Durante o julgamento do réu Aécio Lúcio Costa Pereira, por envolvimento nas ações do 8 de janeiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, relembrou um episódio envolvendo a Torcida Organizada Galoucura no ano passado.
Mendes criticava a falta de ação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para desbloquear as rodovias ocupadas por manifestantes bolsonaristas após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições do ano passado. Segundo ele contou no plenário do STF nesta quinta-feira (14), o então ministro da Justiça, Anderson Torres, teria dito a ele que o governo federal não tinha condições de enfrentar os manifestantes e que era necessário a decretação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), quando as Forças Armadas são convocadas.
“Na conversa com ele fiz até uma abordagem jocosa, e disse: ‘poxa, a Galoucura, a torcida do Galo, conseguiu abrir pistas porque eles estavam sendo impedidos de ver um jogo. Mas a nossa PRF não conseguia? Precisava das Forças Armadas?”, questionou.
Neste momento, ele foi interrompido pelo ministro Alexandre de Moraes, que concordou.
“Esse caso é tão esdrúxulo, ministro Gilmar. Me traz tanta inquietação...”, disse durante o julgamento.
De acordo com a explanação do ministro Gilmar Mendes, havia uma intenção por parte do governo para que a GLO fosse decretada pelo então presidente Jair Bolsonaro, após perder as eleições.
“Cheguei a falar com o ministro da Justiça naquele momento e ele chegou a dizer: ‘nós não temos força para enfrentar e, para isso, precisamos da GLO. A GLO era exatamente a senha para a insegurança. É isso que a gente precisa entender. Esse grupo estava conectado com o Comando. Claro que temos que julgar os casos que estão postos, mas havia uma questão que estava toda ela associada”, argumentou.
Fura-bloqueio
O caso relembrado pelo ministro Gilmar Mendes ocorreu em 1º de novembro do ano passado. Na ocasião torcedores vinculados à Galoucura viajavam de Belo Horizonte para São Paulo, onde o Atlético jogaria contra o São Paulo, na capital paulista.
Havia um bloqueio feito por manifestantes bolsonaristas na BR-381, com pneus queimados, impedindo a passagem de veículos. Os torcedores desceram do ônibus e liberaram a pista para que pudessem seguir viagem.
Primeiro réu condenado
Aécio Lúcio Pereira da Silva, que era servidor público em São Paulo, foi o primeiro réu a ser julgado pelo Supremo por envolvimento no 8 de janeiro. Ele foi condenado a 17 anos de prisão por dano qualificado, deterioração de patrimônio público tombado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e associação criminosa.