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Tarifa dos EUA dificulta equilíbrio entre déficit em conta corrente e investimentos no Brasil

Segundo os dados mais recentes, referentes a junho, o déficit em conta corrente acumulado nos últimos 12 meses chegou a US$ 73,1 bilhões, o equivalente a 3,42% do Produto Interno Bruto (PIB)

Donald Trump

O volume de investimentos estrangeiros recebidos pelo Brasil nos últimos 12 meses não foi suficiente para cobrir o déficit em conta corrente — cenário que deve se prolongar até o final do ano, diante da incerteza gerada pelas tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos e seus impactos no fluxo de capitais para o país.

Segundo os dados mais recentes, referentes a junho, o déficit em conta corrente acumulado nos últimos 12 meses chegou a US$ 73,1 bilhões, o equivalente a 3,42% do Produto Interno Bruto (PIB). No mesmo período, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou US$ 70,5 bilhões (3,14% do PIB).

Especialistas atribuem o aumento do déficit à economia brasileira estar superaquecida, crescendo acima do seu potencial. Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, explica que uma proporção do déficit em torno de 4% do PIB indica uma expansão muito acelerada da economia, diferente do crescimento de cerca de 2% observado quando o ritmo está equilibrado.

O aquecimento econômico favorece o aumento das importações, puxadas pela demanda interna, conforme destaca Lucas Farina, analista da Genial Investimentos. Além disso, déficits nas balanças de serviços e rendas também pressionaram o resultado das transações correntes, lembra Luíza Pinese, economista da XP Investimentos.

“O déficit de serviços tem batido recordes, impulsionado principalmente pela compra de novos serviços digitais, como plataformas de streaming”, observa.

O déficit em conta corrente indica que o país está gastando mais moeda estrangeira para comprar produtos e serviços do exterior do que recebe por suas exportações. Para compensar essa diferença, é necessário o financiamento externo, que geralmente vem pelo IDP — recursos investidos por empresas e investidores estrangeiros.

Historicamente, o IDP cobria esse déficit no Brasil, mas em 2025 essa dinâmica mudou, principalmente pela insegurança causada pelas tarifas dos EUA, principal investidor estrangeiro no país, que representa cerca de 25% do total de investimentos.

“Se o conflito comercial entre Brasil e Estados Unidos continuar, é provável que o IDP siga em queda, como já temos observado”, alerta Farina.

Perspectivas para o cenário

A XP revisou a projeção para o déficit em conta corrente em 2025, elevando-a de US$ 65,7 bilhões para US$ 73,5 bilhões (de 2,9% para 3,2% do PIB), principalmente por conta da queda esperada nas exportações e aumento nas importações. A previsão para o IDP permanece em US$ 70 bilhões (3,1% do PIB).

Apesar do cenário incerto, analistas consideram improvável uma piora severa no longo prazo, mas recomendam monitoramento constante.

Leal acredita que, com a desaceleração da atividade econômica e uma política monetária contracionista, o déficit deve se reduzir gradativamente. Ele projeta um déficit em conta corrente de US$ 80 bilhões (3,5% do PIB) em 2025, com IDP em US$ 78 bilhões (3,4% do PIB).

Por outro lado, a consultoria Capital Economics adota uma visão mais pessimista, prevendo que o déficit alcance 4% do PIB até o fim do ano, o que pode abalar a confiança dos investidores e provocar novas saídas de capital.

Dados do Banco Central mostram que, em junho, o déficit foi de US$ 5,1 bilhões — o maior para o mês desde 2014. Ajustado, o déficit anualizado chega a quase US$ 80 bilhões (3,6% do PIB), segundo a Capital Economics, um salto significativo em relação ao início de 2024.

Liam Peach, economista da Capital Economics, alerta que uma deterioração rápida do saldo é preocupante, especialmente se for sustentada por fluxos de capital voláteis.

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Riscos para a economia brasileira

A queda no IDP, sem ajuste no déficit, pressiona a taxa de câmbio para cima, o que pode agravar a inflação devido ao repasse dos custos. Farina projeta o dólar a R$ 5,67 e crescimento do PIB em 2,4% para 2025.

O impacto pode se refletir no aumento da inflação de alimentos, dificultando o ciclo de cortes na taxa Selic, atualmente em 15%, aponta o analista.

A Genial estima um déficit em transações correntes de US$ 68 bilhões (3,08% do PIB) em 2025, com entrada de investimentos estrangeiros de US$ 66 bilhões (2,98% do PIB), desde que não ocorra uma escalada nos conflitos comerciais entre Brasil e EUA.

*Com informações de Estadão Conteúdo.

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