A cerca de um ano e meio das eleições municipais de 2024, o Partido dos Trabalhadores (PT) já começa a debater a estratégia a ser adotada na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Neste momento, segundo apurou a Itatiaia, lideranças de diferentes correntes são simpáticas à ideia de lançar uma candidatura própria.
A hipótese está amparada no “legado” das gestões anteriores da legenda na cidade. O fato de o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ser filiado à agremiação também é levado em consideração.
Embora a construção de uma chapa encabeçada pelo PT seja bem avaliada, interlocutores não descartam uma aliança a postulantes de outros partidos, como o prefeito Fuad Noman (PSD) — que ainda não decidiu se tentará a reeleição. Internamente, diversos nomes são ventilados. Entre eles, está o deputado federal Rogério Correia. As deputadas estaduais Beatriz Cerqueira e Macaé Evaristo, bem como o parlamentar federal Reginaldo Lopes, também têm sido citadas.
O partido deve montar um grupo de trabalho (GT) para conversar sobre as táticas municipais. Depois dos debates internos, as conversas com outras siglas vão ser intensificadas.
O primeiro passo da etapa externa será tratar com PCdoB e PV, que compõem a federação “Brasil da Esperança”, liderada pelo PT. Pelas regras eleitorais, as forças da coalizão devem caminhar juntas em todas as cidades brasileiras no ano que vem.
“Sem dúvida, o desejo que surge das bases é por candidatura própria, por saber e conhecer o tamanho do PT na construção da democracia brasileira”, diz, à Itatiaia, o presidente da agremiação em BH, Guima Jardim.
“O presidente Lula representa, para nós, a retomada dessa democracia. Com isso, temos a responsabilidade e o entendimento de que o PT não descarta o apoio a candidatura de outro partido, muito embora o desejo latente seja por candidatura própria”, completa.
Além de comunistas e verdes, o PT quer ampliar o cordão de alianças e planeja abrir tratativas com outros partidos à esquerda, como Psol e Rede Sustentabilidade. Legendas do centro à centro-esquerda que estão na base aliada a Lula, a exemplo do PSB, também vão ser consultadas.
Presidente do PT mineiro, o deputado estadual Cristiano Silveira afirma que o partido quer construir as condições ideais para liderar uma chapa em Belo Horizonte, mas pondera que o martelo só será batido mais à frente, quando a conjuntura eleitoral estiver consolidada.
“Temos toda a condição de apresentar nomes. Não vamos impor nada. (São) nomes para a gente abrir a discussão”, explica.
‘Unificação’ do partido é meta
O último petista a disputar a PBH foi Nilmário Miranda, em 2020. Hoje Assessor Especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, ele terminou a disputa em 5° lugar. À época, o partido não firmou alianças e esteve nas urnas com chapa “puro-sangue”.
O nome de Nilmário acabou escolhido em uma votação interna. Rogério Correia, cotado para a eleição do próximo ano, participou das prévias, mas acabou derrotado. Vice-líder do governo Lula na Câmara dos Deputados, o parlamentar não descarta concorrer à sucessão de Fuad, mas prega unidade.
“Avalio, sim, colocar meu nome, desde que isso unifique o PT. E, a partir daí, construir um programa com todas as forças políticas que se articulam em torno de Belo Horizonte”, assinala.
Os petistas chegaram a ter seis representantes na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH). Hoje, têm apenas dois dos 41 assentos. O desempenho na etapa mineira da eleição do ano passado, porém, é considerado positivo. O diretório estadual elegeu 10 deputados federais e 12 integrantes da Assembleia Legislativa. Os números podem pesar a favor de uma candidatura própria.
“O PT é um partido grande, com grandes bancadas federais e estaduais. O presidente Lula tem tido boa avaliação em Minas e venceu no estado”, pontua Cristiano Silveira.
‘Legado’ na ponta da língua
Citações aos períodos do PT na Prefeitura de Belo Horizonte são recorrentemente feitas por filiados para defender a necessidade de protagonismo do pleito do próximo ano. O partido elegeu Patrus Ananias em 1992 e, em 2004, venceu com Fernando Pimentel.
Houve, ainda, a união a Célio de Castro, que venceu a corrida rumo ao prédio da Avenida Afonso Pena em 1996 e 2000 pelo PSB, mas posteriormente se mudou ao PT. No primeiro triunfo de Célio, a legenda de Lula não o apoiou — optou por Virgílio Guimarães. Na reeleição, porém, esteve na chapa ganhadora.
“O PT tem um legado importante na cidade. Governamos a cidade com Patrus Ananias, e foi uma gestão de muita participação popular e uma efervescência social muito grande. (Houve a) reconstrução de Belo Horizonte através de Lei Orgânica, Plano Diretor e Lei de Uso e Ocupação do Solo”, fala Rogério Correia, que também cita os sucessores de Patrus.
“Célio de Castro, por exemplo, foi quem iniciou o processo da bolsa escola, que hoje é o Bolsa Família de Lula. E, depois, Fernando Pimentel, já com o governo Lula, com muitas obras de infraestrutura e moradia popular”, continua.
A ideia da direção do partido é, justamente, utilizar os governos que comandou como espécie de “baliza” para definir os rumos.
“Com essa experiência, vamos dar início a um processo de avaliação das políticas públicas implantadas na capital, de forma territorial, mas também as políticas ambientais, moradia, emprego, renda e segurança pública”, projeta Guima Jardim.
A equação em prol da candidatura própria pode ganhar, ainda, novo fator: a iminência de uma candidatura alinhada a Jair Bolsonaro. O partido do ex-presidente, o PL, se articula para lançar o deputado estadual Bruno Engler, segundo colocado três anos atrás.
Na opinião de interlocutores ouvidos pela reportagem, a presença de uma força à direita pode contribuir para a polarização da disputa, tal qual aconteceu na eleição presidencial do ano passado. Nesse cenário, o PT ganharia força como contraponto ao bolsonarismo.
Em outra frente, quem também se movimenta para concorrer à Prefeitura de BH é o senador Carlos Viana (Podemos). Ele tem o ex-deputado federal Leonardo Quintão, do MDB, como articulador político.
Conversas ‘em casa’ são essenciais
Quadros ligados ao PT têm espaço na administração de Fuad Noman, que apoiou Lula no segundo turno contra Bolsonaro. A avaliação, neste momento, é que um eventual apoio ao prefeito do PSD não pode ser norteado apenas por uma eventual proximidade a Lula. É preciso, antes, construir localmente uma aliança.
No mês passado, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, esteve em Minas Gerais. Ela visitou Belo Horizonte e se encontrou com correligionários para debater as conjunturas locais, mas evitou fazer apontamentos concretos.
“Precisamos de disposição para os desafios eleitorais que temos pela frente. Então, a presença é para conversar com o PT, com nossos dirigentes e deputados. Tratar da estratégia para a próxima eleição e da organização partidária. A gente vai ter várias plenárias agora, no segundo semestre, para essa organização dos diretórios municipais”, vislumbrou.