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Abilio Diniz: sequestro de empresário há 35 anos foi marco das eleições de 89

Bilionário morreu neste domingo (18), aos 87 anos; ele estava internado nas últimas duas semanas para tratar de uma infecção

Empresário Abilio Diniz morreu neste domingo (18)

Há quase 35 anos, o empresário Abilio Diniz foi sequestrado e permaneceu em cativeiro por seis dias. O caso ocorreu em 11 de dezembro de 1989. Abilio Diniz estava em seu carro, uma Mercedes-Benz, no bairro Jardim Europa, em São Paulo, dirigindo-se ao escritório do Grupo Pão de Açúcar, quando uma Caravan disfarçada de ambulância bloqueou o tráfego, nas esquinas das ruas Sabuji e Seridó, e levado pelos sequestradores até uma casa no bairro Jabaquara.

Os criminosos exigiram o pagamento de um resgate no valor US$ 30 milhões para a libertação do empresário. Mas o dinheiro não chegou a ser pago aos sequestradores, já que a polícia conseguiu encontrá-lo seis dias depois no cativeiro.

Em entrevista ao podcast Flow, em 2021, Diniz relembrou o episódio e disse que tinha certeza que iria morrer.

“Me colocaram nessa casa do Jabaquara [bairro de São Paulo] e tinha um buraco nesta casa, tipo um porão, e uma escadinha. E dentro deste porão eles construíram uma caixa, um caixote grande, e levaram para baixo, e me puseram dentro do caixote”, relembrou.

Ele disse que precisava fazer esforço para respirar, porque o ar de dentro do caixote vinha por meio de um cano e havia um ventilador do lado de fora. Ainda na mesma entrevista, Abílio Diniz contou que um amigo havia sido sequestrado recentemente e ficado em cativeiro durante 63 dias.

"[Pensava] que eu não iria aguentar ficar 63 dias, não sabia o que ia acontecer naquela altura. [Pensava] ‘Vou morrer, mas não sei como’. Se ia atacar o cara que entra aqui para falar comigo, se ia morrer de inanição. Não sabia o que iria acontecer”, afirmou.

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O sequestro durou seis dias. A polícia conseguiu localizar a Caravan abandonada no bairro do Morumbi junto com um cartão de uma oficina mecânica. A pista levou até o chilneo Pedro Segundo Solar Venega e, a partir dessa prisão, outras cinco pessoas foram identificadas e levaram os investigadores até um apartamento no bairro Jabaquara.

Na sequência, os policiais encontraram a casa no mesmo bairro, onde Diniz estava preso.

A ação de libertação durou 36 horas e o cativeiro foi estourado no dia 17 de dezembro de 1989, quando 10 homens - sendo quatro chilenos, três argentinos, dois canadenses e um brasileiro - se entregaram.

Conforme as investigações, os sequestradores pertenciam ao Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR) do Chile, e o resgate pretendido por eles deveria ser mandado para o movimento sandinista, na Nicarágua.

Sequestro foi marco das eleições

O sequestro de Abílio Diniz foi um marco da campanha à Presidência da República naquele ano, em que Fernando Collor de Mello (PRN) acabaria vencendo o pleito contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Isso porque um dos sequestradores estava com uma camisa do PT no dia em que se entregaram à polícia. Além disso, o governo paulista, chefiado por Paulo Maluf, disse ter encontrado material de campanha de Lula no apartamento onde estavam parte dos sequestradores.

O Partido dos Trabalhadores sempre repudiou a ligação com o sequestro e essa suposta ligação com os sequestradores foi desmentida nos dias que se seguiram, portanto, após as eleições e a divulgação do resultado, com a eleição de Collor.

Durante a campanha eleitoral de 2022, Lula relembrou o episódio e disse que pediu ao então presidente Fernando Henrique Cardoso que perdoasse a pena dos sequestradores - condenados a mais de 20 anos de prisão.

“Colocaram camiseta nos sequestradores do PT para dizer que o PT que tinha sequestrado o Abílio Diniz. Fui conversar com o FHC porque eles estavam em greve de fome e iriam entrar em greve seca e aí a morte seria certa”, disse durante um evento de campanha no Nordeste.

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Editor de política. Foi repórter no jornal O Tempo e no Portal R7 e atuou no Governo de Minas. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem MBA em Jornalismo de Dados pelo IDP.