''Uma diferença de quando comecei para hoje é o protagonismo negro. Isso há um tempo era impossível.” A declaração é de Carlos Francisco, ator mineiro de 63 anos e grande homenageado da 19ª edição da Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte. Ao celebrar o que chama de sua “segunda carreira”, ele destaca que a trajetória acompanha também as transformações da indústria, hoje marcada por uma presença negra que considera “histórica”.
“Antes, éramos quase sempre retratados como subalternos, bandidos, famílias fragmentadas. Hoje, você vê negros protagonistas, em papéis existenciais, não apenas sociais. Isso mudou”, afirmou à Itatiaia antes da exibição inédita de ‘O Agente Secreto', que lotou o Cine Theatro Brasil Vallourec, no Hipercentro de Belo Horizonte. Oficialmente, o filme só chega nos cinemas em 06 de novembro de 2025.
Carlos Francisco integra o elenco do longa, dirigido por Kleber Mendonça Filho, que abriu a mostra e foi oficialmente
Antes da arte
Antes de se dedicar à arte, Carlos contou como foi a vida fora dos palcos. Mudou-se para São Paulo para vender caminhões, um trabalho lucrativo, mas que sempre entendeu que seria passageiro.
“Eu pensava: estou aqui, mas não sou daqui. Não se empolgue. Quando der para sair, eu saio. E quando deu, saí”, relembra o homenageado. O aprendizado o ajudou mais tarde na gestão de sua própria companhia de teatro.
Do palco para a tela
A vida artística começou no teatro, onde acumulava funções como ator, administrador e até faxineiro. “Era como um circo, vivíamos para o espaço”, recorda.
Esse compromisso o afastou por muito tempo de projetos mais longos, necessários para o cinema. A virada veio em 2013, quando deixou a companhia para gravar seu primeiro longa com dedicação integral: ‘Um homem que voa: Nelson Prudêncio’.
Ao comparar as linguagens, ele é direto: “A única diferença é a projeção. No cinema você faz pequeno, a câmera pega. No teatro, precisa expandir para a última fila. Fora isso, é igual: pensamento, sentimento, concentração”, explica Carlos.
Ele também integra ‘Marte Um’ (2022), dirigido pelo mineiro Gabriel Martins e produzido pela Filmes de Plástico onde interpreta Wellington, o patriarca da família Martins.
O filme foi rodado em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e chegou a ser indicado pelo Brasil ao Oscar de 2023 como representante na categoria de Melhor Filme Internacional, entrando na pré-seleção enviada ao comitê da Academia.
No entanto, não entrou na lista reduzida dos 15 pré-finalistas divulgada em dezembro e, portanto, não chegou a disputar oficialmente.
Olhar para o futuro
Carlos se mostra otimista com o momento atual do cinema nacional, marcado por novos cineastas e pelo interesse renovado do público jovem nas produções brasileiras.
‘O Agente Secreto’
A expectativa para o Oscar cresce ainda mais
Ao receber a homenagem em Belo Horizonte, cidade onde nasceu, o ator resumiu seu sentimento: “Eu me sinto pleno. Estou num cineteatro, recebendo reconhecimento pela atuação no cinema, que é praticamente a minha segunda carreira. Olhar para trás e dizer que valeu a pena é um privilégio”, se emociona o ator.