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Comum entre calopsitas, papagaios e periquitos, entenda o que é o picanismo

Comportamento pode indicar estresse, doenças ou carência ambiental, e exige atenção do tutor

O hábito pode surgir por tédio, estresse, má alimentação, doenças ou falta de estímulos, apontam os especialistas.

Ver uma ave arrancando as próprias penas pode ser angustiante para quem aprecia e convive com ela. O comportamento tem nome, é conhecido como picanismo, ou piquice, e trata-se de uma automutilação, um sinal de que algo está errado no corpo ou no ambiente do animal.

A prática é relativamente comum em aves domésticas, e comumente vista entre calopsitas, papagaios e periquitos, mas ainda assim deve ser vista como “normal”.

O hábito pode surgir por tédio, estresse, má alimentação, doenças ou falta de estímulos, apontam os especialistas. A veterinária Marcela Ortiz explica que “a natureza está no DNA das aves, então todas elas sentem a alteração quando vivem em ambientes pouco estimulantes”.

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A automutilação pode começar de forma leve, uma peninha arrancada aqui e ali, e evoluir até causar ferimentos e infecções. Além da perda de plumagem, a ave pode apresentar inquietação, sono irregular, isolamento e até perda de apetite.

Ainda de acordo com Ortiz, “as aves depenam como forma de se acalmarem ou por aborrecimento, mas também pode haver causas médicas, como infecções e deficiências nutricionais”.

Para reverter o problema, é preciso agir de forma integrada, em vez de isolada. Isso significa identificar a causa e ajustar o ambiente, a alimentação e a rotina. Apenas um veterinário especializado poderá indicar o tratamento adequado, mas o tutor pode colaborar com uma série de medidas simples no dia a dia.

A Itatiaia listou algumas delas:

  • Leve a ave a um especialista em animais silvestres para descartar doenças de pele, parasitas e deficiências nutricionais.
  • Ofereça dieta variada com sementes, frutas e verduras adequadas à espécie; suplementos só devem ser usados com orientação profissional.
  • Ambiente enriquecido: proporcione brinquedos, poleiros de diferentes tamanhos, galhos naturais e tempo fora da gaiola em local seguro.
  • Mantenha horários fixos para alimentação, descanso e interação, evitando mudanças bruscas.
  • Aves são animais sociáveis e precisam de estímulos diários, pois a solidão prolongada é uma das principais causas do problema.

“Quanto mais ocupada a ave estiver, menos vai pensar em arrancar as penas”, conclui Ortis.

E o mais importante: o comportamento de piquice não deve ser punido, mas compreendido como um pedido de ajuda.

Jessica de Almeida é repórter multimídia e colabora com reportagens para a Itatiaia. Tem experiência em reportagem, checagem de fatos, produção audiovisual e trabalhos publicados em veículos como o jornal O Globo e as rádios alemãs Deutschlandfunk Kultur e SWR. Foi bolsista do International Center for Journalists.