Ouvindo...

Setembro Amarelo: solidão crônica está ligada a mais de 870 mil mortes por ano

Para psicóloga Sabrina Magalhães, a desconexão social fragiliza o sentido de vida e aumenta o risco de ideação suicida

Para psicóloga Sabrina Magalhães, a desconexão social fragiliza o sentido de vida e aumenta o risco de ideação suicida

Considerado um dos gatilhos mais silenciosos e potentes do sofrimento mental, a solidão foi alvo de um novo relatório da Comissão sobre Conexão Social da Organização Mundial da Saúde (OMS). O estudo revelou que uma em cada seis pessoas no mundo é afetada pelo isolamento. A condição é associada a cerca de 100 mortes a cada hora, o que representa mais de 871 mil vidas perdidas anualmente.

O fenômeno impacta sobretudo jovens e populações de países de baixa e média renda, onde até 21% dos jovens de 13 a 29 anos relatam sentir-se sozinhos. Para a psicóloga da Afya Sete Lagoas, Sabrina Magalhães, a solidão crônica é um fator de risco emocional, ao passo que a desconexão emocional serve como gancho para aprofundar o debate sobre a saúde mental.

A psicóloga ainda relaciona o uso excessivo da internet como um fator de risco para a solidão. “Essa vida digital, a questão desse mundo virtual acaba, por um lado, sendo um refúgio, mas tornando mais desafiador a construção desses vínculos sociais”, reforçou Sabrina Magalhães.

Ela reforça que a solidão é uma percepção subjetiva da pessoa, e é diferente de um isolamento social, por exemplo. “A solidão trata-se da percepção desse sentimento subjetivo, e, por isso, a gente pode caracterizá-la justamente por uma certa discrepância entre a conexão social desejada – aquilo que a pessoa almeja – e aquilo que de fato ela tem”, afirmou a psicóloga.

Leia também

Segundo Sabrina Magalhães, a percepção desse sentimento pode ser maior em pessoas com baixa autoestima e timidez. “Nós temos algumas características pessoais que podem deixar a pessoa mais sensível em termos de fatores de risco”, detalhou.

Solidão entre jovens e adolescentes

Anualmente, 727 mil pessoas tiram a própria vida em todo o mundo. O suicídio é a terceira principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, segundo a OMS. A realidade brasileira reflete essa crise mundial, com cerca de 14 mil mortes por suicídio a cada ano. O número equivale à média de 38 vidas perdidas por dia.

Para a psicóloga, a melhor forma de abordar o suicídio é com informação. “Trazer conhecimento, jogar luz para a questão auxilia com que as pessoas consigam, inclusive, se perceber e consigam encontrar formas de sair desse sofrimento.”

De acordo com Sabrina Magalhães, os jovens e adolescentes são mais vulneráveis ao suicídio por uma combinação de fatores emocionais, sociais e neurobiológicos.

“A impulsividade é maior nessa fase devido à imaturidade cerebral, especialmente nas áreas responsáveis por controle emocional e tomada de decisão. Eles também têm menos habilidades de enfrentamento, o que os faz perceber situações difíceis como insuportáveis ou sem saída. Conflitos familiares, especialmente com os pais, são um fator importante, assim como condições psiquiátricas, uso de substâncias e o bullying.”

Ainda segundo a psicóloga, os jovens são mais suscetíveis ao chamado “efeito contágio”, que se caracteriza pela imitação de comportamentos suicidas de pessoas próximas, celebridades ou personagens de mídia, principalmente quando se identificam com elas ou quando esses casos recebem grande visibilidade.

Setembro Amarelo

O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio é em 10 de setembro, mas a iniciativa acontece o ano inteiro. A campanha Setembro amarelo é a maior anti o estigma no mundo. Em 2025, o lema é: “se precisar, peça ajuda!”

Para a organização da campanha, o tema ainda é visto como um tabu, mas é importante abordar o assunto para que as pessoas que estejam enfrentando momentos difíceis saibam que a vida sempre vai ser a melhor escolha.

Segundo a OMS, quase 100% de todos os casos de suicídio em todo o mundo estavam relacionados às doenças mentais, principalmente não diagnosticadas ou tratadas incorretamente.

O dado ilustra a importância da busca por ajuda e por um tratamento psiquiátrico. Vale ressaltar que o Sistema Único de Saúde (SUS) conta com diversos equipamentos que atendem às necessidades de saúde mental da população.

Centro de Valorização da Vida (CVV)

O Centro de Valorização da Vida (CVV) dá apoio emocional e preventivo ao suicídio. Voluntários atendem ligações gratuitas 24h por dia no número 188, por chat, via e-mail ou diretamente em um posto de atendimento físico.

(Sob supervisão de Fabrício Lima)

Rebeca Nicholls é estagiária do digital da Itatiaia com foco nas editorias de Cidades, Brasil e Mundo. É estudante de jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNIBH). Tem passagem pelo Laboratório de Comunicação e Audiovisual do UniBH (CACAU), pela Federação de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) e pelo jornal Estado de Minas