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‘Protocolo superbebê': os riscos associados à suplementação sem evidência

Coquetel de vitaminas, minerais e aminoácidos durante a gravidez pode realmente melhorar o desenvolvimento do feto? Veja o que dizem os especialistas

Prática pode ser perigosa para a saúde da mãe e do bebê

Um tema preocupante tem ganhado espaço nas redes sociais: o chamado “protocolo superbebê". A ideia é que um coquetel de vitaminas, minerais e aminoácidos durante a gravidez poderia melhorar o desenvolvimento do feto, prometendo aumentar o QI do bebê, fortalecer a imunidade e até garantir um bom desempenho físico no futuro.

A disseminação desse protocolo acendeu um sinal de alerta entre os profissionais de saúde. Segundo relatos nas redes sociais, o “protocolo superbebê" envolve a aplicação de complexos vitamínicos e aminoácidos, muitas vezes por injeção, em grávidas saudáveis, sem que haja necessidade clínica para isso.

Grandes entidades médicas, como a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), já se manifestaram. Elas afirmam que essas práticas não têm fundamento científico e podem trazer riscos graves para a mãe e para o bebê. Em maio, o Ministério da Saúde também se manifestou nas redes sociais, reforçando os perigos do protocolo. “Não é ciência, é desinformação”, publicou a pasta.

A questão também levanta preocupações éticas. Receitar substâncias sem uma indicação médica clara pode ser considerado charlatanismo, de acordo com o Código de Ética Médica.

“O médico não pode divulgar procedimentos ou medicamentos de forma sensacionalista e prometer resultados aos pacientes”, alertou o Cremesp em seu posicionamento no Instagram, em 13 de maio.

Perigos do “protocolo superbebê"

Especialistas alertam que não há nenhuma prova científica que confirme os benefícios desse tipo de suplementação. Pelo contrário, a prática pode ser perigosa para a saúde da mãe e do bebê. Rômulo Negrini, ginecologista e obstetra do Einstein Hospital Israelita, é claro: “Não há comprovação científica de que suplementar a gestante de forma indiscriminada aumente o QI do bebê ou melhore sua imunidade ou desempenho físico. É uma proposta sem base em estudos sérios, com riscos que superam qualquer benefício que se possa imaginar.”

A gravidez é um período que requer atenção redobrada á saúde. Qualquer decisão pode afetar diretamente a formação do bebê. Por isso, toda intervenção precisa seguir critérios técnicos e ser baseada em conhecimentos científicos.

“A injeção de suplementos sem necessidade na gestante pode causar náuseas, intoxicação, reações alérgicas graves, como anafilaxia, além de trombose, problemas cardíacos e infecções no local da aplicação”, explica Negrini. No bebê, a preocupação é com malformações, especialmente no sistema nervoso central, já que a interferência no desenvolvimento embrionário, principalmente no primeiro trimestre, é muito sensível.

Negrini concorda e expressa sua preocupação. "É assustador que uma mulher grávida aceite receber medicamentos sem saber exatamente o que está tomando. Isso, por si só, já é um alerta. A gravidez exige responsabilidade redobrada. É perigoso.”

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Suplementos na gravidez: sim, mas com critério

É verdade que o pré-natal prevê o uso de vitaminas e minerais em algumas fases da gravidez. Mas essa indicação deve ser feita caso a caso. “A necessidade precisa ser avaliada individualmente. Há indicações claras, como o uso de ácido fólico para evitar problemas no desenvolvimento do tubo neural, especialmente nas primeiras semanas de gestação, e de ferro para combater a anemia na gravidez”, explica o médico do Einstein.

Em raras situações, pode haver a necessidade de suplementação por injeção, mas são exceções. “Sempre que possível, a suplementação deve ser feita por via oral e com receita médica. O uso sem controle de substâncias injetáveis, ou seja, aplicadas diretamente na corrente sanguínea, não é seguro nem recomendado”, ressalta Romulo Negrini.

Para o especialista, num momento em que a desinformação cresce nas redes sociais, é fundamental valorizar a medicina que se baseia em fatos. “A gestante precisa ser acolhida, ouvida e orientada de forma responsável. Um pré-natal bem feito é aquele que respeita a individualidade da mulher, acompanha o desenvolvimento do bebê com critérios técnicos e oferece segurança em todas as decisões. Aventuras terapêuticas podem custar muito caro”, alerta o ginecologista e obstetra.

*com informações da Agência Einstein

Amanda Alves é graduada, especialista e mestre em artes visuais pela UEMG e atua como consultora na área. Atualmente, cursa jornalismo no UniBH e é estagiária do Digital na Itatiaia. É apaixonada por cultura pop, fotografia e cinema e mãe do Joaquim