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Fuad Noman: do restaurante do pai à cadeira de prefeito de BH, relembre a trajetória

Prefeito de BH participou da formulação do Plano Real e foi secretário do governo de Minas; Fuad deixa a esposa, dois filhos e quatro netos

Fuad Noman

Morreu nesta quarta-feira (26), aos 77 anos, o prefeito reeleito de Belo Horizonte, Fuad Noman. Ele estava internado no Mater Dei, em Belo Horizonte, desde o dia 3 de janeiro após complicações de uma insuficiência respiratória.

Fuad Noman deixa a esposa Mônica, dois filhos e quatro netos.

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Nascido em BH em 30 de junho de 1947, em família de imigrantes sírios, Fuad começou a trabalhar ainda na adolescência, no bar do pai, onde exercia todas as funções. “Foi lá que aprendi a servir”, lembrou, em entrevista à Itatiaia logo após as eleições.

Fuad serviu no Exército Brasileiro no 12º Batalhão, na capital mineira, por onze anos. “Foi onde eu entrei um garoto e sai um homem”, lembrou, no discurso de posse em 2022. Chegou à patente de terceiro sargento.

Bacharel em Ciências Econômicas pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília (Ceub) e pós-graduado em Programação Econômica e Execução Orçamentária, Fuad também era Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).

Plano Real

Fuad Noman ingressou no serviço público como funcionário de carreira do Banco Central. Trabalhou no Tesouro Nacional, foi secretário-executivo da Casa Civil da Presidência da República, diretor do Banco do Brasil e presidente da BrasilPrev. Trabalhou como consultor do Fundo Monetário Internacional para o governo de Cabo Verde.

Fuad ainda atuou no Plano Real, conjunto de reformas econômicas promovidas em 1993/94, no governo Itamar Franco, que culminaram no lançamento da nova moeda. O mineiro era consultor adjunto.

“Tinha um secretário executivo e eu era adjunto. Meu foco eram os bancos oficiais federais. Havia uma grande preocupação que, com o Plano Real, pudesse haver um choque e falta de recursos dos bancos. Era necessário que estivessem preparados para o impacto do Plano Real”, explicou em entrevista recente.

Governo de Minas

No Governo de Minas, Fuad foi secretário de Fazenda no governo Aécio Neves (PSDB). Ganhou notoriedade com assuntos relacionados às finanças do Estado.

“Em 2003, quando o Aécio assumiu o governo, me convidou para a Fazenda. A situação do estado era de calamidade, não tinha dinheiro para pagar a conta de luz. Devia R$ 5 bi de curto prazo. Não adianta querer gastar mais do que tem. Com a Secretaria de Planejamento conseguimos criar uma mecânica de só gastar o que tinha em caixa. Isso permitiu que no primeiro ano o estado pagasse o 13º em dia”, lembrou.

Depois da Fazenda, Fuad assumiu como secretário de Transporte e Obras Públicas. Foi ainda secretário extraordinário da Copa do Mundo, presidente da Gasmig e secretário de extraordinário para a Coordenação de Investimentos.

Fuad também ficou conhecido como escritor. Lançou “O Amargo e o Doce” (Editora Quixote + Do) em 2019 e “Cobiça” (Editora Ramalhete) em 2020. Os romances abordam histórias que se passam em Minas. Durante a campanha de 2024, o adversário Bruno Engler (PL) utilizou trechos de “Cobiça”, que contém descrições de violência, para atacar Fuad. O prefeito se queixou de ter o texto literário tirado de contexto pelo adversário para tentar influenciar o eleitorado conservador.

Prefeito de Belo Horizonte

Entre 2017 e 2020, Fuad Noman foi secretário de Fazenda de Belo Horizonte no primeiro mandato de Alexandre Kalil. Em 2020, foi eleito vice-prefeito na chapa de Kalil. Assumiu a PBH aos 74 anos, em 29 de março de 2022, quando Kalil renunciou para disputar o governo de Minas.

Em entrevista à Itatiaia, refletiu sobre a experiência de comandar o executivo municipal. “Como técnico, sempre me preocupei em cuidar das contas públicas, mas nunca tinha feito nada diretamente para o povo. Quando assumi a PBH, comecei a ver os olhos das pessoas quando entregava uma casa, um centro de recuperação, uma obra. As pessoas se emocionavam. E eu pensava: ‘Que bom que consegui fazer isso’”.

Reconhecido como o senhor que usava suspensórios em todos os eventos, Fuad priorizou obras contra enchentes e investimentos na frota de ônibus. Às vésperas do primeiro turno, em junho de 2024, informou que havia sido diagnosticado com um câncer chamado linfoma não Hodgkin.

Fuad terminou o primeiro turno das eleições em BH no segundo lugar, com 26% dos votos, atrás de Bruno Engler, com 34%. A campanha começou tímida, mas conseguiu superar Mauro Tramonte, que começou a disputa na liderança e terminou em 3º, com apenas 15% dos votos.

Em 15 de outubro, Fuad anunciou que o câncer estava superado e que tinha sido liberado da quimioterapia. Dias depois, em 27 de outubro, Fuad superou Engler e foi reeleito prefeito de Belo Horizonte com 670.574 votos, ou 53,73%.

Graduado em jornalismo e pós graduado em Ciência Política. Foi produtor e chefe de redação na Alvorada FM, além de repórter, âncora e apresentador na Bandnews FM. Finalista dos prêmios de jornalismo CDL e Sebrae.