Um levantamento feito com base nos dados do Sistema Único de Saúde (SUS), mostra que o número de pessoas contaminadas pelo vírus HIV reduziu no Brasil entre 2018 e 2023. Em 2018 eram quase 34 mil casos registrados, no ano passado, foram quase 15 mil. Em Minas Gerais, a redução foi ainda maior, de cerca de 60%. Em 2018, o Estado registrava 3.582 casos. Em 2023, os casos foram reduzidos para 1.401. De acordo com o médico infectologista e professor do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais, Unaí Tupinambás, mesmo que haja algumas subnotificações, os dados representam um avanço na medicina.
“O que pode implicar nessa redução são as políticas públicas do Ministério da Saúde. Se na década de 80 a gente falava em uso de camisinha, hoje a gente tem várias opções para poder fazer prevenção do HIV. A camisinha, claro que é uma delas, a camisinha feminina, masculina, mas também temos o teste rápido do HIV. Quanto mais precoce você faz o diagnóstico, melhor é, porque você trata aquela pessoa e aquela pessoa não vai transmitir o vírus. Eu tenho um tratamento precoce, eu trato as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), que também diminuem a chance de transmissão. A gente tem no SUS a PEP, que é a profilaxia pós-exposição. Você tem vítima de estupro, por exemplo, você pode usar o medicamento dentro de 72 horas para evitar que aquele crime, no caso de estupro, possa transmitir o HIV. E tem a PREP, que também tem no SUS, que é o medicamento que você toma antes das relações sexuais, que também tem mostrado até 99% de eficácia naquelas pessoas que tomam medicamento”, detalha.
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O especialista destaca que apesar da subnotificação, que deve existir nestes casos, a redução do número de pessoas infectadas com o vírus está diretamente ligada à política pública que disponibiliza o tratamento, principalmente, o tratamento precoce. “Hoje, todo mundo que tem HIV trata, e o tratamento hoje é fácil, são dois comprimidinhos por dia, às vezes apenas um comprimidinho por dia, sem nenhum, pouquíssimo efeito colateral e altamente eficaz. Todo mundo que toma o remédio corretamente, a carga viral, ou seja, a quantidade de vírus circulando no sangue fica zerado, os pacientes falam isso, a minha carga zerou, e quando a carga viral fica zerada, a OMS já declarou isso, indetectável, é intransmissível, ou seja, aquela pessoa não transmite mais o vírus. Então pode ser que essa política de distribuição do medicamento, ampliar a oferta de tratamento, possa estar tendo impacto nesses novos casos de HIV, e não deixa de ser uma notícia muito boa para o Brasil, neste momento”, conclui Unaí Tupinambás, médico infectologista e professor do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais.