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Edifício JK: após fim de gestão de quatro décadas, polêmica continua com eleição marcada

Assembleia no maior condomínio de BH está prevista para esta terça-feira (30) e deve decidir os rumos da administração, não sem críticas de moradores

Edifício JK do arquiteto Oscar Niemeyer é o mais alto e populoso de Belo Horizonte

Nos corredores do Conjunto JK, em Belo Horizonte, segue a dúvida: quem quer assumir o posto de síndico? Faltando cinco dias para a Assembleia Geral Extraordinária que vai definir o futuro da administração do condomínio, no Barro Preto, Região Centro-Sul, os possíveis candidatos ainda são incertos.

A reunião está marcada para a próxima terça-feira (28) e acontece depois de mais de quatro décadas de gestão da mesma síndica, Maria Lima das Graças, de 78 anos.

A convocação ocorreu devido ao estado de saúde da administradora. Segundo o advogado do condomínio, Faiçal Assrauy, seu quadro continua ''bem complicado’’. Ela está internada há mais de um mês no Hospital Felício Rocho, na mesma região, e não tem perspectiva de melhora. A causa da hospitalização não foi divulgada.

O chamado da assembleia é assinado pelo síndico em exercício, Manuel Gonçalves de Freitas Neto, de 61 anos, que está na administração durante o afastamento. Ele, juntamente com Maria das Graças e o condomínio, responde a uma denúncia do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) por crimes contra o patrimônio cultural, devido à falta de manutenção em áreas tombadas. A audiência está marcada para 7 de outubro.

Manuel, que trabalha no edifício há 38 anos e mora no conjunto, ainda não oficializou a candidatura, mas, de acordo com Faiçal Assrauy, deve disputar o cargo.

O edital de convocação da reunião, a que a Itatiaia teve acesso, não detalha como será o processo ou o prazo para a inscrição de que tem interesse em concorrer. “As chapas são apresentadas na própria assembleia”, disse o advogado.

Críticas à audiência

A Assembleia Geral Extraordinária será realizada justamente na sede do IHGMG, que fica dentro do próprio condomínio, na Rua dos Guajajaras. Na reunião, também serão eleitos o subsíndico e os conselheiros. Diferentemente de disputas anteriores, que aconteceram no auditório do Cruzeiro Esporte Clube, no Barro Preto, desta vez, o encontro será no próprio JK.

A reportagem conversou com três moradores, que não quiseram se identificar. Entre as queixas, eles reclamam do horário da reunião — às 10h da manhã, em período comercial — o que pode dificultar a participação. Dois proprietários alegam, ainda, não terem sido avisados da assembleia.

Segundo um deles, a audiência também é questionável, pois, pela convenção, Manuel, como subsíndico, assumiria automaticamente, na ausência da síndica. Ou seja, não haveria necessidade de nova eleição. Além disso, alega que não há transparência no processo de convocação de 2/3 dos condôminos, algo necessário para a realização do chamamento.

Uma das moradoras que diz não ter sido convocada formalmente vai à reunião mesmo assim. “Reorganizei meus planos para garantir meu voto”, afirma. Ela comemora a possibilidade de votar — direito que diz ter sido negado em outras ocasiões — e a visibilidade que o caso tem tido fora dos muros do condomínio. “Vejo esse momento como um ‘grande dia’, não necessariamente para definir algo concreto de imediato, mas como o início de uma revolução na habitabilidade e no potencial que o JK representa.”

Em resposta, Faiçal Assrauy disse que a assembleia foi comunicada a todos os condôminos, e também com afixação de avisos, além de veiculação pela imprensa diversa. “A falsa argumentação de não ter havido a convocação apenas demonstra um espírito de vandalismo, buscando tumultuar e desgastar a imagem do condomínio”, afirmou.

Novas pautas atraem moradores

Além da eleição, foram colocadas na pauta a modernização dos elevadores, a adequação do prédio às normas do Corpo de Bombeiros e do Patrimônio Cultural, além da digitalização da administração.

Os moradores também votarão a flexibilização das regras para pets: se aprovada, não será mais obrigatório carregá-los no colo nas áreas comuns.

Um dos moradores entrevistados contou que Manuel tem buscado apoio em uma espécie de “frente ampla”, formada por condôminos preocupados com o prédio, que saíram de uma reunião esta semana temerosos, mas satisfeitos com os compromissos assumidos pelo síndico em exercício

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Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.