A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), ouve na próxima segunda-feira (15), o lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, apontado como um dos principais operadores do esquema de descontos ilegais em aposentadorias e pensões.
Antunes foi preso nesta sexta-feira (12), em Brasília, durante a Operação Cambota, deflagrada pela Polícia Federal com autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), André Mendonça. Apesar da prisão, o presidente da comissão, senador Carlos Viana (Podemos-MG), informou que já pediu ao STF a liberação do lobista para prestar depoimento às 16h de segunda.
Segundo parlamentares, o “Careca do INSS” é visto como o elo central do grupo criminoso, responsável por movimentações financeiras atípicas e volumosas. Relatórios de inteligência apontam que Antunes teria desempenhado papel de destaque na engenharia de uma fraude bilionária contra a Previdência. Sua convocação foi uma das mais solicitadas pelos integrantes da CPMI, ao todo, 14 requerimentos pediram sua presença, incluindo os do relator Alfredo Gaspar (União-AL) e do senador Izalci Lucas (PL-DF).
Pressão sobre Lupi
Enquanto cresce a expectativa pelo depoimento de Antunes, o ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi, enfrenta cada vez mais questionamentos sobre sua conduta à frente da pasta. Nesta semana, em depoimento que durou mais de dez horas, ele negou ter qualquer relação pessoal com Tônia Galetti, conselheira do Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS) que o alertou sobre denúncias de irregularidades.
A fala entrou em choque com a versão dada em abril, na Câmara dos Deputados, quando Lupi classificou a mesma conselheira como “amiga pessoal”. O advogado do ex-ministro, Wálber Agra, tentou justificar a divergência, alegando que a expressão usada na ocasião teria apenas um caráter coloquial.
Outro ponto de atrito com os parlamentares foi a negativa de Lupi sobre ter recebido relatórios da Controladoria-Geral da União (CGU). Os documentos já indicavam descontos irregulares em benefícios de aposentados, mas, segundo o ex-ministro, nunca chegaram diretamente a ele — apenas ao INSS ou a áreas técnicas do governo.
Para integrantes da CPI, a contradição nas declarações de Lupi fragiliza sua defesa e pode levar a um novo convite, ou até mesmo a uma convocação formal para acareação com outros depoentes.
Operação em andamento
Além de Antunes, a Operação Cambota também prendeu o empresário Maurício Camisotti, igualmente convocado a falar na CPI. O senador Carlos Viana afirmou que a ofensiva da Polícia Federal é apenas o primeiro passo e que outros 19 suspeitos ligados a sindicatos e associações ainda precisam ser responsabilizados. Segundo ele, essas entidades atuaram por meio de empresas fantasmas para desviar recursos da seguridade social.
O avanço das investigações e as contradições no depoimento de Lupi aumentam a tensão política em torno do caso. A expectativa é de que a próxima semana seja decisiva para esclarecer até que ponto a cúpula do Ministério da Previdência e a direção do INSS tinham conhecimento das fraudes.