A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) identificou nessa sexta-feira (7) mais uma vítima do rompimento da barragem em Brumadinho, Maria de Lurdes, que tinha 59 anos na época do desastre e estava de férias com a família.
Os segmentos foram encontrados pelo Corpo de Bombeiros na quinta-feira (6) em uma área de buscas chamada ‘remanso 4', no local do rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão.
Segundo a PC, a vítima foi identificada por meio de exame antropológico no Instituto Médico-Legal Dr. André Roquette (IMLAR), em Belo Horizonte.
A Itatiaia conversou com a médica legista da antropologia forense da PCMG, Yara Lemos, que está a frente dos trabalhos desde o rompimento da barragem.
‘Desde o inicio, a já estava constituída a equipe de antropologia, que trabalha com casos de difícil identificação, como são os casos das vítimas de Brumadinho. Tiveram várias fases da Identificação de Vítimas de Desastres (DVI), apesar de muitas equipes colaborarem, todas as fases pelo IML em BH, com a coordenação e apoio da chefia de Polícia e da Superintendência de Polícia Técnico Científica’, disse a médica.
Sobre o caso da identificação de Maria de Lurdes nesta quinta-feira (6), assim que deu entrada a Perita da PCMG, Ângela, acompanhada pelos bombeiros informou a médica sobre o encontro prótese.
‘Assim que fiquei sabendo do encontro de um caso com prótese femoral, já busquei os arquivos intravitam das vítimas para estudar e saber qual poderia ser pela cirurgia e o lado da prótese’, disse a médica.
A legista explicou que foram feitos vários cálculos para estimar o perfil biológico sexo, idade, estatura pela antropologia. Foi identificada a presença de prótese coxofemoral, com múltiplas características coincidentes quando comparada pelo exame radiológico e tomográfico com os dados médicos de Maria de Lurdes.
Além disso, a médica apontou que foi possível identificar Maria de Lurdes pelo método antropológico comparativo, utilizando documentação médica, radiológicas e tomografica.
O Corpos de Bombeiros informou que também foi encontrada uma porção de couro cabelo.
‘Nós utilizamos elementos de comparação como a prótese, trabeculado ósseo, tratamentos dentais, osteopatologias e variações anatômicas. Numa eventualidade de haver outros materiais, em algum caso, como por exemplo fragmentos ósseos ou couro cabeludo, a identificação é realizada pela tecnologia do DNA', explicou a médica legista e professora do curso de medicina da faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais.
Ou seja, o couro cabeludo encontrado não foi utilizado para esta identificação, de Maria de Lurdes.
Na quinta-feira (6) também foram encontrados segmentos que podem ser de uma ou mais pessoas, que já foram identificadas ou não. Segundo a médica isso é comum, já que são muitas vítimas e os trabalhos estão ativos desde 2019.
‘A gente tenta reconstruir a história da vida da pessoa pelo ossos, assim conseguimos entender e constatar se passou por alguma cirurgia e problemas de saúde por exemplo. Os ossos contam histórias, é o que chamamos de osteobiografia’, contou a médica sobre o trabalho com as vítimas de Brumadinho.
Maria Lourdes da Costa Bueno
Corretora que vivia em São José do Rio Pardo (SP), estava de férias com sua família na Pousada Nova Estância, em Brumadinho, que foi atingida pela lama da barragem poucos instantes após o rompimento. A família estava hospedada no local para realizar o sonho do enteado de conhecer o museu Inhotim. Com a tragédia, a pousada foi soterrada pela lama da barragem, resultando na morte de Maria de Lurdes, a de seu marido Adriano Ribeiro da Silva, seus dois enteados, Luiz e Camila Taliberti, e sua nora, Fernanda Damian de Almeida.
Duas vítimas seguem desaparecidas
O rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão aconteceu em 25 de janeiro de 2019 e provocou 272 mortes. Os bombeiros trabalham na busca e resgate dos corpos há mais de 2.200 dias. Mais de 4.500 militares já participaram das operações e, atualmente, oito bombeiros trabalham de forma ininterrupta em Brumadinho.
Até o momento, duas vítimas seguem desaparecidas: Tiago Tadeu e Natália Porto. Elas são chamadas de joias pela corporação.
Segundo o Corpo de Bombeiros, a corporação encontrou 20 segmentos humanos no ano passado. Em 2023, esse número foi de 18.