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Empresa sul-coreana visita trabalho de melhoramento genético de soja convencional

Parceria busca desenvolver cultivares não transgênicas para tofu e derivados na Coreia do Sul

Visita foi realizada na Fazenda Dourados, do Grupo Recanto, em Paracatu, no Triângulo Mineiro

Representantes de uma empresa pública importadora de alimentos para a Coreia do Sul visitaram ensaios de Valor de Cultivo e Uso (VCU) de materiais de soja convencional da Embrapa conduzidos pela Embrapa Cerrados (DF) na última semana. A visita foi realizada na Fazenda Dourados, do Grupo Recanto, em Paracatu, no Triângulo Mineiro para conhecer o cultivo.

A Coreia do Sul consome atualmente cerca de 360 mil toneladas de soja por ano para uso alimentar. Em 2024, a Korea Agro-Fisheries & Food and Trade Corporation (aT) assinou um memorando de entendimento para estabelecer uma parceria com a Embrapa Cerrados e a Fundação Cerrados para o desenvolvimento de cultivares de soja não-transgênica de alto rendimento que sirvam de base na fabricação de produtos alimentícios, principalmente tofu, pasta de soja fermentada (doenjang) e leite de soja.

A empresa coreana tem importado os grãos dos Estados Unidos e agora quer diversificar os fornecedores. A Unidade enviou, inicialmente, grãos de cinco linhagens para testes laboratoriais no país asiático.

Segundo a diretora da aT em São Paulo, Yousun Jung, a empresa produziu tofu a partir de cinco amostras de soja brasileiras e avaliou aspectos como rendimento, capacidade de coagulação e sabor. “A partir dessa análise, foram selecionadas duas variedades que se aproximaram bastante do tofu que já é consumido no mercado coreano e que mostraram maior potencial de substituição da soja”, explicou. Nas próximas semanas, serão enviados 700 kg de grãos desses materiais para testes industriais.

Produtor atesta potencial dos materiais avaliados

Com 800 hectares de área irrigada, a Fazenda Dourados foi adquirida há pouco mais de dois anos pelo Grupo Recanto. Além da soja, devem ser cultivados feijão, milho, sorgo e algodão.

O ensaio de VCU na propriedade envolve 132 linhagens do programa de melhoramento genético de soja da Embrapa em fase de competição final. Entre elas está uma das já selecionadas pelos coreanos, plantada em 0,9 ha, e sete cultivares em fase de registro numa área de 6 ha sob pivô de irrigação, semeados em 3 de junho e com colheita prevista para o início de outubro.

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Além de avaliar o desempenho agronômico, a ideia é enviar para teste grãos dos materiais que possam atender às exigências nutricionais do mercado coreano de alimentos, sobretudo quanto ao teor de proteína (que deve ser acima de 36%) e de ácidos graxos poli-insaturados linoléico (Ômega-6) e linolênico (Ômega-3).

Para a diretora Yousun Jung, foi muito importante poder ver no campo as diferentes variedades e linhagens de soja desenvolvidas pela Embrapa. “Tinha curiosidade de entender como a instituição faz a gestão das sementes para pesquisa e me surpreendi ao saber que hoje existem mais de 130 em fase experimental. Foi uma experiência muito enriquecedora perceber como o trabalho da Embrapa é bem conduzido e feito em parceria com os produtores”, afirmou.

Luiz Fiorese prevê que até meados do ano que vem será possível obter um volume de sementes suficiente para iniciar, na safra 2026/27, a produção de grãos de dois a três materiais para atender à demanda coreana.

*Giulia Di Napoli colabora com reportagens para o portal da Itatiaia. Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.