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Gari morto em BH: por que suspeito não fez exame toxicológico

Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, foi preso nessa segunda (11), em uma academia da Oeste de BH

Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, foi preso em uma academia, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, horas após o crime

A Polícia Civil (PC) concedeu entrevista coletiva, na tarde desta terça-feira (12), para tratar do assassinato do gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, morto na manhã dessa segunda-feira (11), no bairro Vista Alegre, região Oeste de Belo Horizonte. Entre os temas abordados, esteve a razão da não-realização do exame toxicológico no principal suspeito do crime, o empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, que está preso. Segundo testemunhas, ele estaria “muito alterado” no momento do crime.

“A gente ouviu as testemunhas, que eram coletores de lixo, e todos foram uníssonos em afirmar que o autor estava muito alterado. Eles pediram paciência para ele, porque era uma rua estreita e tinha carros estacionados nos dois lados da via, e o autor não quis esperar. Começou a esbravejar. A motorista manobrou o caminhão, eles pediram para ele passar, ele passou, e todos foram uníssonos em afirmar que ele estava muito alterado”, iniciou o delegado Matheus Moraes.

O policial civil continuou:

“A hora que ele passou o caminhão, freou o carro bruscamente, voltou, deu um golpe na arma, o carregador caiu, ele reinseriu o carregador, apontou para a vítima e disparou. E foi embora caminhando de forma tranquila, mas com aquele semblante de bravo. Ele não estava normal nessa questão”, acrescentou.

Apesar das declarações das testemunhas, a PC entendeu que a realização do exame toxicológico não era necessária em um primeiro momento.

“Eles disseram que ele estava nervoso em razão da questão do trânsito. Ele não apresentava sinais de embriaguez ou entorpecimento. A gente conversou com ele no momento em que chegou, interrogamos posteriormente. É uma pessoa articulada, fala bem, apresentou sua versão dos fatos. Então, neste momento preliminar, não achamos necessário fazer nenhum tipo exame toxicológico”, apontou o delegado.

Porém, Moraes ressaltou que nada impede que um exame seja pedido posteriormente, já que as substâncias permanecem no organismo por meses.

“O exame toxicológico detecta a presença de substâncias químicas três, seis meses depois. Então, se a gente verificar a necessidade desse exame, a gente vai fazer no curso do procedimento”, afirmou.

Polícia diz ter elementos que confirmam autoria do crime

A Polícia Civil (PC) confirma, de forma preliminar, que foi o empresário Renê Júnior quem matou o gari Laudemir de Souza Fernandes.

“Em sede preliminar nós podemos confirmar, com os elementos que temos de prova, até então, a autoria do fato. Tanto é que ratificamos a prisão e representamos pela conversão em prisão preventiva”, afirmou o delegado Evandro Radaelli, que investiga o caso.

Veja o vídeo:

Ainda de acordo com a PC, todas as provas coletadas indicam a autoria de Renê: testemunhas o reconheceram, trajeto do carro, placa do veículo identificada, evidências que, cruzadas, apontavam somente para o empresário.

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O crime

Segundo testemunhas, a situação teria começado quando Renê Júnior se irritou com o fato do caminhão de lixo, que estava em serviço, estar ocupando parte da rua e atrapalhando sua passagem.

A situação irritou o empresário, que teria iniciado ameaças aos profissionais, começando com a motorista do caminhão. Ivanildo Lopes, sócio-proprietário da empresa de limpeza urbana em que Laudemir de Souza Fernandes, contou à Itatiaia que o suspeito colocou um revólver no rosto da mulher antes de disparar contra o gari, que deixa uma filha.

“A motorista disse que a rua é larga, que ela encostou o caminhão um pouco e pediu para o rapaz, que estava em um BYD grande, passar. Só que ele já tirou o revólver, colocou na cara dela e falou que, se ela encostasse no carro dele, iria matar todo mundo”, contou o empresário.

Os garis pediram “pelo amor de Deus” para que o condutor não atirasse, mas não adiantou. “O carro já tinha passado. Aí ele saiu do carro, deu um tiro e acertou o abdômen desse gari. Ele foi socorrido para o hospital Santa Rita, mas faleceu. Agora é tentar, através de imagens de câmeras, localizar a pessoa. Coisa bárbara. A gente nunca viu uma situação dessas. Muito triste”, lamentou.

“Não houve discussão”

Ivanildo Lopes contou que disponibilizou os advogados de sua empresa para atuarem no caso e garantiu que não houve uma briga de trânsito. Segundo ele, Laudemir tentou apaziguar a situação. De acordo com testemunhas, antes do disparo, o suspeito teria apontado a arma para a motorista do caminhão.

“O Laudenir era uma pessoa de coração gigante. Ele tentou apaziguar a situação. Aconteceu toda essa crueldade de maneira muito triste. Não precisava de discussão. A motorista do caminhão era uma mulher, uma mulher tranquila, que anda pela Cabana e todo mundo conhece ela. Todo mundo ama ela. Não é uma pessoa de discutir. Foi uma fatalidade de uma pessoa que, pra mim, não estava normal”, declarou o empresário.

Lopes afirmou, ainda, que as ameaças se deram por motivo fútil.

“Ele falou que se arranhasse o carro dele, ele iria atirar em todo mundo. Aí depois parece que ele foi para frente, volta e dá um tiro do nada. Foi um negócio sem pé e nem cabeça”, desabafou.

Enterro

O corpo de Laudemir de Souza Fernandes foi enterrado na tarde desta terça-feira (12) no Cemitério Glória, em Contagem, na Grande BH.

A família dele pede por Justiça e prestou homenagem ao trabalhador durante velório na Igreja Quadrangular, no bairro Nova Contagem, na Grande BH. A enteada de Laudemir, Jéssica França, contou como receberam a notícia e falou sobre a revolta da família.

Vestindo o uniforme laranja que o padrasto utilizava todos os dias, Jéssica fez questão de lembrar o quanto ele amava a profissão. “O Lau era muito feliz no que fazia. Inclusive, ele estava em um processo de transição para trabalhar na portaria, mas não quis. Gostava demais de ser gari. Talvez, se tivesse aceitado, hoje estaria aqui. Mas ele morreu fazendo o que gostava”, disse, emocionada.

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Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.
Cursou jornalismo no Unileste - Centro Universitário Católica do Leste de Minas Gerais. Em 2009, começou a estagiar na Rádio Itatiaia do Vale do Aço, fazendo a cobertura de cidades. Em 2012 se mudou para a Itatiaia Belo Horizonte. Na rádio de Minas, faz parte do time de cobertura policial - sua grande paixão - e integra a equipe do programa ‘Observatório Feminino’.
Repórter policial e investigativo, apresentador do Itatiaia Patrulha.
Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.
Alex Araújo é formado em Jornalismo e Relações Públicas pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) e tem pós-graduação em Comunicação e Gestão Empresarial pela Universidade Pontifícia Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Já trabalhou em agência de publicidade, assessoria de imprensa, universidade, jornal Hoje em Dia e portal G1, onde permaneceu por quase 15 anos.