Um estudo focado no
Ao menos 30 mil homens sexualmente ativos foram analisados, a partir da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019. O levantamento, produzido pelo Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE), permitiu cruzar dados sobre a declaração de utilização do preservativo, o diagnóstico de ISTs e a orientação sexual declarada pelos indivíduos.
A pesquisa revelou que apenas 13,4% dos heterossexuais que vivem com a companheira fazem uso contínuo de camisinha, contra 57% dos que não moram com a parceira. A tendência se repete entre os homens que se identificam como homossexuais ou bissexuais, dos quais apenas 37,9% relataram o uso contínuo do preservativo.
Os resultados ainda revelaram que apenas 25,7% dos heterossexuais usaram camisinha em todas as relações sexuais no último ano. Entre homens gays e bissexuais, esse indicador foi de 56,3%. Já no caso da última relação, enquanto 80,5% dos indivíduos homoafetivos declararam ter utilizado preservativo durante a atividade sexual, somente 41,1% dos héteros o fizeram.
Desconstruir ideia de grupo de risco
Os resultados propõem novas perspectivas para atualizar programas de prevenção vigentes, segundo os autores do estudo, que defendem a ideia de atingir uma parcela ainda maior de pessoas.
“Nosso objetivo era desconstruir a ideia de ‘grupos de risco’, indicando que o contexto no qual os sujeitos estão inseridos é mais importante para se pensar a prevenção do que o pertencimento a um grupo de orientação sexual ou outro”, afirma a pesquisadora Flávia Pilecco, primeira autora do estudo e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Fora do estereótipo
Os pesquisadores ainda relembram que no auge da epidemia do vírus de imunodeficiência humana (HIV), nos anos 1980 e 1990, os homens gays e bissexuais foram considerados “grupos de risco” para essa e outras infecções sexualmente transmissíveis.
A tendência os tornou alvos das campanhas de incentivo ao uso de camisinha pelos programas nacionais de prevenção, ao passo que também reforçou o estigma de que seriam as únicas vítimas dessas doenças.
“Como mostramos em nosso estudo, o uso dos preservativos pode não estar necessariamente associado à orientação sexual dos sujeitos, mas, sim, ao tipo de relacionamento em que eles se encontram”, destaca Pilecco.
Anteriormente, pesquisas já haviam observado que casais que passam a morar juntos acabam optando por deixar o preservativo de lado. “Isso ocorre tanto por conta de uma menor preocupação com as ISTs, devido à confiança no pacto de exclusividade dos relacionamentos monogâmicos, quanto por uma tentativa de busca por mais prazer nas relações”, analisa o urologista Daniel Zylbersztejn, do Einstein Hospital Israelita.
*Sob supervisão de Lucas Borges