Caso Alice: fotos mostram hematomas pelo corpo de mulher trans que morreu espancada em BH

Alice Martins, de 33 anos, morreu no dia 9 de novembro devido a uma perfuração no intestino e a complicações das agressões; funcionários do Rei do Pastel são suspeitos e ainda não foram presos

Caso Alice: fotos mostram hematomas pelo corpo de mulher trans que morreu espancada em BH

Novas imagens obtidas pela reportagem da Itatiaia nesta quarta-feira (26), mostram os hematomas pelo corpo de Alice Martins Alves, mulher trans de 33 anos, brutalmente agredida por dois funcionários do bar Rei do Pastel, uma tradicional pastelaria localizada na Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. As fotos mostram como Alice ficou após o espancamento, que aconteceu quando ela deixava o bar. Nas imagens, ela aparece com diversos ferimentos nos joelhos e também com um corte no nariz. Alice morreu no dia 9 de novembro devido a uma perfuração no intestino e complicações das agressões, segundo a polícia.

Alice Martins Alves chegou a ficar internada por 18 dias após as agressões que ocorreram na quinta-feira (23) de outubro. Segundo as investigações, no dia da agressão, ela foi atendida em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e liberada. Em casa, continuou sentindo fortes dores e voltou a procurar ajuda no dia 26 de outubro, em um hospital particular de Contagem, na Grande BH. Exames apontaram costelas quebradas e outras lesões graves.

A polícia também revelou que, com o passar dos dias, o estado de saúde de Alice piorou. Ela perdeu cerca de 10 kg, teve dificuldade para se alimentar e sentia dores intensas. No dia 8 de novembro, uma nova internação identificou uma perfuração no intestino, causada pelas agressões. Alice morreu um dia depois, em um hospital particular de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Os dois funcionários do Rei do Pastel são os principais suspeitos de terem cometido o crime brutal. Eles já foram identificados, mas ainda não foram presos.

Câmera de segurança registrou pedido de ‘socorro’

Imagens de câmera de segurança obtidas pela Itatiaia nessa terça-feira (25) registraram o pedido de socorro de Alice durante as agressões sofridas. No registro, ela grita por socorro diversas vezes. Em determinado momento, um dos agressores diz: “Você vai pagar o trem? Vai ou não vai?”. Depois, o motociclista Lauro César Gonçalves Pereira, de 32 anos, interrompe as agressões que, posteriormente, causariam a morte de Alice.

Segundo Lauro, ele foi ameaçado pelos autores do crime quando parou para ajudar.

“Tentaram me oprimir lá, mas ‘nós é motoboy, nós não corre do couro’, não. Podia apanhar, mas não ‘dava nada não’”, afirmou ele, antes de prestar depoimento Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil (DHPP), nessa terça.

Lauro César contou também que chegou a dizer que pagaria a conta que os agressores afirmavam que Alice não tinha quitado, no valor de R$ 22.

“Eu falei assim: ‘Qual é o motivo de vocês terem feito isso com ela?’ ‘É que roubou, agora você vai ficar coitando safada?’ Eu falei: ‘Não, quanto que é?’ Aí ele falou: ‘R$ 22, não sei o que. Você vai pagar então?’ Aí no primeiro momento eu falei que ia pagar, só que eles continuaram gritando, xingando.

Aí acabou que eu apelei com eles também e falei: ‘Oh, velho, o que vocês quiserem aí, é isso mesmo. Só não encosta mais a mão nela, olha que vocês fizeram com a moça aí, não tem nada a ver, só porque que ela fez uma parada. Por que vocês não chamam a polícia?’”, relatou ele, responsável por chamar a polícia que passava no momento das agressões.

Alice foi perseguida, intimidada e agredida por suposta dívida de R$ 22

Em coletiva, a delegada do Núcleo de Feminicídio do DHPP, Iara França, informou que o caso passou a ser investigado como homicídio e feminicídio, após a morte de Alice por complicações das agressões.

Naquele dia, Alice havia sido incentivada pela família a sair para se distrair. Conforme as investigações, ela esteve em outro bar antes de chegar ao Rei do Pastel, próximo de onde as agressões ocorreram. Após consumir bebida alcoólica, levantou-se e foi embora, sem pagar uma conta de R$ 22, comportamento que, segundo a Polícia Civil, já havia ocorrido outras vezes, sem gerar problemas no estabelecimento.

Mesmo assim, dois funcionários decidiram persegui-la. Também foi revelado que Alice havia pedido um carro de aplicativo e informado ao pai que estava indo para casa, antes de sofrer as agressões.

A Itatiaia obteve acesso a um áudio vazado onde é dito que Alice foi espancada pela suposta conta de R$ 22 não paga. Ouça:

Medo de registrar Boletim de Ocorrência

Ainda conforme a delegada responsável pelo caso, Alice só conseguiu registrar o Boletim de Ocorrência no dia 5 de novembro, acompanhada do pai. Ela demorou por vergonha e medo. “Ela tinha receio dos autores e revelou esse medo no depoimento”, afirmou a delegada Iara França.

“Ela (Alice), mediante essa vergonha, mediante o medo de não ser devidamente acolhida pelas instituições, e é um local (pastelaria) que ela já frequentava, que esses funcionários já conheciam, ela não descreve exatamente como são esses funcionários”, explicou.

Vítima de preconceito

Segundo a PC, Alice era conhecida na região onde foi assassinada e relatava sofrer olhares preconceituosos.

“Ela conhecia as pessoas ali, e ela já havia revelado que ela sentia um certo preconceito de algumas pessoas, alguns olhares maldosos, alguns olhares preconceituosos”, reveloua delegada Iara França.

Rei do Pastel se manifestou

O bar “Rei do Pastel” se manifestou nas redes sociais pela primeira vez, nesta sexta-feira (14), através do perfil @reidopasteloficial, no Instagram.

Leia a nota oficial divulgada na íntegra clicando aqui.

Investigação segue sob sigilo

O caso foi encaminhado ao Departamento de Feminicídios no dia 10 de novembro e segue sob sigilo. A PCMG informou que medidas cautelares já foram solicitadas e cumpridas, mas não detalhou quais, já que os investigados estão em liberdade.

A Polícia Civil lembrou que Alice passou por exame de corpo de delito em vida, no dia 5 de novembro, e a perícia confirmou que a morte foi causada diretamente pelas agressões.

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), já trabalhou na Record TV e na Rede Minas. Atualmente é repórter multimídia e apresenta o ‘Tá Sabendo’ no Instagram da Itatiaia.
Repórter policial e investigativo, apresentador do Itatiaia Patrulha.

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