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Convites recusados, irritação de Kalil e veto a Zema: saiba os bastidores da campanha de Mauro Tramonte

Aliança entre Zema e Kalil surpreendeu mundo político, mas divergências do passado influenciaram andamento da campanha de Tramonte à prefeitura de BH

Dois dias após o primeiro turno da eleição municipal de Belo Horizonte, as equipes de campanha e articuladores políticos avaliam erros e acertos na busca pelo voto do eleitor na capital mineira. Na campanha do deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos), que acabou na terceira posição, o foco é nos erros que deixaram o parlamentar que liderou as pesquisas por várias semanas de fora do segundo turno.

A reportagem da Itatiaia ouviu nomes que participaram da campanha de Tramonte e que ainda estão avaliando os problemas na articulação política.

“O que começa errado, termina errado”, avalia uma das fontes da campanha de Tramonte ouvidas pela Itatiaia, que pediu para não ser identificada.

Nos últimos dias de julho, após uma articulação sigilosa entre nomes ligados ao governador Romeu Zema (Novo) e o deputado Mauro Tramonte, todos foram surpreendidos com o anúncio de que o ex-prefeito Alexandre Kalil iria participar da campanha e se filiaria ao Republicanos.

Zema e Kalil disputaram o governo de Minas em 2022, com dura troca de ataques durante a campanha eleitoral. O governador foi reeleito em primeiro turno.

“As conversas estavam avançadas entre a direção estadual do Republicanos e os interlocutores do Partido Novo. O anúncio da aliança entre Tramonte e Luísa seria feito na sexta-feira. Dois dias antes, a direção municipal do partido, com o Gilberto Abramo, anunciou a decisão do Kalil, que pegou todos de surpresa e causou mal estar”, conta o integrante da campanha.

Estranhamento com Novo

Um dia depois a direção nacional do Novo divulgou uma nota alfinetando o ex-prefeito de BH: “Esperamos que a escolha de Kalil em mudar de lado não seja fruto de oportunismo político, mas de uma reflexão genuína a respeito dos péssimos resultados apresentados por sua gestão na Prefeitura de BH”.

O ex-prefeito de BH rebateu horas depois em suas redes sociais. “O Novo soltou uma nota hoje me citando. Minha resposta: oportunista é quem vem depois, querendo pegar carona na minha popularidade em Belo Horizonte. O Novo só está na chapa porque eu não vetei”.

Apesar do clima ruim entre Kalil e Novo, Tramonte conseguiu aparar as arestas e deu início à campanha, tendo o ex-prefeito e Luísa Barreto ao seu lado nas primeiras agendas pelos bairros da capital mineira. Com Tramonte na liderança das pesquisas, as diferenças entre os grupos políticos ficaram em segundo plano.

Com algumas semanas de campanha, Kalil e Gilberto Abramo, juntamente com o ex-deputado Adalclever Lopes, assumiram a coordenação política da campanha de Tramonte e passaram a definir a agenda do candidato.

Eles apontaram pesquisas internas para deixar o governador Romeu Zema mais afastado da campanha. “Lá no início, o governador informou que deixaria cinco datas livres para participar de agendas com Tramonte. Mas, analisando de forma equivocada as pesquisas, Kalil, Adalclever e Abramo acharam melhor deixar Zema de fora”, conta outra fonte que participou da campanha.

Uma das agendas que teria a participação de Zema seria o Conexão Empresarial, encontro com empresários que recebia os candidatos e estava marcado para o dia 18 de setembro. “O trio que coordenava a campanha decidiu que Tramonte não deveria ir. Eles queriam que o candidato estivesse associado ao povo e não ao empresariado. Mais um erro de avaliação interna”, afirma. Quatro dias antes do evento, Tramonte desmarcou.

Um outro encontro com empresários do setor gastronômico de BH também foi cancelado por decisão da equipe de articulação política da campanha. Segundo integrantes da campanha, Kalil, Adalclever e Abramo passaram a centralizar cada vez mais as decisões e impediram vozes divergentes de outros grupos que participavam da chapa.

Tensão na reta final

Na reta final de campanha, faltando 10 dias para a eleição, os trackings internos da campanha acenderam o sinal de alerta e os votos que estavam com Tramonte começaram a migrar para Bruno Engler, candidato do PL, e para outros candidatos. A situação adversa acirrou os ânimos da campanha.

“Ficou claro que a presença de Kalil atraiu a rejeição para Tramonte e por isso a decisão foi que ele evitasse participar dos atos de campanha. Talvez pelo fato de o ex-prefeito ter ficado com a imagem associada à do presidente Lula, em 2022, e agora ter se aliado a um candidato mais conservador. Ou talvez pelo fato de ele ter criticado Fuad, que era vice dele. Isso gerou uma desconfiança do eleitor”, avaliou um integrante da própria campanha.

O afastamento de Kalil gerou mais rusgas internas e o ex-prefeito deixou clara sua irritação com os rumos da campanha. As divergências afetaram também a equipe de marketing da campanha, comandada por Cacá Moreno, que chegou à reta final enfrentando grande desgaste e distante do candidato.

Nos últimos dias, as pesquisas registraram a queda de Mauro Tramonte, que chegou a ter 30% das intenções de voto no início da campanha e caiu para a faixa dos 20%. Dois dias antes da eleição, os principais institutos já apontavam um segundo turno entre Bruno Engler e Fuad Noman.

O resultado das urnas confirmou as projeções: Bruno Engler (PL) terminou em primeiro, com 34,38% dos votos válidos, Fuad Noman (PSD) ficou em segundo, com 26,54%, e Mauro Tramonte (Republicanos) terminou em terceiro, com 15,22%.

A reportagem da Itatiaia entrou em contato com o ex-prefeito Alexandre Kalil e com o presidente municipal do Republicanos, deputado Gilberto Abramo, que não retornaram os contatos.

O deputado Mauro Tramonte respondeu às mensagens por Whatsapp e informou que está em viagem. Ele pediu para a reportagem entrar em contato com Abramo, que estará em Brasília para as articulações do partido nos próximos dias.

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Editor de Política. Formado em Comunicação Social pela PUC Minas e em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Já escreveu para os jornais Estado de Minas, O Tempo e Folha de S. Paulo.
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