O Instituto Nacional do Câncer (Inca) divulgou na quarta-feira (26) que o Sistema Único de Saúde (SUS) vai substituir gradualmente o exame Papanicolau pelo exame molecular de DNA-HPV. A mudança trará maior exatidão aos diagnósticos de HPV e aumenta o prazo de intervalo das coletas para cinco anos. A faixa etária para o exame de rastreio, sem sintomas ou suspeita de infecção, permanece de 25 a 49 anos.
Para começar a valer, a novas diretrizes aguardam apenas a avaliação final da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministério da Saúde.
A decisão de mudar o protocolo se baseia na maior eficácia do teste de DNA-HPV na redução de casos e óbitos, conforme recomendado pela Organização Mundial da Saúde desde 2021. “O teste DNA-HPV tem um valor preditivo negativo muito forte, ou seja, se a pessoa tiver resultado negativo, a gente pode de fato confiar nesse resultado. E, conhecendo a história natural da doença, a evolução das lesões, é uma margem segura aguardar cinco anos para fazer um novo teste,” explica Itamar Bento, pesquisador da Divisão de Detecção Precoce do Inca.
Com a mudança no prazo da coleta, algumas pessoas podem pensar que ficarão mais vulneráveis, no entanto, não é o que acontece. É o que a médica ginecologista Franciane Reis explica: "É um intervalo seguro, porque se o vírus for detectado vão se ter outras medidas [...]. Mas considerando que deu negativo, que o vírus não foi encontrado ali, a gente tem segurança em espaçar, porque as alterações causadas pelo HPV que causam o câncer de colo de útero levam anos. Por isso não adianta a gente coletar preventivo com intervalo menor que um ano, porque a célula que você que a gente vai pegar ali com se meses é a mesma que a gente pegou seis meses atrás, porque precisa desse tempo para renovação celular”.
Quais são as principais diferenças entre os dois testes?
Franciane Reis detalha as diferenças entre os testes: “O que a gente tem hoje no Ministério da Saúde, no Brasil, de uma maneira geral, é a realização do preventivo, que é uma análise citopatológica. O que é isso, né? A gente coleta um pouquinho das células ali do colo do útero e manda pra análise laboratorial para ver se tem alterações que são causadas, induzidas pelo HPV naquelas células. É um teste muito bom e bastante sensível. Ele, quando tem essas alterações, geralmente indica, mas não é um teste tão específico, porque outras alterações, outras infecções, candidíase e pós-relação sexual podem dar alterações que podem similar essas alterações pelo HPV.”, esclarece.
Em contrapartida, o teste de DNA-HPV é uma análise de biologia molecular: “Ao invés dele tentar achar as alterações causadas pelo HPV, ele vai fazer a pesquisa do vírus em si para ver se o vírus está ali naquela célula, porque às vezes, o vírus tá ali naquela região, mas ainda não causou as alterações. Esse teste muito sensível para detectar o vírus e também é muito específico, tem uma especifidade acima de 90%, então se o vírus tiver ali, é pouquíssimo provável que esse teste não vai pegar”, diferencia a médica ginecologista.
O HPV
O HPV é o causador de mais de 99% dos casos de câncer de colo do útero, o terceiro mais incidente entre as mulheres brasileiras. A expectativa é que, com altas coberturas de vacinação e rastreio organizado, a doença possa ser erradicada em cerca de 20 anos.
A implementação do novo teste será combinada com um rastreamento organizado, onde o sistema de saúde buscará ativamente a população alvo. "É necessário que a população alvo seja identificada e convocada ativa e individualmente. E é preciso garantir que ela terá acesso à confirmação diagnóstica e ao tratamento das lesões havendo essa necessidade,” complementa Itamar Bento. Dados recentes apontam que a cobertura do Papanicolau ainda é baixa em muitos estados brasileiros, com desafios na entrega de resultados no prazo ideal para o início do tratamento.
O novo protocolo prevê que, em caso de resultado negativo para o DNA-HPV, o exame será repetido apenas após cinco anos. Se for detectado um tipo oncogênico, como o 16 e o 18, a paciente será encaminhada diretamente para colposcopia.