Com mais de 80% dos recursos dos cofres municipais dependendo da mineração, cidades mineiras estão se antecipando e adotando estratégias para atrair novos negócios para os municípios antes do fim da atividade minerária em seus territórios. A preocupação dos prefeitos é do impacto que pode ser gerado nas cidades após as mineradoras encerrarem as atividades ou interromperem por longos períodos.
Em Santa Bárbara, a produtora AngloGold interrompeu as atividades por tempo indeterminado e demitiu 650 funcionários alegando que estava operando no vermelho. Na cidade vizinha Rio Piracicaba, a Vale não divulgou números, mas a Itatiaia apurou que centenas de funcionários foram transferidos para outras unidades da empresa, que alega que está promovendo ajustes com base no “plano de negócio e demandas de mercado”. Nos dois casos, autoridades reclamam que as cidades não foram avisadas com antecedência para se planejarem.
A cidade de Itatiaiuçu tem menos de 13 mil habitantes e 90% da receita municipal é atrelada à mineração. Empresas como ArcelorMittal, Aperam e Minerita operam no município. Por lá, a prefeitura já está se preparando para o momento que minas do município se esgotarem, o que deve ocorrer em cerca de 40 anos. Neste mês, o executivo assinou um convênio com Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) para gestão do fundo de desenvolvimento econômico criado pelo município para incentivar a diversificação econômica.
Em entrevista à Itatiaia, o prefeito Adelcio Rosa de Morais detalhou algumas estratégias que a cidade tem adotado para atrair novas empresas para a cidade.
“Em maio, lançamos o Itatiaiuçu Conecta, programa de desenvolvimento econômico que está nos proporcionando ferramentas de fomento estruturadas para atrair novos negócios para o nosso município. Entre elas nós temos o fundo de desenvolvimento econômico, que abastecido com recursos da Cefen, que passa a ser gerido pelo BDMG, fizemos um aporte inicial de 30 milhões e a partir da nossa iniciativa o banco poderá conceder crédito diferenciado para atrair empresas de segmentos variados para nossa cidade. Oferecemos licenciamento ambiental municipalizado até a classe de número quatro em operação, um plano diretor municipal que proporciona segurança para a implantação de novos negócios, banco de áreas para desenvolvimento e diversificação econômica, e um condomínio empresarial voltado para indústria e logística”.
A cidade de Itabira, na Região Central de Minas, tem uma população 10 vezes maior que Itatiaiuçu, mas sofre dos mesmos problemas: mais de 80% do caixa municipal está vinculado às receitas diretas e indiretas provenientes da mineração. A cidade corre contra o tempo, já que as minas da Vale têm capacidade estimada de exploração por mais 17 anos. O município onde nasceu o poeta internacionalmente conhecido, Carlos Drummond de Andrade, está impulsionando setores como cultura, educação e turismo, como explica o prefeito Marco Antônio Lage.
“Atraindo universidades, acabamos de receber agora a faculdade de medicina já com sua primeira turma instalada, e outras universidades a universidade, mas tem outros pontos que nós estamos trabalhando aqui também. Itabira traz uma vocação para essa indústria do turismo em função de pelo menos três vertentes: o turismo literário-cultural, é a cidade do poeta Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas do Brasil e do mundo, mais o turismo ecológico, nós temos uma zona rural enorme, são mais de um município tem 1.260 km², uma natureza exuberante e finalmente o turismo da mineração, existe aqui um projeto que nós vamos trabalhar com a própria companhia Vale de transformar Itabira é depois do fim do ciclo no maior museu da mineração a céu aberto do mundo”.
A Associação dos Municípios Mineradores (AMIG) reclama da falta de transparência das mineradoras ao não dizer claramente para as prefeituras até quando elas vão continuar explorando o minério nas cidades. Isso, na avaliação da AMIG, faz com que muitas prefeituras sejam surpreendidas com os anúncios das empresas sobre o fim da exploração nos municípios. O consultor de relações institucionais e desenvolvimento econômico da Amig, Valdir Salvador, é taxativo: a mineração tem prazo de validade. Por isso, as cidades precisam se planejar.
“Na prática, é fazer um trabalho de criar ambiência de negócios e investir, gastar dinheiro, para tornar essa cidade atrativa para outros segmentos que não sejam exclusivamente mineração. Porque a mineração é uma atividade finita, mais tempo ou menos tempo, quando vier a exaustão, a principal atividade econômica da cidade vai acabar. Se não houver a diversificação, se não tiver tempo e inteligência para buscar outras empresas, teremos cidades falidas”.
Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), no ano passado, a produção de minérios no Brasil superou um bilhão de toneladas. O setor faturou 250 bilhões de reais em 2022. O setor é responsável por quase 5% do PIB e gera 2 milhões de empregos diretos e indiretos.