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Ronaldinho Gaúcho, ora monossilábico, ora em silêncio depõe à CPI das Pirâmides e alega uso indevido de imagem

Ex-jogador Ronaldinho Gaúcho depôs à CPI das Pirâmides nesta quinta-feira (31); ele acusou a 18K Ronaldinho de uso indevido de imagem

CPI das Pirâmides Financeiras ouviu Ronaldinho Gaúcho nesta quinta-feira

A fila de servidores na entrada do plenário da Câmara dos Deputados alertava para a presença inédita na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Pirâmides Financeiras, na sessão da manhã de quinta-feira (31). No interior da sala, celulares no corredor à esquerda clicavam o depoente — o campeão da Copa Libertadores e da Copa do Mundo, Ronaldinho Gaúcho. Estrela da Seleção Brasileira e de clubes como Atlético e Flamengo, ele compareceu de forma espontânea à sessão após faltar em duas ocasiões anteriores — o que levou, aliás, a um pedido da CPI para que a Polícia Federal (PF) o conduzisse coercitivamente.

Ao lado do irmão Assis Moreira, do advogado Eugênio Pacelli e de um grupo de assessores, Ronaldinho Gaúcho chegou ao plenário da Câmara dos Deputados pela antessala e se sentou à primeira fileira. A sessão começou às 10h30 de quinta-feira (31), e Ronaldinho foi levado à cadeira dos depoentes para responder às perguntas dos parlamentares sobre a atuação da 18K Ronaldinho.

O grupo é investigado por suposta fraude em pirâmide financeira e marketing multinível a partir do uso de criptomoedas; segundo o relator da CPI, Ricardo Silva (PSB-SP), a 18K Ronaldinho prometia lucros diários de até 2%. No início de suas declarações, o ídolo do Atlético negou envolvimento com o grupo e afirmou que os proprietários usaram indevidamente sua imagem para negociar moedas digitais em 2019. “Diferente do que está sendo divulgado, não é verdade que sou fundador e sócio da 18K Ronaldinho. Nunca fui sócio da 18K Ronaldinho”, afirmou.

O atleta ressaltou que 18K Ronaldinho era uma linha de relógios licenciada pela 18K Watches, uma marca que contratou sua imagem. A empresa de criptomoedas, então, teria usado fotografias do jogador para negociar moedas digitais. “Utilizaram as fotos que eram da propaganda do relógio”, reforçou o ex-jogador. “Mesmo tendo ciência que estavam usando sua imagem, o senhor se calou? O senhor não tomou nenhuma atitude”, perguntou o relator Ricardo Silva. “Vou ficar em silêncio”, respondeu Ronaldinho Gaúcho.

O irmão Assis Moreira apareceu em incontáveis respostas do esportista à CPI das Pirâmides Financeiras. Ronaldinho atribuiu ao irmão — e empresário — a obrigação de ler e assinar seus contratos empresariais. Em depoimento na última quinta-feira (24), Assis Moreira afirmou à CPI das Pirâmides que conhecia Marcelo Lara, co-fundador da 18K Ronaldinho, e indicou que ele participou de sessões de foto da 18K Watches. “Encontrei algumas vezes em dias de gravação”, afirmou Ronaldinho à CPI.

O ex-jogador declarou que Assis, quando descobriu sobre o uso indevido da imagem, decidiu romper o contrato com a 18K Watches. “Quando meu irmão percebeu que eles estavam usando minha imagem indevidamente, ele cancelou o contrato”, garantiu.

Ora em silêncio, ora monossilábico

Ronaldinho Gaúcho não se estendeu nas respostas dadas aos parlamentares que foram à sessão marcada para quinta-feira (31). O esportista se negou a responder a algumas questões apresentadas, principalmente as que foram feitas pelo deputado Alfredo Gaspar (União-AL). “Seu irmão chega com a ideia de uma propaganda para você... Seu irmão escolhe ou você decide se fará ou não?”, perguntou. “Se ele [Assis] dissesse: ali tem uma loja de sex shop que nos dará um R$ 1 bilhão em propaganda, o senhor faria?”, insistiu. “Vou permanecer em silêncio”, rebateu Ronaldinho.

Em outras indagações apresentadas, o ídolo da Seleção Brasileira respondeu, mas se limitou a pouquíssimas palavras. “Seu irmão já te colocou em alguma enrascada?”, questionou Alfredo Gaspar. O ex-atleta pensou por alguns segundos e respondeu: “nem sempre as coisas saem certo... Mas, ele sempre tentou dar o melhor”, disse.

Mal-estar. A audiência se agitou apenas após a chegada da deputada Carla Zambelli (PL-SP), que se propôs a criticar a condução do depoimento na CPI das Pirâmides Financeiras. A parlamentar é líder da minoria na Câmara dos Deputados, mas não integra a comissão. Ela afirmou que a convocação de Ronaldinho era desnecessária e disparou que o depoimento deveria ocorrer em sala privada para não expôr o depoente.

As falas de Zambelli geraram mal-estar ao presidente da CPI, deputado Aureo Ribeiro, e ao relator Ricardo Silva. “Não podemos aceitar que a senhora, que veio na primeira reunião hoje, faça uma análise da CPI sem ver o arcabouço que nós estamos trazendo de investigação e de fatos”, afirmou Silva. “Nenhum brasileiro, famoso ou não, jogador ou não, está livre de questionamentos”, acrescentou.

Repórter de política em Brasília. Na Itatiaia desde 2021, foi chefe de reportagem do portal e produziu série especial sobre alimentação escolar financiada pela Jeduca. Antes, repórter de Cidades em O Tempo. Formada em jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais.