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Zema pede derrubada de regras especiais para promoção de policiais penais

Mudanças aprovadas pela Assembleia são questionadas na Justiça um ano após aprovação pelo Legislativo

Governo Zema questiona, na Justiça, regras aprovadas pela Assembleia para a Polícia Penal

O governo de Romeu Zema (Novo) entrou com uma ação no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) na qual pede que os desembargadores derrubem uma série de artigos da emenda à Constituição Estadual que criou a Polícia Penal. As alterações foram aprovadas pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) em junho de 2022.

As mudanças na Constituição Estadual foram propostas pelo ex-deputado Delegado Heli Grilo (União). Porém, segundo Zema, apenas o governador tem o direito de propor mudanças na estrutura dos órgãos do governo de Minas e também nas regras das carreiras dos servidores públicos.

Por isso, Zema pediu que a emenda seja declarada inconstitucional, com exceção dos artigos que determinam que a Polícia Penal é um dos órgãos da segurança pública de Minas Gerais ao lado da Polícia Militar, da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros, e que a instituição é subordinada ao chefe do Poder Executivo.

A Procuradoria-Geral de Justiça se manifestou favorável ao pedido. Já a ALMG defendeu que todos os artigos sejam mantidos. Procurado, o Governo de Minas disse que não comenta processos em andamento. O julgamento, inicialmente marcado para quarta-feira (9), foi adiado e a previsão é que o Órgão Especial se reúna presencialmente no dia 13 de setembro para julgar a questão.

A emenda constitucional determina que as avaliações de desempenho dos policiais penais para promoção e progressão na carreira tenham regras especiais, assim como acontece com os policiais civis.

“A matéria referente à avaliação de desempenho de servidores da Polícia Civil e da recém-criada Polícia Penal, assim como suas promoções e progressões na carreira constitui um dos aspectos do regime jurídico dos servidores do Poder Executivo. Assim, está submetida à iniciativa privativa do Governador do Estado”, afirma o Governo de Minas no processo.

Em outro trecho, a emenda constitucional determina que as promoções na Polícia Penal sejam realizadas, de forma alternada, pelos critérios de antiguidade e merecimento. Segundo o governo Zema, a legislação atual inclui os policiais penais junto com os demais servidores, que têm como critérios de promoção tempo, mérito e escolaridade. “A inovação legislativa através da mão parlamentar, portanto, não pode prevalecer”, argumenta a Advocacia-Geral do Estado (AGE).

Outro artigo que a AGE pede que seja derrubado é o que determina que a Polícia Penal seja comandada por policial penal com pelo menos 15 anos de carreira e com diploma de bacharel em Direito. Novamente, o argumento é que apenas o governador poderia propor essa regra.

Parlamentar vê incoerência do governo

O relator da emenda constitucional durante as discussões na ALMG foi o deputado estadual Sargento Rodrigues (PL). À Itatiaia, ele afirmou que o governo Zema é incoerente pois integrantes da base de governo votaram em peso para aprovar as mudanças e, mais de um ano depois, o governador passou a questionar a constitucionalidade das alterações.

“Em um primeiro momento faz acordo [para votação], mas no segundo momento apunhala os deputados pelas costas. Vejo total incoerência do governo”, diz ele. “Eu discordo da posição do governo quanto ao vício de iniciativa. Eles não impugnaram [pediram a derrubada dos artigos da] a criação da Polícia Penal. O que a gente percebe claramente é que aquilo que lhe é conveniente, o governo mantém. Aquilo que não é conveniente, ele argui a inconstitucionalidade”, analisa o deputado.

Sargento Rodrigues lembra que a emenda constitucional foi aprovada com voto favorável de 65 dos 77 parlamentares, o que, segundo ele, indica que a base governista concordava com a proposta. “Eu pergunto: teria como aprovar essa PEC sem que o governo apoiasse? Não. [...] O governador não pode orientar seus líderes a votarem a favor e um ano e dois meses depois arguir inconstitucionalidade”, concluiu o parlamentar.