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Milton Nascimento: especialista explica quadro de demência do cantor e compositor

Milton Nascimento foi diagnosticado com demência por corpos de Lewy (DCL)

Milton Nascimento foi diagnosticado com demência por corpos de Lewy

O cantor e compositor Milton Nascimento, de 82 anos, foi diagnosticado com uma doença progressiva chamada demência por corpos de Lewy (DCL). Apesar de não ter cura, a condição pode ser tratada para evitar complicações no quadro, controlar os sintomas e promover melhor qualidade de vida ao paciente.

Simone de Paula Pessoa Lima, médica geriatra da Saúde no Lar, empresa especializada em home care, explicou à Itatiaia que a doença é neurodegenerativa, ou seja, que causa a deterioração e morte das células nervosas do cérebro e medula espinhal, levando à perda irreversível de funções neurológicas, como motoras e cognitivas

“Ela [a doença] é caracterizada pela presença de depósitos anormais de proteínas chamadas corpos de Lewy no interior dos neurônios, especialmente em áreas do cérebro responsáveis por funções cognitivas, motoras e comportamentais”, explicou a médica.

Diferença do Alzheimer

Segundo Simone, apesar dos sintomas parecidos, entre eles a perda de memória, a DLC é diferente do Alzheimer. Vale lembrar que Bituca, como foi apelidado, também recebeu o diagnóstico de Doença de Parkinson.

“Enquanto o Alzheimer se apresenta predominantemente com perda progressiva de memória recente e orientação espacial, a demência por corpos de Lewy tende a iniciar com dificuldades de atenção, alucinações visuais bem formadas e alterações motoras, além de apresentar flutuações cognitivas marcantes ao longo do dia”, diferenciou.

Milton Nascimento é considerado um dos maiores cantores da história da música brasileira

Sintomas

Dentre os sintomas, os principais estão relacionados às funções cognitivas. No caso de Milton, ele apresentou perda de memória, pouco apetite, olhar fixo e repetição de histórias, de acordo com o filho dele, Augusto Nascimento, de 32 anos.

“Os sintomas principais da demência por corpos de Lewy incluem flutuações cognitivas importantes (com períodos de lucidez intercalados com confusão intensa), alucinações visuais recorrentes e detalhadas, parkinsonismo (rigidez muscular, lentidão de movimentos e instabilidade postural), além de distúrbios do sono REM, como falar ou se movimentar durante os sonhos”, mencionou a geriatra.

A médica relatou também que, com a progressão da doença, há piora das funções cognitivas, maior comprometimento motor, surgimento de sintomas psiquiátricos como delírios e agitação, e maior dependência funcional.

"É comum também a sensibilidade exacerbada a medicamentos antipsicóticos, o que exige cuidado especial na condução dos pacientes. A evolução é variável, mas tende a ser progressiva, afetando tanto a cognição quanto a autonomia do paciente”, disse Simone.

Tratamento

Também à Itatiaia, o médico neurologista Ricardo Dornas, mestre em Neurociências pela Universidade Federal Fluminense (UFF), falou sobre o tratamento da demência por corpos de Lewy. A doença é incurável, mas, segundo o profissional, o acompanhamento especializado é importante para evitar o avanço dos sintomas e proporcionar melhor qualidade de vida ao paciente.

Sintomas cognitivos e alucinações: “O manejo deve ser individualizado, envolvendo abordagens farmacológicas e não farmacológicas. Medicamentos como os inibidores da colinesterase podem melhorar os sintomas cognitivos e alucinações, com alguma evidência de benefício funcional”, destacou o profissional, que é especialista em Neurologia Cognitiva pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais.

Sintomas motores: “Para os sintomas motores, pode-se considerar o uso cuidadoso de levodopa, embora a resposta seja geralmente menos eficaz do que na doença de Parkinson e com risco de piora das alucinações. É fundamental evitar o uso de antipsicóticos típicos, como haloperidol, devido ao risco de reações graves, incluindo rigidez intensa e piora cognitiva; quando necessário, preferem-se antipsicóticos atípicos em doses mínimas e com estreita supervisão médica”, explicou ele.

Além dos medicamentos, intervenções como fisioterapia, terapia ocupacional, abordagem nutricional e suporte psicológico para o paciente e a família são essenciais no decorrer do tratamento.

“A educação dos cuidadores sobre as características da doença também contribui significativamente para a redução de crises e hospitalizações. Portanto, com acompanhamento especializado e multidisciplinar, é possível controlar sintomas e preservar a dignidade e a funcionalidade do paciente pelo maior tempo possível”, salientou Dornas.

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André Viana é jornalista, formado pela PUC-MG. Já trabalhou como redator e revisor de textos, produtor de pautas e conteúdos para rádio e TV, social media, além de uma temporada no marketing.
Izabella Gomes é estudante de Jornalismo na PUC Minas e estagiária na Itatiaia. Atua como repórter no jornalismo digital, com foco nas editorias de Cidades, Brasil e Mundo.