A reportagem desta sexta-feira (31), começa longe do Barro Preto, mas nem tanto. São apenas sete quilômetros que separam o polo da moda de BH do bairro João Pinheiro, região oeste de Belo Horizonte, onde fica a fábrica de roupas da empresa Cláudia Rabelo Jeans.
Já
Máquinas de última geração moldam as roupas que vão pras lojas da empresa, e acabam vestindo mulheres em toda Minas Gerais e em vários estados do país.
Um dos dos sócios, Fernando Rabelo, de 47 anos, detalha a rotina de trabalho na fábrica.
“Nossa rotina é o horário normal de fábrica, de segunda a sexta. São as 44 horas semanais, 90 funcionários diretos, mas a gente ainda tem os indiretos. Hoje a gente está produzindo em torno de 20 mil peças no mês. A gente tem a nossa produção de jeans e moda. E a gente revende esses produtos no Barro Preto, através das nossas prontas entregas, e temos também o nosso canal de representação que a gente vende pro Brasil, também através dos representantes. Na maioria dos estados do Brasil, a gente tem lojistas que revendem nosso produto.”
Andando pelos corredores, desviando das máquinas e aprendendo detalhes da produção das roupas, a gente encontra a costureira Joseane de Assis, de 38 anos. Ela é costureira há 13 anos.
“Eu vim do interior, né? Eu falo que eu caí meio de paraquedas, mas tem um pouquinho da minha mãe aí no fundo da história. Eu gosto de ser costureira, eu entrei e não sai mais, fui pegando gosto”, conefessa.
E sobre os equipamentos, ela diz que é bem distante daquela que muitas pessoas tem em casa.
“Hoje eu tô trabalhando com a industrializada especializada em jeans, né? Mas as eletrônicas que estão no mercado aí hoje em dia é vida. Eu fico com preguiça de ligar a minha lá em casa. A que você tem em casa é um pouco mais modesta. É industrial, mas não é eletrônica, né? Então depois que você pega essas eletrônicas aí, digital, você encanta.”
Joseane é da cidade de Raul Soares, na zona da mata – distante 240 quilômetros de BH. Ao contrário de muitas famílias, onde o ofício passa de geração em geração, na casa dela as filhas não tem interesse na profissão de costureira.
“Olha, a mais novinha, de 9 anos, eu tenho certeza que não, porque ela já é toda digitalizada, digamos assim, já tem uma visão que você vê que não tem nada a ver (com a profissão de costureira). A de 16, ela andou até pegando na máquina, mas ela não tem muita paciência, então eu acho que não vai render. Eu acho que o mercado de trabalho ampliou muito, e hoje a juventude quer trabalhar mais na área digital”, avalia Joseane.
A falta de profissionais na costura também é percebida por Taciana Teodoro, diretora de eventos da Associação Comercial do Barro Preto e responsável pelo
“Tem realmente uma mão de obra necessitada neste momento de pessoas que fazem esse trabalho. E é um trabalho muito bonito, né? Uma roupa, um corte, uma costura, e isso, de fato, se não for um profissional muito engajado, com muito amor, não sai. Pode ser o desenho mais lindo, o croqui mais maravilhoso, que se ele não tiver uma costura muito bem feita, ele não sai. E tem coisas que máquinas não fazem. Tem que ser realmente essas mãos aí de fada que essas costureiras têm.”
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Oportunidade
O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), ligado a Federação do Comércio de Minas Gerais (FECOMERCIO/MG), revela diagnóstico de ausência de costureiras no mercado.
“A dificuldade em encontrar profissionais como costureiras se dá por diversos fatores. Falta de qualificação voltada para o mercado, automação e novas tecnologias no mercado, envelhecimento da população”, afirma Joaquim Gonçalves, diretor-geral do Senac em Minas Gerais.
A analista do Sebrae e especialista em moda Kênia Cardoso corrobora o cenário. “A falra de mão de obra qualificada não é um fenônemo novo no país. Diariamente a gente recebe empresários com essas queixas”, afirma. “Hoje temos exemplo de muitas mães que são costureiras e seus filhos fazem outro tipo de formação, migrando pra área de tecnologia. Isso também favorece a falta de mão de obra”, conclui Kênia.
Diante disso, o Senac colocou em prática no ano passado iniciativas para capacitar profissionais que desejam seguir no ramo da moda. “Desde que reabrimos o curso de moda no meio do ano passado, na nossa unidade da (Rua dos) Goitacazes, temos verificado que quem busca esses cursos tem um perfil muito variado e muito diverso dos estudantes. Idades muito variadas, pessoas que já atuam na área, pessoas que estão buscando aperfeiçoamento e aquelas que iniciam a sua profissão. Em 2025, o sistema Fecomércio MG disponibiliza 4.549 vagas gratuitas em 70 municípios mineiros”.
Sábado é dia de ir as compras, por isso amanhã a Itatiaia leva você até as lojas de varejo no Barro Preto, pra saber o que as pessoas tão comprando e quais as estratégias dos vendedores.