um mergulho de Kleber Mendonça Filho em Recife, cidade que aparece não apenas como cenário, mas como um personagem principal da narrativa.

Ambientada em 1977, durante a ditadura militar, a história acompanha Marcelo (Wagner Moura), um professor que retorna à capital pernambucana em busca de recomeço, mas se vê enredado em vigilância, espionagem e fantasmas do passado.

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‘O Agente Secreto’ em BH: fila dá volta no quarteirão e ingressos esgotam em 24 minutos

O filme chega às salas de cinema apenas em 6 de novembro, e a capital mineira foi a terceira do país a receber a pré-estreia — depois de Recife e Brasília. Rafael fez questão de assistir a sua cidade retratada na tela do icônico teatro-cinema do Centro de BH.

“É um filme longo, mas eu fiquei o tempo todo arrepiado. Seja pela tensão que o filme traz, seja pelos lugares que aparecem… Ver o centro do Recife reconstituído dessa forma tão bonita e tão forte”, contou.

Rafael contou sobre a emoção de ver lendas urbanas de sua infância ganhando vida, além da representação do Carnaval. “O carnaval aparece no filme de uma forma muito bonita também. Seja no figurino, nas músicas, no bloco na rua...”, disse Rafael, que assistiu à sessão usando a camisa do Cariri Olindense, um dos blocos mais tradicionais de lá.

A multidão que enfrentou a fila dobrando quarteirões impressionou Rafael tanto quanto sua primeira visita ao Grande Teatro. “Não esperava tanta gente, ver o centro da cidade tomado, essa fila que atravessou quarteirões… Fiquei realmente impressionado”, disse.

Na visão dele, a força da obra está em como Kleber Mendonça Filho transforma elementos locais em uma narrativa universal. “É um cinema que fala sobre coisas muito particulares, como lendas e lugares locais, mas que são ressignificados dentro de uma linguagem universal. E isso chega de forma impactante para pessoas no mundo inteiro”.

Rumo ao Oscar?

O filme “O Agente Secreto” foi escolhido como representante oficial do Brasil para disputar vaga na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2026.

O longa foi um dos destaques do Festival de Cannes em maio, conquistando os prêmios de melhor direção para Kleber Mendonça Filho, melhor ator para Wagner Moura e o troféu da crítica de melhor filme.

Vitor Miranda, gerente e programador do Cine Humberto Mauro, que também esteve na sessão de ontem, lembra que “poucos filmes conseguem conquistar dois prêmios tão importantes, porque o festival costuma dividir muito os reconhecimentos.” Diante disso e da “campanha incrível” que vem recebendo, ele acredita que a produção tem chances.

Segundo ele, o longa, que ele classificou como divertido, se destaca não apenas pela repercussão internacional e pelos prêmios conquistados, mas também pela forma inovadora como aborda o período da ditadura militar no Brasil.

O Agente Secreto

Para Vitor, o filme representa uma fase interessante na representação desse período, afastando-se de narrativas mais tradicionais. "É um filme importante pra gente pensar em como a ditadura militar afetou vários aspectos da sociedade para além da guerrilha direta”.

O longa, segundo ele, leva a outro patamar a ideia de resistência protagonizada por uma pessoa comum, fazendo com que o próprio título seja uma provocação. Além disso, ele destaca que o filme trabalha de forma criativa com elementos para construir a atmosfera singular com signos do terror e do realismo fantástico: "É um filme sobre o qual dá para falar por horas”, disse.

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Valeu a pena esperar

O publicitário Gabriel Lonasso, de 31 anos, se programou para chegar com antecedência. A bilheteria abriu às 19h e, somente 25 minutos depois, os ingressos já estavam esgotados — o que gerou muitas reclamações.

“Cheguei por volta das 17h e já havia uma fila bem considerável, o que me assustou um pouco. Mas, no geral, foi tranquilo. Tive amigos que não conseguiram entrar, mesmo chegando pouco tempo depois, porque a fila cresceu muito rápido”, contou.

Ele também compartilhou uma dica — embora um pouco tardia para quem já está lendo este texto: evite buscar informações sobre o filme ou assistir a trailers antes da sessão. “Queria ter a experiência sem saber muita coisa, e isso tornou tudo ainda melhor. Saí encantado com o filme, com a história, com o elenco, com o roteiro. Tudo foi incrível. É bom demais ver o cinema brasileiro brilhando assim, com produções que batem de frente com Hollywood”, disse.

19ª edição da CineBH

A Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte (CineBH), é parte do programa Cinema sem Fronteiras 2025, da Universo Produção, que reúne ainda a Mostra de Cinema de Tiradentes e a Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP). Paralelamente, acontece também o 16º Brasil CineMundi, encontro internacional de coprodução.

Composta por 101 filmes, o festival também conta com mostras temáticas, debates, oficinas e atividades de formação no mercado audiovisual. A programação vai até domingo (28).

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.