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‘Mas ele é negro': bombeiro que matou policial em BH também é denunciado por racismo

Ministério Público afirma que Naire Assis Ribeiro ficou revoltado ao saber que Wallysson Guedes era policial penal; bombeiro chegou a acionar a Polícia Militar e chamar Wallysson de ‘haitiano’ em ligação ao 190

Naire Assis Ribeiro foi denunciado pela execução do policial penal Wallysson Alves dos Santos Guedes

O bombeiro militar Naire Assis Ribeiro, acusado de matar o policial penal Wallysson Alves dos Santos Guedes em um bar no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, em fevereiro de 2024, foi denunciado pelo Ministério Público não só por homicídio triplamente qualificado, mas também por racismo. O registro da ligação do autor do crime para a Polícia Militar foi crucial para que essa denúncia fosse feita.

Na ligação feita por Naire para o 190, o bombeiro tenta denunciar o fato de que Wallysson, um homem negro, estava armado no bar na região Leste da capital mineira e se identificando como policial penal. No diálogo, ele demonstra não conseguir acreditar que a vítima, um homem negro, poderia ser agente de segurança.

- Naire: ‘eu sou subtenente, eu tô com uma pessoa aqui falando que é militar aqui, eu acho que ele é haitiano, se identificando como militar, eu queria é…’
- 190: ‘Mas o que ele está fazendo?’
Naire: ‘se identificando como militar e ele não é militar’
- 190: ‘Entendi, mas e aí senhor? Ele está mostrando distintivo? Ele está cometendo algum crime? Ele está fazendo algum mal para as pessoas?’
- Naire: ‘Oh minha querida, ele tá identificando como militar e ele não é militar, entendeu?’

Pouco depois, a atendente pediu para o bombeiro passar as características do policial. Naire voltou a fazer comentários racistas:

- 190: ‘Qual característica do indivíduo, senhor?’
- Naire: ‘É negro’
- 190: ‘A única característica que o senhor está me dizendo é que ele é negro?’
- Naire: ‘Lógico, ele é haitiano’
- 190: ‘Mas e aí senhor? Qual é o problema dele ser negro, haitiano? Eu não estou conseguindo entender’

Por fim, Naire voltou a afirmar que Wallysson não poderia ser policial e pediu para que uma viatura fosse até o local. A atendente disse que acionaria o supervisor. Pouco depois, segundo o Ministério Público, o bombeiro voltou ao bar armado e alvejou Wallysson, atingindo principalmente o tórax do policial penal.

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Relembre o caso

A Polícia Militar (PM) foi acionada na rua Tenente Freitas, 258, e encontrou a vítima sangrando muito e ainda respirando. O policial penal foi socorrido para o Hospital João XXIII, passou por cirurgia, mas não resistiu e acabou morrendo.

Testemunhas contaram à corporação que o policial e o bombeiro estavam bebendo juntos e que, em determinado momento, o bombeiro questionou o policial penal sobre o porquê dele estar armado. Assim, teria se iniciado uma discussão entre os dois.

Ainda conforme o relato de quem estava lá, o bombeiro saiu, foi em casa, buscou o revólver e atirou diversas vezes no policial penal, fugindo de moto logo em seguida. Contudo, os militares encontraram o suspeito. Ele foi preso e o revólver calibre 38. apreendido.

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Repórter policial e investigativo, apresentador do Itatiaia Patrulha.
Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.