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Por que algumas pessoas não lembram dos sonhos e o que isso revela sobre a mente

Especialistas explicam que fatores neurológicos, emocionais e hábitos de sono influenciam a lembrança ou o esquecimento dos sonhos

Há quem acorde com cenas vívidas e quem desperte sem qualquer memória dos sonhos. A Ciência, porém, descarta a ideia de que existam pessoas que não sonham. O mais comum, afirma o médico e psicanalista Gabriel Lombardi, pesquisador da Universidade de Buenos Aires, é simplesmente esquecer: “O mais frequente é não se lembrar de ter sonhado, o que é uma coisa totalmente diferente”.

Em entrevista ao site Infobae, Lombardi destaca que a neurofisiologia comprova a ocorrência dos sonhos sobretudo na fase REM: “Durante o sono há fases caracterizadas pelos movimentos oculares rápidos [REM], que coincidem com os períodos em que sonhamos. Os neurologistas mostraram que, se o adormecido é despertado deliberadamente nessas fases, em geral não consegue deixar de notar que estava sonhando”.

O que diz a psicanálise

Para a psiquiatra e psicanalista Alejandra Gómez, os sonhos continuam centrais na clínica freudiana: “A psicanálise é uma teoria criada por Sigmund Freud (Áustria, 1856–1939) sobre o funcionamento do psiquismo e um método de investigação que evidencia, fundamentalmente, o papel do inconsciente na significação das palavras, sintomas e atos de uma pessoa, assim como de seus sonhos, fantasias e delírios”, esclarece ao Infobae.

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Freud tratou o sonho como ‘o guardião do sono’, capaz de proteger o descanso ao satisfazer simbolicamente desejos inconscientes, e sustentou que “os sonhos e a interpretação dos mesmos são uma via régia para acessar o inconsciente”. No consultório, explica Gómez, cada relato tem um nível manifesto e outro subjacente: “Um conteúdo latente que é o significado revelado na análise - expressão de desejos, situações conflituosas ou ansiedades ocultas”.

O que significa sonhar pouco, muito ou não se lembrar do sonho

O psiquiatra Diego López de Gomara argumenta que o essencial é o papel subjetivo dos sonhos: “Mais do que a quantidade de sonhos, eu diria que o importante é o lugar que eles ocupam na vida de cada pessoa”.

Não lembrar pode refletir “momentos de bloqueio psíquico, depressão e, sobretudo, uma recusa em se expor ao que o sonho poderia revelar; seria uma espécie de pacto com a realidade que empobrece a vida”. Já sonhar demais pode apontar “um trabalho intenso do inconsciente para processar tensões, mas encher-se de imagens também pode ser uma forma de evitar um real que nos espreita”. Para ele, os sonhos são “o ouro secreto da nossa vida psíquica”.

O que diz a Ciência

Também ao Infobae, pesquisadores da Harvard Medical School indicam que a lembrança depende de fatores biológicos e do momento do despertar. Robert Stickgold, diretor do Center for Sleep and Cognition, resume: “Não se trata tanto de lembrar, e sim de acordar no momento certo”. Em geral, recordar é mais fácil quando se desperta durante ou ao final da fase REM, especialmente se o despertar for lento e sem distrações.

A psicóloga Deirdre Barrett recomenda atenção total nos primeiros segundos da manhã: “Quando você acordar pela primeira vez, não se levante nem desvie sua atenção de outra coisa que não seja o seu sonho”. Mesmo quando parece não haver nada a lembrar, ela sugere insistir um pouco: “Um sonho completo pode voltar de repente se você dedicar apenas um minuto para registrar qualquer imagem ou sensação ao despertar”.

Segundo Harvard, quem recorda mais sonhos tende a ter despertares noturnos mais frequentes e maior reatividade cerebral a estímulos. Como a memória onírica é extremamente fugaz, colocá-la rapidamente em palavras - mentalmente, em voz baixa ou por escrito - ajuda a transferi-la para sistemas de memória mais estáveis.

Jornalista graduado com ênfase em multimídia pelo Centro Universitário Una. Com mais de 10 anos de experiência em jornalismo digital, é repórter do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Antes, foi responsável pelo site da Revista Encontro, e redator nas agências de comunicação FBK e Viver.