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Pesquisa revela mau uso de antibióticos em hospitais; especialista reforça cuidados

Ajuste de dose e exames prévios são essenciais para evitar resistência bacteriana e complicações

Especialista alerta que uso incorreto de antibióticos pode gerar infecções graves e bactérias resistentes

Uma pesquisa realizada com 104 hospitais brasileiros, divulgada pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), revelou que um em cada cinco hospitais não ajusta corretamente a dose de antibióticos. O estudo faz parte da campanha “Será que precisa? Evitando a resistência antimicrobiana por antibióticos e antifúngicos”.

Segundo o levantamento do Instituto Qualisa de Gestão (IQG), divulgado na última quarta-feira (20), 87,7% dos hospitais ainda usam antibióticos empiricamente, ou seja, por tentativa e erro, sem exames prévios para confirmar a sensibilidade da bactéria ao medicamento.

A avaliação da presidente do IQG, Mara Machado, é de que os indicadores “reforçam a urgência de políticas públicas robustas”. Segundo afirmou à Agência Brasil, é necessário “urgentemente combater o uso indiscriminado de antibióticos.”

Procedimentos ideais antes da prescrição

O médico infectologista, epidemiologista e mestre em Medicina com formação pela UFMG, Carlos Starling, explica que, idealmente, é necessário fazer uma cultura e identificar se a bactéria envolvida na infecção é sensível ao antibiótico prescrito. “Nem sempre isso é possível. Às vezes é necessário iniciar o antibiótico antes do resultado da cultura”, explica. “Assim que o resultado fica pronto, no entanto, é possível ajustar e fazer um direcionamento melhor para o tratamento.”

Como decidir o antibiótico e cálculo da dose

Segundo Starling, a escolha do antibiótico deve considerar alguns pontos. Primeiramente, se a infecção é bacteriana, viral ou fúngica. Além disso, ele lista: “idade, peso, doenças de base, efeitos colaterais, alergias, urgência da situação, uso prévio de antibióticos e resultados de culturas anteriores ou recentes.”

O mais importante, enfatiza Starling, é que os pacientes evitem tomar antibiótico sem prescrição médica.

De acordo com o especialista, o cálculo do medicamento é feito em função da idade, peso, massa corporal, função renal e local da infecção. ''Infecções no sistema nervoso central exigem doses mais elevadas; infecções no coração ou ossos podem exigir tempo mais longo de antibiótico. Tudo deve ser ajustado para cada paciente”, explica.

Riscos do uso empírico

O uso de antibiótico por tentativa e erro não é recomendado, segundo o especialista, porque pode causar outros problemas, além de não resolver a infecção em questão. “Pode cronificar a infecção ou levar à morte. Também seleciona bactérias resistentes, impede tratamento ambulatorial e aumenta efeitos colaterais e custos”, explica.

Há protocolos que devem ser levados em conta na prescrição de antibióticos.
“Hoje usamos protocolos para evitar infecção em procedimentos cirúrgicos e damos antibióticos de forma mais curta, geralmente não superior a 7 dias”, conta. Além disso, em casos completos, ele indica a consultoria de infectologistas. Outras atitudes importantes para redução de resistência são educação médica e sanitária, controle de resíduos e fiscalização.

*Sob supervisão de Marina Dias

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Izabella Gomes é estagiária na Itatiaia, atuando no setor de Jornalismo Digital, com foco na editoria de Cidades. Atualmente, é graduanda em Jornalismo pela PUC Minas