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Dólar dispara com lançamento de Lula do novo crédito imobiliário e incerteza fiscal

Moeda americana opera em forte alta com o mercado aumentando a percepção de risco do governo federal e a popularidade de Lula

Dólar valoriza quase 2% frente ao real na metade do dia

O dólar disparou no início da tarde desta sexta-feira (10) valorizando quase 2%, cotado a R$ 5,48, com a piora na percepção de risco fiscal no Brasil. No dia, o real é a moeda de pior desempenho, com investidores avaliando uma expansão dos gastos do governo federal e as perspectivas de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Na máxima intradiária, a moeda americana foi cotada em R$ 5,49, logo após o lançamento do novo crédito imobiliário pelo governo federal. A medida é uma estratégia para aumentar a popularidade de Lula entre a classe média, em um cenário em que as pesquisas já mostram um relativo favoritismo do petista em 2026.

Segundo o economista sênior do Inter, André Valério, o dia está sendo marcado por incertezas, na esteira da não aprovação da Medida Provisória (MP) alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A normativa era uma das apostas do governo para equilibrar as contas. “O câmbio opera em forte desvalorização em dia de incertezas domésticas e volatilidade externa”, disse.

Entenda o novo crédito imobiliário

O novo modelo de crédito imobiliário reestrutura o uso da poupança para ampliar a oferta de crédito. A medida vai usar o total dos recursos depositados na caderneta como referência para uso no setor habitacional, levando ao fim dos depósitos compulsórios do Banco Central (BC). Atualmente, o modelo prevê 65% dos recursos da poupança direcionados ao crédito imobiliário; 15% livres; 20% ficam com o BC.

O sistema também eleva o valor máximo do imóvel financiado no Sistema Financeiro da Habitação (SFH), passando de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões. O financiamento do SFH vinha perdendo força na medida em que os saques da caderneta de poupança começam a crescer. Em 2025, R$ 78,5 bilhões já foram retirados dessa modalidade de investimentos.

A expectativa é que a medida alcance famílias com renda superior a R$ 12 mil, uma vez que essa faixa de renda já é atendida pelo Minha Casa, Minha Vida com juros menores. A previsão é que a Caixa financie mais de 80 mil novas moradias até 2026.

Volatilidade externa

André Valério cita como outro fator no radar dos investidores as declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que avalia novas medidas comerciais contra a China. Segundo o republicano, o governo de Xi Jinping não está cooperando nas exportações de terras raras, citando a possibilidade dos chineses de controlar esse mercado.

Segundo o especialista, o imbróglio com a China causa um movimento de desvalorização de commodities, afetando as moedas mais sensíveis à exportação desses itens, como o mercado brasileiro. “Com isso, vimos um movimento de risk-off generalizado na economia global, que levou a um movimento de desvalorização do dólar frente às principais moedas, favorecendo euro, iene e metais preciosos”, afirmou.

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Jornalista formado pela UFMG, Bruno Nogueira é repórter de Política, Economia e Negócios na Itatiaia. Antes, teve passagem pelas editorias de Política e Cidades do Estado de Minas, com contribuições para o caderno de literatura.