A família do gari
Vestindo o uniforme laranja que o padrasto utilizava todos os dias, Jéssica fez questão de lembrar o quanto ele amava a profissão. “O Lau era muito feliz no que fazia. Inclusive, ele estava em um processo de transição para trabalhar na portaria, mas não quis. Gostava demais de ser gari. Talvez, se tivesse aceitado, hoje estaria aqui. Mas ele morreu fazendo o que gostava”, disse, emocionada.
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Segundo Jéssica, a notícia da morte chegou de forma abrupta. “Primeiro, alguém falou que ele tinha se machucado. Na hora, o coração já apertou. Depois, vimos que não era isso. Quando recebi a notícia, já estava no jornal, todo mundo já sabia”, contou.
“O racismo estrutural já existe contra um preto que está trabalhando, e vem um playboy e tira a vida dele. Isso resume o que aconteceu. Como uma pessoa anda armada se a profissão dela não exige porte de arma? Ele simplesmente saca e atira em um trabalhador. E aí, um homem extremamente perigoso sai do local com o rosto tampado. O rosto do Laudemir está em todos os lugares, e o do bandido a gente viu quantas vezes? Esse homem é um bandido. Ele é o assassino”, declarou.
Jéssica pontua também que a sensação é de impotência. “Não foi surpresa para ninguém ele ter sido levado daquela forma. E, se a impunidade acontecer, também não vai ser surpresa. Mas a nossa parte a gente vai fazer, vamos correr atrás de Justiça.”
Laudemir está sendo velado nesta terça-feira (12) na Igreja Quadrangular do bairro Nova Contagem, em Contagem, na Grande BH.
Segundo a família, a brutalidade do crime deixa todos desolados. “Foi covarde, ele não merecia isso. Está muito difícil. O que mais revolta é a banalidade e a injustiça. Ele estava trabalhando, saiu cedo para fazer seu serviço. Um homem honesto, sem motivo algum para ser atacado”, lamentou.
Ainda de acordo com a jovem, o padrasto era protetor e gostava de agradar a todos. Uma viagem em família estava sendo programada antes de Laudemir ser assassinado.
“Ele era uma pessoa protetora, estava planejando uma viagem para a praia com a família, que agora não vai acontecer. Gostava de agradar todo mundo, cuidava da gente”, disse.
O crime
A reportagem tentou falar com a defesa do suspeito no DHPP, na noite dessa segunda-feira (11), mas os advogados recusaram. O espaço segue aberto.
Em nota, a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) lamentou o “falecimento do gari e destacou que ele estava trabalhando quando foi assassinado”.
O dono da empresa terceirizada da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) contou à Itatiaia que o suspeito colocou um revólver no rosto da motorista antes de disparar contra o gari, que deixa uma filha.
“A motorista disse que a rua é larga, que ela encostou o caminhão um pouco e pediu para o rapaz, que estava em um BYD grande, passar. Só que ele já tirou o revólver, colocou na cara dela e falou que, se ela encostasse no carro dele, iria matar todo mundo”, contou o dono, que não será identificado.
Gari chegou a ser socorrido , mas não resistiu
Os garis pediram “pelo amor de Deus” para que o condutor não atirasse, mas não adiantou. “O carro já tinha passado. Aí ele saiu do carro, deu um tiro e acertou o abdômen desse gari. Ele foi socorrido para o hospital Santa Rita, mas faleceu. Agora é tentar, através de imagens de câmeras, localizar a pessoa. Coisa bárbara. A gente nunca viu uma situação dessas. Muito triste”, lamentou.