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Três avanços recentes no tratamento do câncer de mama

Novas pesquisas trazem esperança e mostram o avanço da medicina

Três boas notícias sobre avanços no tratamento de câncer de mama

O câncer de mama é a principal causa de morte por câncer entre mulheres no Brasil e no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são cerca de 2,3 milhões de novos casos por ano. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima mais de 73 mil novos diagnósticos em 2025. Apesar dos avanços, mais de 15 mil brasileiras ainda perdem a vida por causa da doença.

Hoje, o tratamento do câncer de mama é baseado em três pilares: cirurgia, radioterapia e terapia com medicamentos. Segundo o oncologista Rafael Kaliks, do Hospital Israelita Albert Einstein, os tratamentos evoluíram bastante com o tempo. “O que aconteceu nas últimas décadas é que, conforme fomos subdividindo o câncer de mama em algumas características, fomos desenvolvendo drogas para cada um desses subtipos. Ao tratá-los com a droga mais adequada, aumentamos significativamente a cura das pacientes.”

Os três principais subtipos do câncer de mama são: os com receptores hormonais positivos (ER+), os HER2 positivos (que têm uma proteína ligada ao crescimento celular) e os chamados triplo negativos, que não têm nenhum dos dois marcadores anteriores.

Nos casos avançados, em que o câncer já se espalhou para outros órgãos, as chances de cura diminuem, e é justamente nessa fase que surgiram novidades promissoras, apresentadas no congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), realizado entre 30 de maio e 3 de junho, em Chicago (EUA).

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Conheça três novidades que podem mudar o tratamento da doença:

1. Troca de tratamento guiada por exame de sangue

O estudo SERENA-6 acompanhou mulheres com câncer de mama metastático do tipo ER+ e HER2 negativo. As pacientes fizeram, a cada dois ou três meses, um exame de sangue chamado biópsia líquida, que detecta uma mutação no gene ESR1, um sinal de que o tratamento hormonal pode não estar funcionando.

“Em vez de esperarem a progressão clínica da doença (que se manifestaria por sintomas ou exames radiológicos alterados), eles acompanharam pacientes seguindo o tratamento tradicional e dosaram no sangue, a cada dois a três meses, a presença da mutação do gene ESR1”, explica Kaliks.

Quando a mutação aparecia, mesmo sem sintomas, metade das pacientes trocava de medicação e passava a tomar o camizestranto, uma droga ainda em estudo. As demais seguiam com o tratamento padrão. O grupo que trocou de medicação conseguiu manter a doença sob controle por 16 meses, em média, quase o dobro do outro grupo, que teve controle por 9,2 meses.

2. Novo remédio que destrói o receptor hormonal

Outro estudo também focou em pacientes com a mutação ESR1. Desta vez, testou-se o vepdegestrant, um remédio que não só bloqueia o receptor de estrogênio, mas destrói esse receptor dentro da célula.

Ele foi comparado ao medicamento tradicional fulvestranto, e mostrou resultados melhores: as pacientes que usaram o novo remédio conseguiram controlar a doença por cinco meses, contra 2,1 meses do grupo que usou o tratamento convencional.

3. Tecnologia que leva a quimioterapia direto ao tumor

Para os casos de câncer de mama HER2 positivo metastático, um dos tipos mais agressivos, outro avanço importante veio à tona. O estudo testou a combinação de duas drogas: o trastuzumabe deruxtecano (uma quimioterapia guiada, que vai direto ao tumor) com o pertuzumabe, outro anticorpo usado nesse tipo de câncer.

Essa combinação reduziu em 44% o risco de progressão ou morte em comparação ao tratamento tradicional. Em média, a doença foi controlada por mais de três anos.

“O trastuzumabe deruxtecano foi comparado com o que até então vinha sendo considerado padrão há mais de 10 anos, e ele é significativamente melhor. Então, esse avanço deve ser incorporado daqui a um ou dois anos”, afirma Kaliks. “A preocupação que ainda temos é sobre a tolerância das pacientes a um período tão prolongado de uso dessa medicação, que não deixa de ter toxicidades significativas.”

Desafios no acesso

Entretanto, ainda há uma distância entre os avanços da ciência e a realidade de muitas pacientes. Os novos tratamentos precisam passar por processos regulatórios e serem incorporados ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou aos planos de saúde.

“O trastuzumabe deruxtecano foi aprovado em 2024 pela Anvisa, mas ainda não foi incorporado ao SUS”, lembra Kaliks. Isso é um problema sério, já que 70% dos pacientes oncológicos dependem exclusivamente do sistema público.

“Hoje, no Brasil, entre 50% e 60% dos casos de câncer de mama serão curados. Mas se a gente tiver uma realidade na qual exista aderência ao rastreamento, acesso rápido a diagnóstico e acesso completo a tratamento, isso passa de 80%”, reforça o oncologista.

Mesmo com os desafios, o cenário é promissor. Com medicamentos mais eficazes, menos efeitos colaterais e maior controle da doença, o câncer de mama se torna, cada vez mais, uma doença tratável, até mesmo nos casos mais graves.

“O câncer de mama, que já é uma doença altamente curável, vai passar a ser ainda mais curável”, conclui Kaliks. “Estamos começando a acreditar que, para algumas pacientes com doença metastática, até hoje considerada incurável, a cura pode se tornar uma possibilidade real num futuro não tão distante.”

* Com informações da Agência Einstein
* Sob supervisão de Enzo Menezes

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Izabella Gomes é estagiária na Itatiaia, atuando no setor de Jornalismo Digital, com foco na editoria de Cidades. Atualmente, é graduanda em Jornalismo pela PUC Minas