Um estudo publicado recentemente na Revista Brasileira de Psiquiatria apontou que, dentre cuidadores de pessoas com demência, 86% são mulheres. Mas por que isso ocorre?
Segundo a geriatra Simone de Paula Pessoa Lima, da
“Isso é reforçado por fatores econômicos, já que muitas mulheres, ao receberem salários mais baixos ou trabalharem em ocupações informais, acabam sendo vistas como aquelas que ‘podem abrir mão’ do trabalho para se dedicar ao cuidado. Por outro lado, muitos homens, mesmo quando disponíveis, não são socialmente incentivados a assumir funções de cuidado, e há uma percepção ainda presente de que essa não é uma atribuição masculina. O resultado é um desequilíbrio em que o peso do cuidado recai majoritariamente sobre as mulheres, sobretudo filhas e esposa”, explicou.
Essa frequente associação da mulher aos serviços de cuidado pode causar sobrecarga à mulher que fica nessa função.
“O cuidado com outra pessoa é uma atividade que exige demanda física, emocional e mental. Quando se trata de uma outra pessoa com demência esses fatores se intensificam. As mulheres cuidadoras frequentemente enfrentam sobrecarga, privação de sono, estresse crônico e isolamento social. Essa pressão constante aumenta o risco de depressão, ansiedade, dores musculoesqueléticas e agravamento de doenças pré-existentes, além de comprometer a própria saúde cardiovascular. A sobrecarga também pode levar à chamada ‘síndrome do cuidador’, caracterizada por exaustão física e emocional, que prejudica não apenas a saúde da cuidadora, mas também a qualidade do cuidado prestado”, afirmou.
Famílias de idosos com demência arcam com pelo menos 73% dos custos com cuidados Paróquia Frei Galvão oferece curso para cuidadores de idosos Tempo seco em BH: veja dicas importantes para manter a saúde em dia
Como conciliar todas as tarefas e descansar?
De acordo com a especialista, conciliar todas as atividades exige planejamento e apoio. Por isso, é essencial compartilhar responsabilidades com outros familiares, buscar serviços de apoio como cuidadores formais, centros-dia (locais onde o idoso pode ficar) e grupos de suporte para cuidadores, além de usar serviços da rede pública e privada de saúde.
“No ambiente de trabalho, negociar flexibilização de horários ou regime remoto, quando possível, ajuda a reduzir o desgaste. Além disso, a cuidadora precisa preservar tempo para si mesma, mantendo hábitos saudáveis de alimentação, sono, atividade física e lazer, pois isso sustenta sua capacidade de cuidar no longo prazo. Reconhecer que pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de responsabilidade, é essencial para que a mulher não adoeça no processo”, disse a médica.