A conduta da delegada esposa do empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, 47 anos, que
“A delegada foi levada até a sede da corregedoria, ouvida, e na oportunidade também foram arrecadadas, na casa da servidora, duas armas de fogo: uma arma de fogo de uso particular e a arma de fogo da corporação. Essa arma de fogo de uso particular está vinculada e apreendida aos autos do inquérito policial, que investiga o crime de homicídio.
E a arma institucional está vinculada ao inquérito policial que foi instaurado na Corregedoria para apuração de eventual infração por parte da servidora. Ela foi ouvida e disse, em um primeiro momento, que seu esposo não tinha acesso a esse armamento e que, portanto, desconhecia qualquer tipo de envolvimento dele em prática criminosa”, afirmou o delegado Saulo Castro, da PC.
Castro relatou, ainda, que a investigação está em fase inicial e que foi instaurado um procedimento administrativo disciplinar correcional. Segundo ele, se eventualment for demonstrada qualquer tipo de responsabilidade, a servidora será devidamente penalizada em âmbito correcional.
“Ao término das investigações desse inquérito policial na corregedoria, eventual responsabilidade causará eventual indiciamento e encaminhamento desse procedimento ao Poder Judiciário e Ministério Público”, afirmou o delegado, reforçando, em seguida, o caráter imparcial da corregedoria e da investigação do homicídio.
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Delegada segue na função
Questionado se a delegada segue ocupando sua função, Saulo Castro confirmou.
“Ela segue à disposição da administração pública, segue em sua função regular, porque até o presente momento não existe nenhuma indicação da Corregedoria para afastamento, tampouco ordem judicial nesse sentido”, afirmou ele.
Segundo Castro, a delegada alegou não ter conhecimento de qualquer eventual participação do marido em um crime e que só tomou conhecimento após ser procurada pela polícia.
E se a arma da delegada for a mesma utilizada no crime?
De acordo com a Polícia Civil, a arma entregue pela delegada esposa do suspeito foi recolhida e enviada à perícia e, em cerca de dez dias, o laudo ficará pronto. A partir daí, será possível saber se trata-se do armamento utilizado no crime. Foi dito, ainda, que Renê afirmou não possuir porte de arma, fato que será checado junto à Polícia Federal.
Questionado se a delegada pode ser responsabilizada caso se confirme que a arma dela foi a utilizada no crime, o delegado Saulo Castro pregou cautela.
“É muito cedo para falarmos sobre isso. O estatuto disciplinar da Polícia Civil tem uma série de possíveis penalidades e, claro, dentro da legalidade, respeitado o devido processo administrativo, as penalidades variam entre uma repreensão e até uma demissão”, esclareceu Castro.
O delegado Álvaro Huertas tratou de ressaltar, ainda, que “o fato de uma arma de fogo estar em nome de uma pessoa não necessariamente a coloca como co-autora de um crime de homicídio”. Isso acontece apenas se houver indicação de participação ou autorização de utilização do armamento.
“Não temos nenhum indício coletado, pelo menos na parte criminal, de participação da delegada neste crime”, afirmou Huertas.
“Iremos verificar se houve alguma permissibilidade da delegada para o suspeito estar com aquela arma ou se ele pegou a arma sem o seu conhecimento”, acrescentou o delegado.
Polícia diz ter elementos que confirmam autoria do crime
A Polícia Civil (PC) confirma, de forma preliminar, que foi o empresário Renê Júnior quem
“Em sede preliminar nós podemos confirmar, com os elementos que temos de prova, até então, a autoria do fato. Tanto é que ratificamos a prisão e representamos pela conversão em prisão preventiva”, afirmou o delegado Evandro Radaelli, que investiga o caso.
Veja o vídeo:
AUTORIA DO CRIME | A Polícia Civil (PC) confirma, de forma preliminar, que foi o empresário Renê Júnior, de 47 anos, quem matou o gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44, nessa segunda-feira (11), no bairro Vista Alegre, na região Oeste de Belo Horizonte. A declaração foi dada em… pic.twitter.com/cTwFUXlTAX
— Itatiaia (@itatiaia) August 12, 2025
Ainda de acordo com a PC, todas as provas coletadas indicam a autoria de Renê: testemunhas o reconheceram, trajeto do carro, placa do veículo identificada, evidências que, cruzadas, apontavam somente para o empresário.
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O crime
Segundo testemunhas, a situação teria começado quando Renê Júnior se irritou com o fato do caminhão de lixo, que estava em serviço, estar ocupando parte da rua e atrapalhando sua passagem.
A situação irritou o empresário, que teria iniciado ameaças aos profissionais, começando com a motorista do caminhão. Ivanildo Lopes, sócio-proprietário da empresa de limpeza urbana em que Laudemir de Souza Fernandes, contou à Itatiaia que o suspeito colocou um revólver no rosto da mulher antes de disparar contra o gari, que deixa uma filha.
“A motorista disse que a rua é larga, que ela encostou o caminhão um pouco e pediu para o rapaz, que estava em um BYD grande, passar. Só que ele já tirou o revólver, colocou na cara dela e falou que, se ela encostasse no carro dele, iria matar todo mundo”, contou o empresário.
Os garis pediram “pelo amor de Deus” para que o condutor não atirasse, mas não adiantou. “O carro já tinha passado. Aí ele saiu do carro, deu um tiro e acertou o abdômen desse gari. Ele foi socorrido para o hospital Santa Rita, mas faleceu. Agora é tentar, através de imagens de câmeras, localizar a pessoa. Coisa bárbara. A gente nunca viu uma situação dessas. Muito triste”, lamentou.
“Não houve discussão”
Ivanildo Lopes contou que disponibilizou os advogados de sua empresa para atuarem no caso e garantiu que não houve uma briga de trânsito. Segundo ele, Laudemir tentou apaziguar a situação. De acordo com testemunhas, antes do disparo, o suspeito teria apontado a arma para a motorista do caminhão.
“O Laudenir era uma pessoa de coração gigante. Ele tentou apaziguar a situação. Aconteceu toda essa crueldade de maneira muito triste. Não precisava de discussão. A motorista do caminhão era uma mulher, uma mulher tranquila, que anda pela Cabana e todo mundo conhece ela. Todo mundo ama ela. Não é uma pessoa de discutir. Foi uma fatalidade de uma pessoa que, pra mim, não estava normal”, declarou o empresário.
Lopes afirmou, ainda, que as ameaças se deram por motivo fútil.
“Ele falou que se arranhasse o carro dele, ele iria atirar em todo mundo. Aí depois parece que ele foi para frente, volta e dá um tiro do nada. Foi um negócio sem pé e nem cabeça”, desabafou.
Enterro
O corpo de Laudemir de Souza Fernandes
Vestindo o uniforme laranja que o padrasto utilizava todos os dias, Jéssica fez questão de lembrar o quanto ele amava a profissão. “O Lau era muito feliz no que fazia. Inclusive, ele estava em um processo de transição para trabalhar na portaria, mas não quis. Gostava demais de ser gari. Talvez, se tivesse aceitado, hoje estaria aqui. Mas ele morreu fazendo o que gostava”, disse, emocionada.