A Justiça marcou a data da primeira audiência de instrução e julgamento do bombeiro militar Naire Assis Ribeiro, de 61 anos, réu pelo assassinato do policial penal Wallysson Alves dos Santos Guedes, morto a tiros em um bar do bairro Santa Tereza, na região Leste de Belo Horizonte, em fevereiro de 2024. Além ser indiciado por homicídio triplamente qualificado, o bombeiro também foi apontado como autor do crime de racismo, já que teria matado Wallysson por ‘revolta’ ao descobrir que ele, um homem negro, era policial (relembre o caso no fim da matéria).
A audiência foi marcada para a tarde de 14 de junho. A audiência de instrução é a primeira etapa de um julgamento, em que as partes apresentam provas e argumentam diante do juiz. Além disso, testemunhas são ouvidas e debates para esclarecimento de fatos podem ocorrer. Para esta primeira audiência, foram convocadas as testemunhas envolvidas no caso, além do próprio acusado, que deve participar de forma virtual. Um policial civil aposentado que foi testemunha do crime também foi intimado a participar.
Em nota enviada à Itatiaia, o advogado Audrey Silveira afirmou que vai provar que os fatos narrados na denúncia não são verdadeiros. ‘É de se salientar que nenhuma testemunha ouvida no inquérito incriminou Naire. É absurda a acusação de racismo ser o motivo do crime. Naire é negro e é casado com uma mulher negra. Ele ligou para o 190, dizendo que a vítima estava em um bar, muito embriagado, com uma arma de fogo a vista de todos. A atendente pediu pata Naire descrever esta pessoa e ele respondeu que era um homem negro. A atendente disse: a primeira coisa que você vê em uma pessoa é que ela é negra? Só isto. A vítima estava tão embriagada que sua fala estava estranha, levando Naire e outras testemunhas a acreditar que ele falava com sotaque, por isto ele diz no 190 que tratava-se de pessoa estrangeira, de um haitiano. Por isto não poderia ser um policial’.
Acusação de racismo
Na ligação feita por
- Naire: ‘eu sou subtenente, eu tô com uma pessoa aqui falando que é militar aqui, eu acho que ele é haitiano, se identificando como militar, eu queria é…’
- 190: ‘Mas o que ele está fazendo?’
Naire: ‘se identificando como militar e ele não é militar’
- 190: ‘Entendi, mas e aí senhor? Ele está mostrando distintivo? Ele está cometendo algum crime? Ele está fazendo algum mal para as pessoas?’
- Naire: ‘Oh minha querida, ele tá identificando como militar e ele não é militar, entendeu?’
Pouco depois, a atendente pediu para o bombeiro passar as características do policial. Naire voltou a fazer comentários racistas:
- 190: ‘Qual característica do indivíduo, senhor?’
- Naire: ‘É negro’
- 190: ‘A única característica que o senhor está me dizendo é que ele é negro?’
- Naire: ‘Lógico, ele é haitiano’
- 190: ‘Mas e aí senhor? Qual é o problema dele ser negro, haitiano? Eu não estou conseguindo entender’
Por fim, Naire voltou a afirmar que Wallysson não poderia ser policial e pediu para que uma viatura fosse até o local. A atendente disse que acionaria o supervisor. Pouco depois, segundo o Ministério Público, o bombeiro voltou ao bar armado e alvejou Wallysson, atingindo principalmente o tórax do policial penal.
Relembre o caso
A Polícia Militar (PM) foi acionada na rua Tenente Freitas, 258, e encontrou a vítima sangrando muito e ainda respirando. O policial penal foi socorrido para o Hospital João XXIII, passou por cirurgia, mas não resistiu e acabou morrendo.
Testemunhas contaram à corporação que o policial e o bombeiro estavam bebendo juntos e que, em determinado momento, o bombeiro questionou o policial penal sobre o porquê dele estar armado. Assim, teria se iniciado uma discussão entre os dois.
Ainda conforme o relato de quem estava lá, o bombeiro saiu, foi em casa, buscou o revólver e atirou diversas vezes no policial penal, fugindo de moto logo em seguida. Contudo, os militares encontraram o suspeito. Ele foi preso e o revólver calibre 38. apreendido.