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Qual foi o objetivo de Trump ao citar Lula em seu discurso na ONU?

Presidente norte-americano discursou logo após o brasileiro na terça-feira (23), no primeiro dia da Assembleia Geral da ONU

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante seu discurso na Assembleia Geral da ONU

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu a todos nesta semana ao citar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). Ele falou logo após o líder brasileiro na terça-feira (23).

Muito se questionou sobre o objetivo do norte-americano ao citar Lula, com quem teve alguns embates, sobretudo em relação ao tarifaço. Trump contou que ele e Lula se encontraram brevemente e tiveram uma “química excelente”.

Segundo o professor de Relações Internacionais da UNA, Fernando Sette Júnior, o objetivo de Trump foi “político e simbólico”.

“Ao citar Lula, Trump sinalizou abertura ao diálogo com o Brasil, mas também reafirmou a assimetria da relação. Mostrou que, em sua lógica, a aproximação dependerá de concessões que interessem diretamente aos EUA. É uma forma de manter o Brasil sob pressão, mas também de deixá-lo à mesa de negociação”, explicou o docente.

O discurso do presidente norte-americano, de acordo com o professor, mostra uma mudança de estratégia de comunicação. “Trump manteve o tom crítico às instituições multilaterais, mas tentou se reposicionar como ‘pacificador global’. Isso mostra menos ruptura de conduta e mais um esforço de marketing político, voltado a reforçar sua imagem internacional”, afirmou.

“O discurso reforça três pontos: (1) Trump usa a retórica como ativo diplomático, mesmo com pouca base factual; (2) mantém ceticismo em relação ao multilateralismo, priorizando acordos diretos e bilaterais; (3) suas falas aumentam a incerteza internacional, afetando comércio, investimentos e confiança nas instituições globais”, concluiu.

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“Ele se referia a tensões como Egito–Etiópia, Índia–Paquistão, Sérvia–Kosovo, Armênia–Azerbaijão, Israel–Irã, entre outras. Nenhuma dessas disputas foi efetivamente encerrada pelos EUA. São conflitos ainda ativos ou com cessar-fogos frágeis. A frase foi usada para inflar sua imagem de negociador e buscar legitimidade internacional”, explicou.

O docente afirmou, ainda, que as chances de uma vitória de Trump no Nobel são baixas. “Apesar de já ter sido nomeado e de tentar sustentar a narrativa de pacificador, o Nobel exige resultados verificáveis e duradouros, o que não se aplica aos casos citados. A candidatura de Trump tem mais efeito político e midiático do que real possibilidade de vitória”, concluiu.

Formada pela PUC Minas, é repórter da editoria de Mundo na Itatiaia. Antes, passou pelo portal R7, da Record.