As mais de 800 lojas de roupas no Barro Preto oferecem opções pra todos os públicos. Tem roupa pra criança? “Temos moda infantil, boas opções”; e pra quem tem dimensões especiais? “Plus size, curves, tudo isso tem também”; quem quer itens de costura, ziper, botão, linha, tem? “Vai encontrar no Barro Preto também muitas lojas, muitas opções”; roupa pra mulher? “Todos os tipos, todos os tamanhos”; e pro homem? “Você vai encontrar muitas opções também”.
As respostas de bate-pronto são do presidente da Associação de Comerciantes do Barro Preto, André Soalheiro. Com tanta opção e tamanha concorrência, verder se torna uma arte entre os lojistas do bairro.
“(As vendas) Estão ligadas às pessoas, mais às pessoas do que aos pontos ou aos espaços, exatamente. A gente já teve muito mais pontos, hoje a gente tem menos pontos, mas como eu disse, as pessoas fazem a diferença, então a gente, em número de equipe, de vendedora, de atendimento, a gente não diminuiu, a gente só mudou a forma de atender e o local de atendimento”, avalia Soalheiro.
E uma dessas pessoas é Ângela Medeiros, de 56 anos de idade e 27 de atuação no comércio.
“Faço parte do Barro Preto e o Barro Preto faz parte de mim. Aqui todo mundo no todo é uma família. E a moda mineira, para mim, ela é a melhor. Em questão de tudo, qualidade, beleza e preço também. É preço, é promoção, é variedade. E vamos falar também que a gente tem bem um atendimento diferenciado”, explica Ângela.
Percepção que é compartilhada por quem vem fazer compras por aqui. A funcionária pública Carla Gonçalves, de 43 anos, estava ajudando a filha, de 16, a renovar o guarda-roupa.
“Aqui a gente encontra os preços bem acessíveis e a gente mora aqui próximo, então sempre que eu preciso a gente corre aqui primeiro. A variedade é bem grande, de tudo um pouco”.
E andando pelas ruas do BArro Preto a gente encontra uma cena clássica: o homem, na porta da loja, com o olhar longe e a cara ligeiramente fechada, aguardando as mulheres da família olharem calmamente as peças no interior do estabelecimento. Breno Santana Santos, de 29 anos, é empresário em Capelinha, no Vale do Jequitinhonha, distante 520 quilômetros de BH.
“Tá minha esposa, minha enteada e minha mãe”; Hoje é o dia delas, nada de compra pra você? “Hoje é só delas mesmo”; e vocês vieram de Capelinha pra comprar aqui porque sabiam que a região é boa pra comprar roupa? “Sim, sim, é o polo, né, é uma região muito forte e comentada”; e tá valendo a pena? “Tá sim, vale a pena”.
A analista do Sebrae Kênia Cardoso, especialista em moda, destaca o aspecto diverso do Barro Preto. “Aquele consumidor que deseja ir a uma festa, ele vai encontrar uma roupa para esse ambiente. A gente tem empresas que trabalham diretamente com roupas infantis, masculino, feminino, então é um ambiente de moda diverso”.
Lojas abertas contrastam com pontos fechados
Mas se tem clientes e portas abertas, tem também muitos pontos comerciais fechados, com placas de ‘aluga-se’. Lúcio Faria, 69 anos, comerciante a quatro décadas no Barro Preto e presidente do Sindicato do Comércio Atacadista de Tecidos Vestuário e Armarinhos de Belo Horizonte (Sincateva), lamenta.
“O que mais tem é ‘aluga-se’. Quem vai alugar uma loja pra mexer com moda, moda é uma coisa fashion, é uma coisa bacana, uma coisa bonita, precisa de ter um lugar harmonioso. Mas o cara vai lá, ele vai alugar um negócio e vê que tá lotado de morador de rua, ele não vai querer alugar, ele prefere ir pro shopping”.
O presidente da Associação Comercial do Barro Preto, André Soalheiro, admite a existência de lojas fechadas, mas considera o percentual dentro do normal.
“Ninguém quer ver a loja fechada em lugar nenhum. Eu, como comerciante, me dói o coração porque eu sei que ali podia estar um negócio ou que teve um negócio que fechou. Eu acho que o Barro Preto hoje está dentro da normalidade do mercado. Eu percebo que a cada cinco, seis, talvez sete pontos de rua, normalmente você vai ter um fechado, mas isso faz parte do mercado também porque sempre teve isso. Então eu não acho que hoje exista um exagero no Barro Preto porque tem toda a questão digital, eu acho que é muito entendível que em geral as empresas têm menos pontos comerciais e muito mais atendimento digital”, analisa.
Amanhã a gente encerra esta série especial de reportagens contando a história de dois nomes mineiros que marcaram época na MPB e moraram no Barro Preto.
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