Ouvindo...

Pirataria de sementes causa prejuízo de R$ 10 bi ao ano no Brasil; saiba como identificar

Além do impacto econômico para os produtores, a prática ilegal também promove prejuízos para governo e sociedade

A pirataria de sementes de soja no Brasil gera perdas de cerca de R$ 10 bilhões ao ano para agricultores, indústria de sementes, setor de processamento de grãos e exportações. Os dados foram apresentados em coletiva de imprensa nessa quarta-feira (2) pela CropLife Brasil (CLB), em parceria com a Céleres consultoria.

A estimativa é de que as sementes piratas ocupem 11% da área plantada da cultura no Brasil, o equivalente ao total do plantio em Mato Grosso do Sul.

Segundo o estudo, a projeção do aumento de receita com o fim da pirataria de sementes de soja prevê R$ 2,5 bi para os agricultores, R$ 4 bi ao do setor de produção de sementes, R$ 1,2 bi para a agroindústria de farelo e óleo de soja e R$ 1,5 bi nas exportações do agro.

Além do impacto econômico para os produtores, a prática ilegal também promove prejuízos para governo e sociedade. O estudo estima que cerca de R$ 1 bilhão pode deixar de ser arrecadado em impostos nos próximos 10 anos com a pirataria de sementes.

“O primeiro [desafio] é a segurança alimentar, diante do ritmo acelerado de crescimento populacional, será exigido do planeta um aumento substancial na oferta de alimentos e energias renováveis — e isso passa diretamente pela agricultura. O segundo é o desafio climático: produzir mais com menos. Nesse contexto, a semente é uma das tecnologias mais relevantes”, disse o presidente da CLB, Eduardo Leão.

Em dezembro do ano passado, uma quadrilha que pintava sementes de milho e soja de baixa qualidade para vender mais caro causou um prejuízo de mais de R$ 20 milhões no Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia e Minas Gerais.

Impacto na produção de soja

De acordo com o levantamento, nos últimos 20 anos, a produção brasileira de soja cresceu quase duas vezes mais que a expansão de área semeada. Isso significa que o plantio teve um crescimento médio de 3,5% ao ano, enquanto a produção um aumento anual médio de 6%. Essa diferença, segundo a pesquisa, é resultado de constante investimento em tecnologia e representa um ganho de produtividade de 35% no mesmo período.

Conforme a análise, a produtividade média no Brasil foi de 59 sacas por hectare na safra 2023/2024 e a utilização de sementes piratas resultou em uma perda média de 17% de produtividade ou quatro sacas por hectare.

A pesquisa conclui ainda que as sementes piratas podem reduzir a qualidade do cultivo e dos grãos. O resultado é uma maior incidência de pragas, plantas daninhas e doenças nas lavouras, com um potencial vetor para a propagação de espécies invasoras, nocivas para o meio ambiente e proibidas por lei.

O levantamento destaca também que o combate à pirataria de sementes pode contribuir para o aumento de investimentos em variedades de sementes e avanço tecnológico em R$ 900 milhões nos próximos 10 anos, além de promover o lançamento de novos materiais mais produtivos, resistentes e que necessitam de menos defensivos químicos.

No Rio Grande do Sul, a terceira maior cadeia agrícola do país, a pirataria de sementes de soja é quase três vezes maior que a média nacional. No estado, a prática resulta em perdas anuais de R$ 1,1 bi.

Leia também

Como diferenciar sementes piratas de certificadas:

Semente Pirata:

  • Bolsa branca ou big bag reutilizado, sem informações obrigatórias nas embalagens;
  • Sacaria nova tipo bolsa branca sem identificação do produtor ou informações da semente;
  • Sacaria reutilizada de semente, ração, adubo, etc;
  • Sacaria e big bags com anotações manuais;
  • Big bags de semente ou fertilizante reutilizados;
  • Transporte de grãos em épocas de pré-plantio;
  • Nota de grão comercial acobertando semente pirata;
  • Grãos sem impurezas transportados em big bags;
  • Semente pirata transportada a granel em caminhão;
  • Grãos comerciais padronizados;
  • Preço muito abaixo do preço de mercado.

Semente certificada:

  • Embaladas em sacaria inviolada ou em big bags novos e lacrados nas duas extremidades (etiqueta, rótulo ou carimbo), contendo razão social e CNPJ ou nome e CPF, endereço e indicação do nº de inscrição no Registro Nacional de Sementes e Mudas (RENASEM) impresso na sacaria e a expressão: “semente reembalada”, quando for o caso, bem como as informações de qualidade e garantias legais da semente ofertada para venda;
  • Venda e transporte realizados com a emissão e acompanhamento da nota fiscal e do certificado ou termo de conformidade, que asseguram a procedência legal do lote comercializado, análise e atendimento ao padrão nacional de sementes estabelecido pelo MAPA.
Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde
Leia mais