O azul predomina entre os tons que transformaram 34 casas do Aglomerado da Serra, a maior favela de Minas Gerais. As fachadas se transformaram em um macro mural inspirado em “Águas da Serra”, tema da
A obra é do artista
O tema do projeto deste ano — que já passou pelo Morro do Papagaio, Nova Cachoeirinha e Alto Vera Cruz — chama a atenção para a urgência de preservar o
A proposta também resgata a história de como o território foi sendo construído ao redor dessas águas.
O ‘quebra-cabeça’ gigante
Na execução, a coordenação é de Thiago Alvin, artista plástico de 37 anos e coordenador de pintura do MAMU. Ele é o responsável pelo “quebra-cabeça de casinhas”. Nessa quarta-feira (10), quando a Itatiaia esteve no local, Alvin foi encontrado de binóculo e rádio em mãos, sob um guarda-sol, orientando as equipes nos andaimes para garantir o encaixe do desenho.
“Eu fico coordenando o encaixe: uma casa está à frente, outra atrás, em cima, embaixo. Como o desenho cria uma coisa só, a gente precisa desses acertos”, explica. O projeto envolve nove pessoas diretamente na pintura — três coordenadores e seis pintores da própria comunidade.
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Moradora do Aglomerado, a estudante Rebeca Luz, 15, teve a casa pintada e se diz encantada: “Achei legal. Da minha escola dá pra ver, fica bonito. Dá pra tirar foto, ficou muito linda”. Ela mora com a mãe, o irmão mais velho e a irmã mais nova.
‘Olhar para dentro’
Diferentemente das edições anteriores — pensadas com visão para as avenidas Antônio Carlos e Nossa Senhora do Carmo — o desenho agora foi “pensado para dentro”. “Antes a ideia era ter a visada para o asfalto, para a cidade. Mas o ‘Serrão’ já tem muita visibilidade. Por ser a maior favela de Minas, fez mais sentido voltar o olhar para dentro”, diz
O mural, que já cobre 34 casas, terá vista privilegiada da Praça do Cardoso, acessível pela Avenida Cardoso. Os moradores demonstram entusiasmo. Jefferson Antônio da Silva, capoeirista e microempreendedor de 42 anos, admite que inicialmente desconfiou: “No começo eu achei paia. Falei: ‘p****, vai zoar a parada, não vai ficar bacana’”. A percepção mudou com a obra em andamento: “Depois que veio a fórmula... Parabéns! Palma para o projeto, palma para quem está olhando para a comunidade”.
Cultura e paz
Jeferson também critica o recorte da mídia que destaca apenas aspectos negativos da favela, ignorando as manifestações culturais locais. “Baile funk é cultura, pagode é cultura, capoeira é cultura.” E reforça: “Nós só queremos, aqui no aglomerado, cultura. Nada mais do que cultura, paz e lazer para todos os que moram no aglomerado.”
No próximo fim de semana, o MAMU promove uma programação de inauguração do painel com muita com roda de capoeira, espetáculo de teatro, blocos de carnaval, DJs e MCs.
Alisson Luiz Fernandes, 42, comerciante na Praça Cardoso há quatro anos e morador do Aglomerado há duas décadas, afirma que o projeto amplia os horizontes das crianças que moram lá. “Incentiva várias coisas, dá outras visões”, diz.