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Mural gigante com 34 casas no Aglomerado da Serra, em BH, será inaugurado no domingo (14)

A 4ª edição do Morro Arte Mural (MAMU) entra na reta final; a inauguração da galeria a céu aberto será no fim de semana e contará com roda de capoeira, espetáculo de teatro, blocos de carnaval, DJs e MCs

Mural se forma com 34 casas no Aglomerado da Serra, em BH

O azul predomina entre os tons que transformaram 34 casas do Aglomerado da Serra, a maior favela de Minas Gerais. As fachadas se transformaram em um macro mural inspirado em “Águas da Serra”, tema da 4ª edição do Morro Arte Mural (MAMU). As pinturas começaram em agosto e a inauguração será no próximo domingo (14), com uma programação cultural que convida moradores do ''Serrão’’ e de toda a capital a conferir de perto a galeria de arte a céu aberto.

A obra é do artista Jorge dos Anjos, formado em Artes Plásticas pela UFOP e reconhecido como Mestre do Notório Saber pela UFMG. “A escolha das cores foi para transmitir energia e vitalidade. Não queria um azul acinzentado, nem cores apagadas ou diluídas. Precisava ser vibrante”, explicou.

O tema do projeto deste ano — que já passou pelo Morro do Papagaio, Nova Cachoeirinha e Alto Vera Cruz — chama a atenção para a urgência de preservar o s mananciais que cortam o Aglomerado da Serra, responsáveis não apenas pelo abastecimento da própria comunidade, mas também essenciais para o fornecimento hídrico de toda a capital mineira.

A proposta também resgata a história de como o território foi sendo construído ao redor dessas águas.

O ‘quebra-cabeça’ gigante

Na execução, a coordenação é de Thiago Alvin, artista plástico de 37 anos e coordenador de pintura do MAMU. Ele é o responsável pelo “quebra-cabeça de casinhas”. Nessa quarta-feira (10), quando a Itatiaia esteve no local, Alvin foi encontrado de binóculo e rádio em mãos, sob um guarda-sol, orientando as equipes nos andaimes para garantir o encaixe do desenho.

“Eu fico coordenando o encaixe: uma casa está à frente, outra atrás, em cima, embaixo. Como o desenho cria uma coisa só, a gente precisa desses acertos”, explica. O projeto envolve nove pessoas diretamente na pintura — três coordenadores e seis pintores da própria comunidade.

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Moradora do Aglomerado, a estudante Rebeca Luz, 15, teve a casa pintada e se diz encantada: “Achei legal. Da minha escola dá pra ver, fica bonito. Dá pra tirar foto, ficou muito linda”. Ela mora com a mãe, o irmão mais velho e a irmã mais nova.

‘Olhar para dentro’

Diferentemente das edições anteriores — pensadas com visão para as avenidas Antônio Carlos e Nossa Senhora do Carmo — o desenho agora foi “pensado para dentro”. “Antes a ideia era ter a visada para o asfalto, para a cidade. Mas o ‘Serrão’ já tem muita visibilidade. Por ser a maior favela de Minas, fez mais sentido voltar o olhar para dentro”, diz Juliana Flores, diretora artística e curadora.

O mural, que já cobre 34 casas, terá vista privilegiada da Praça do Cardoso, acessível pela Avenida Cardoso. Os moradores demonstram entusiasmo. Jefferson Antônio da Silva, capoeirista e microempreendedor de 42 anos, admite que inicialmente desconfiou: “No começo eu achei paia. Falei: ‘p****, vai zoar a parada, não vai ficar bacana’”. A percepção mudou com a obra em andamento: “Depois que veio a fórmula... Parabéns! Palma para o projeto, palma para quem está olhando para a comunidade”.

Cultura e paz

Jeferson também critica o recorte da mídia que destaca apenas aspectos negativos da favela, ignorando as manifestações culturais locais. “Baile funk é cultura, pagode é cultura, capoeira é cultura.” E reforça: “Nós só queremos, aqui no aglomerado, cultura. Nada mais do que cultura, paz e lazer para todos os que moram no aglomerado.”

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No próximo fim de semana, o MAMU promove uma programação de inauguração do painel com muita com roda de capoeira, espetáculo de teatro, blocos de carnaval, DJs e MCs.

Alisson Luiz Fernandes, 42, comerciante na Praça Cardoso há quatro anos e morador do Aglomerado há duas décadas, afirma que o projeto amplia os horizontes das crianças que moram lá. “Incentiva várias coisas, dá outras visões”, diz.

Confira a programação da inauguração

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.