Uma nova espécie de bactéria do gênero Bartonella foi identificada em insetos flebotomíneos, conhecidos como mosquitos-palha, no Parque Nacional da Amazônia, no Pará. O DNA encontrado apresentou semelhança com B. bacilliformis e B. ancashensis, espécies dos Andes que causam a doença de Carrión, conhecida como verruga-peruana e febre de Oroya, transmitidas por mosquitos-palha.
No Brasil, ainda não há evidências de que a bactéria possa causar doenças, mas especialistas alertam que estudos adicionais são necessários. Espécies do gênero Bartonella podem causar infecções persistentes em outros países, afetando especialmente pessoas com imunidade baixa.
A pesquisa foi conduzida por Marcos Rogério André (FCAV-Unesp) em parceria com Eunice Aparecida Bianchi Galati (FSP-USP), com apoio da FAPESP. O estudo, publicado na revista
O que é a bartonelose
“Bartoloneses são doenças negligenciadas. A mais conhecida é a doença da arranhadura do gato, causada por Bartonella henselae. É importante entender a real prevalência dessas enfermidades, principalmente em regiões isoladas e com baixo índice de desenvolvimento humano, onde a população não tem fácil acesso aos serviços de saúde”, explica André.
Coleta e análise
O objetivo do estudo foi investigar a presença do DNA de Bartonella spp. em 297 fêmeas de flebotomíneos coletadas no Parque Nacional da Amazônia. “Este parque possui cavernas e recebe muitos visitantes, por isso é importante estudá-lo”, destaca André. As amostras foram coletadas de fevereiro de 2022 a fevereiro de 2023, ao longo de trilhas próximas às bases dos rios Uruá e Tracoá.
“O encontro de espécies de Bartonella em flebotomíneos no Brasil pode indicar que B. bacilliformis e B. ancashensis, que causam a doença de Carrión ou verruga-peruana, podem se adaptar a outras espécies e serem transmitidas fora dos Andes. Isso não é muita extrapolação, pois duas espécies que foram apontadas como vetores no Peru são muito próximas de espécies que ocorrem no Brasil”, explica Galati.
Novas descobertas e próximos passos
“Estamos detectando uma linhagem no Brasil que nunca foi descrita e que é muito próxima de duas espécies que causam doenças nos países andinos. Apesar dessa proximidade, não sabemos ainda se ela pode causar doença com quadro distinto. Por isso, precisamos estudá-las ainda mais”, ressalva André.
Galati acrescenta que a próxima etapa é investigar em quais animais os insetos se alimentam para identificar possíveis “reservatórios”. “Tenho um projeto com financiamento da FAPESP com muitos espécimes de flebotomíneos da Mata Atlântica de São Paulo, e a ideia é explorar esse material em parceria com o professor André”, revela a pesquisadora.
Segundo os cientistas, os resultados preliminares indicam que o projeto pode ajudar a identificar agentes de doenças ainda não detectados. André destaca:
“Será que pessoas com febre que são mandadas muitas vezes para casa, e que têm repetições de episódios febris, não estariam infectadas com esse patógeno? Será que os pacientes com leishmania não estariam também coinfectados com essa nova espécie de Bartonella?”, questiona o professor.
Com Agência FAPESP
(Sob supervisão de Lucas Borges)