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Quem é o artista escolhido para pintar ‘tela gigante’ no Aglomerado da Serra, em BH

Jorge dos Anjos está à frente da nova edição do Morro Arte Mural (MAMU), que tem como tema “Águas da Serra”

Jorge dos Anjos esculpiu várias obras, a maioria delas com expressões e manifestações culturais afro-brasileiras, e, que estão instaladas em Belo Horizonte, como o Portal da Memória, monumento feito em homenagem às matrizes culturais africanas na Lagoa da Pampulha

A missão de transformar 34 casas do Aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, em uma grande galeria a céu aberto ficou nas mãos — ou melhor, nos pincéis — de Jorge dos Anjos. Convidado para integrar a quarta edição do Morro Arte Mural (MAMU), ele assume o desafio de colorir fachadas de casa do “Serrão” com o tema “Águas da Serra”. A proposta é chamar a atenção para a preservação dos mananciais que cortam o morro e para a importância histórica dessas águas na formação da comunidade.

“Jorge dos Anjos foi convidado por sua relevância no cenário da arte contemporânea brasileira e sua forte conexão com temas como ancestralidade e espiritualidade afro-brasileira”, explica Juliana Flores, diretora artística e curadora do MAMU, também responsável por outro projeto de intervenção urbana bem conhecido dos belo-horizontinos, o Circuito Urbano de Arte (CURA).

Segundo ela, além de dos Anjos, a execução do projeto envolve diretamente os artistas locais, fortalecendo a proposta coletiva do projeto

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Mural colorido toma forma nas paredes do Morro do Papagaio, em BH

Jorge dos Anjos

Formado em Artes Plásticas pela Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP), ele é reconhecido como Mestre do Notório Saber pela UFMG. Sua produção transita entre escultura, desenho, pintura e instalações — uma de suas obras está exposta em uma dos principais cartões postais da cidade: a orla da Lagoa da Pampulha.

Portal da Memória, monumento feito em homenagem às matrizes culturais africanas na Lagoa da Pampulha

Ele afirma estar realizando um grande sonho. “Desde a década de 1970, quando eu saía de Ouro Preto e vinha para BH, via esses prédios e já imaginava algo assim. Naquele tempo ainda não existia esse movimento, mas eu já sonhava com isso.”

Ele reconhece, também, o desafio da proposta: “É uma pintura na paisagem, na arquitetura. É colocar cor na paisagem, e isso exige respeito, porque estou pintando as casa das pessoas. Tem que ter sensibilidade e consideração com quem vive ali.”

A paixão pela cor sempre foi central em sua obra, um indicativo do que vem por aí no projeto do Serrão. “Estou buscando um equilíbrio, um colorido que se relacione com o lugar, com a vista, com a paisagem.” Ele afira que sua proposta será um diálogo entre “o colorido e o espaço”.

As obras começaram oficialmente no dia 14 de julho, com a instalação dos andaimes. A pintura está prevista para ocorrer entre 18 de agosto e 14 de setembro. Diferentemente das edições anteriores — cujos murais eram voltados para avenidas movimentadas da capital —, o novo macromural poderá ser visto da Praça do Cardoso e da Avenida Cardoso, valorizando o olhar interno da própria comunidade.

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Outras edições

Alto Vera Cruz (2018): O primeiro mural, com 41 casas, criado pela dupla Cosmic Boys (Zéh Palito e Rimon Guimarães), resultando em um painel vibrante e colaborativo.

Vila Nova Cachoeirinha (2022): Um mural visível da Avenida Antônio Carlos, pintado pela artista Criola, um dos maiores nomes do grafite no Brasil.

Morro do Papagaio (2024): A terceira edição contou com um macromural da artista capixaba Kika Carvalho em 40 casas, inspirado na série “Brasões” e com imagens de pipas que remetem a símbolos afro-diaspóricos.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.