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Ministério Público denuncia PM que matou dois irmãos durante cavalgada em Esmeraldas, na Grande BH

Órgão pede à Justiça a condenação do militar e o pagamento de R$ 200 mil a família da vítima; PM alega que uma das vítimas teria tentado dar um golpe de canivete no soldado

Rafael Francisco Vieira e Branio José Vieira foram mortos por um policial militar

O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) denunciou um policial militar por matar dois irmãos durante uma cavalgada, na Comunidade de São José, em Esmeraldas, na Grande BH, em março de 2024. A morte de Rafael Francisco Vieira da Silva, de 27 anos, e Branio José Vieira da Silva, de 29, causou comoção e protestos na época.

Nesta terça-feira (14), o MP anunciou que denunciou o militar por duplo homicídio qualificado, mediante recurso que dificultou a defesa da vítima e com emprego de arma de fogo de uso restrito. A denúncia foi encaminhada a Justiça, que ainda vai definir se irá aceitá-la.

Além de requerer a condenação do militar, o MP pediu que a Justiça determine que o policial pague R$ 200 mil de indenização aos familiares das vítimas. A quantia seria para custear os gastos com deslocamento, velório e funeral, além de ressarcir a família pelos danos morais.

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Segundo a denúncia, o militar efetuou os disparos durante uma confusão entre as pessoas que estavam na cavalgada e a Polícia Militar. O MP afirma que os irmãos foram baleados na frente das esposas e dos filhos, e que teriam sido socorridos pelos PMs sem os cuidados necessários.

“As apurações apontaram que um dos homens morreu a caminho do hospital, enquanto o outro faleceu após ser hospitalizado”, informou o órgão.

Relembre o crime

Rafael Francisco Vieira da Silva, de 27 anos, e Branio José Vieira da Silva, de 29, foram mortos durante uma festa que celebra o padroeiro da cidade, na noite do dia 10 de março do ano passado.

De acordo com a Polícia Militar, os agentes tentavam separar a confusão quando uma das vítimas agrediu um militar com um canivete no pescoço. Para se defender, na versão da corporação, o colega atirou nos dois homens. Eles foram socorridos pela polícia para o Hospital Municipal 25 de Maio, mas não resistiram.

No entanto, a versão dos familiares das vítimas e moradores de Esmeraldas é diferente. Segundo uma testemunha, o soldado responsável pelos disparos atirou no peito Rafael quando a vítima já estava rendida por outro militar, no chão. Ainda de acordo com a testemunha, Branio foi morto pelas costas.

Familiares questionam versão da PM

O tio das vítimas disse que os irmãos eram trabalhadores, pais de dois filhos pequenos e bastante queridos na região. Segundo o homem, a versão dada pela PM não seria verdadeira.

“Eles não tinham fama de briga, pode perguntar para o pessoal. Muita gente aí vai falar como eram os meninos. Todo mundo tá assustado, até gente não é da família. Foi covardia. Dizem que o problema era de uma outra pessoa, eles foram entrar no meio e aí aconteceu o que aconteceu”, completou.

O homem rebateu a versão da PM, de que um dos sobrinhos teria tentado atingir um policial com golpe de canivete no pescoço. “Isso é eles que estão inventando, sô. Eles vão falar que fizeram por querer?”.

Após a morte de Rafael e Branio, a comunidade local se revoltou. “O ato, marcado pela violência extrema e pelo completo desrespeito à vida humana, deixou a comunidade em luto e indignação”, escreveram nas redes sociais.

No dia seguinte ao assassinato dos jovens, manifestantes fecharam a MG-60, que liga Esmeraldas (Grande BH) a Pará de Minas (Centro-Oeste), e atearam fogo em pneus e em um ônibus metropolitano como protesto. “Para quem ligar quando o assassino é a polícia?”, dizia um dos cartazes. A manifestação terminou em confusão e uma pessoa ficou baleada.


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Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.