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Alzheimer: pesquisadores encontram nova causa que poderia explicar início da doença

Estudo sugere que a doença pode ter início devido a uma ‘falha’ no sistema de transporte celular entre o núcleo e o citoplasma; especialista mineira explica

Um novo estudo conduzido por cientistas do Centro de Pesquisa em Doenças Neurodegenerativas da Universidade do Estado do Arizona, nos Estados Unidos, propõe uma nova causa que poderia explicar o Alzheimer.

A pesquisa ‘RNAs longos não codificantes como reguladores-chave da agregação de proteínas neurodegenerativas’ foi publicada na quarta-feira (12) pela revista Alzheimer’s & Dementia: The Journal of the Alzheimer’s Association.

O estudo sugere que a doença pode ter início devido a uma ‘falha’ no sistema de transporte celular entre o núcleo e o citoplasma, comprometendo a comunicação e afetando a expressão de genes essenciais.

  1. O que é essa falha no sistema de transporte celular? O que ela afeta e como?

Dentro das células do cérebro, existe um sistema que transporta informações e substâncias importantes do núcleo, onde ficam as instruções genéticas, para o citoplasma, que é onde essas instruções são colocadas em prática.

‘O estudo infere que, na Doença de Alzheimer, esse sistema começaria a falhar pela formação de grânulos de estresse que deveriam ser temporários, mas acabam se acumulando de forma permanente. Como resultado haveria prejuízo na produção de proteínas essenciais nos neurônios comprometendo a comunicação entre eles, o funcionamento do metabolismo e, no longo prazo, levando à morte dos mesmos, o que afetaria a memória e outras funções cognitivas’, explica Simone de Paula Pessoa Lima, médica geriatra mineira da Saúde no Lar

2. A persistência dos grânulos pode explicar a falta de cura para a doença?

Segundo a médica, a persistências dos grânulos pode ser uma das razões para explicar porque o Alzheimer não tem cura.

‘Os tratamentos atuais para a Doença de Alzheimer focam principalmente na remoção das placas de proteínas beta amilóides e dos emaranhados neurofibrilares que se acumulam no cérebro prejudicando seu funcionamento, mas eles têm um efeito limitado, pois não impedem a progressão da doença’, comenta Simone.

A geriatra explica que se esses grânulos de estresse realmente forem um dos fatores que iniciam a doença, isso significa que o ‘problema começa muito antes das placas ou emaranhados se formarem’.

‘Isso também explicaria por que os tratamentos atuais não conseguem deter totalmente o avanço do problema – eles lentificam a progressão, mas não a causa inicial’, pontua a médica geriatra.

3. É possível estimar o que leva à formação dos grânulos persistentes?

Os cientistas ainda não sabem exatamente o que faz com que esses grânulos não desapareçam como deveriam, mas acreditam que vários fatores podem estar envolvidos.

Segundo a médica, a genética pode influenciar, ou seja, algumas pessoas podem ter maior predisposição a essa falha. Além disso, inflamações constantes no cérebro, que já estão associadas à Doença de Alzheimer, podem contribuir para o problema.

‘Fatores do ambiente, como poluição, exposição a agrotóxicos e infecções virais, também podem aumentar o estresse dentro das células. O estilo de vida tem um grande impacto: doenças como diabetes e hipertensão, além de hábitos como alimentação ruim e sedentarismo, podem favorecer esse processo e aumentar o risco de desenvolver a doença’, explica Simone.

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4. Essa descoberta pode levar a um tratamento para frear o Alzheimer?

Para Simone, a descoberta traz uma nova esperança, porque aponta para um novo alvo terapêutico da doença. ‘Se os grânulos de estresse forem realmente uma das causas iniciais da doença, no futuro poderão ser desenvolvidos medicamentos que impeçam sua formação ou ajudem a eliminá-los antes que causem danos aos neurônios’, afirma.

Assim, poderia levar a uma prevenção mais eficaz ou até mesmo a um tratamento mais precoce, até antes dos primeiros sintomas aparecerem.

‘Além disso, essa pesquisa reforça a importância de cuidar da saúde do cérebro ao longo da vida, evitando fatores que aumentam o estresse celular, como inflamações, poluição e maus hábitos. Ainda há um longo caminho pela frente, mas essa descoberta abre portas para novas estratégias de prevenção e tratamento’, conclui a médica.


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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde
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