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Financiamento de empresas será o primeiro benefício do Fácil, diz B3

Mercado acredita que emissão dívidas corporativas vão dominar o inicio do Regime Fácil, que busca facilitar a entrada de empresas na bolsa

No primeiro momento, mercado de ações não deve ser aquecido com o Fácil

Sem a listagem de novas empresas há quatro anos, a bolsa de valores brasileira (B3) vai lançar em janeiro de 2026 o Regime Fácil, um projeto que pretende facilitar a entrada de companhias que possuem um faturamento bruto anual de até R$ 500 milhões no mercado de capitais. A medida vai reduzir os custos de emissão de ações e títulos de dívida, como as debêntures e notas comerciais.

No momento em que o mercado acionário sofre as perspectivas da macroeconomia, com uma taxa básica de juros elevada a 15% ao ano, patamar considerado elevado para a renda variável, a avaliação do mercado é de que novos IPOs (Oferta Pública Inicial na sigla em inglês) ocorram somente em um horizonte futuro mesmo com o Fácil.

A expectativa é que o programa primeiro facilite a emissão de dívidas corporativas. Essas notas permitem que as empresas busquem financiamento diretamente com os investidores, se comprometendo a pagar o valor mais uma taxa de juros em uma data futura. A diretora de Emissores e Relacionamento da B3, Flávia Mouta, explicou que o Fácil abre um leque amplo de oportunidades que não está limitado ao mercado de ações.

“Existe sim a possibilidade de IPO em rito simplificado, mas você tem uma amplitude em dívida corporativa. O mercado acredita que as primeiras operações do Fácil serão de dívida, até mesmo em virtude do cenário macroeconômico que a gente está enfrentando com taxas de juros muito significativas. O mercado de dívida tende a ser o primeiro beneficiado com a emissão de debêntures e notas comerciais”, disse, em entrevista à Itatiaia.

Sem projeções para novos IPOs

A diretora ressalta que ainda não há uma projeção de quando vai ocorrer uma nova abertura de capital com um IPO no Fácil. Atualmente, a B3 possui cerca de 438 empresas listadas, mas algumas instituições anunciaram que pretendem fazer o caminho inverso: se fechar e deixar a bolsa de valores.

Segundo Mouta, o mercado de renda variável deve voltar a ganhar força quando a taxa de juros cair, mas a B3 trabalha para destravar essas entradas. Ao mesmo tempo, ela destaca que em renda fixa a instituição administra valores elevados, na casa de R$ 500 bilhões por ano na emissão de dívida corporativa.

“O mercado se adapta para manter a captação, porque as companhias precisam continuar captando para girar os seus negócios. Quando você tem o mundo de renda variável menos expressivo, normalmente tem a dívida corporativa dominando um pouco mais o cenário. É o que a gente tem visto acontecendo no momento. A captação continua acontecendo”, disse.

Facilidades do Regime Fácil

O Regime Fácil é uma iniciativa da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em parceria com a B3, que flexibiliza as regras para pequenas e médias empresas. Podem participar instituições que possuem um faturamento bruto anual entre R$ 300 milhões e R$ 500 milhões, que terão acesso a uma série de facilidades burocráticas para adentrarem no mercado de capitais.

Minas Gerais possui cerca de 6,4 mil empresas elegíveis para participar do programa, segundo levantamento da B3 e da Neoway. Quase metade delas são instituições do setor de serviços (49%), seguido por indústria (24%), construção civil (19%) e comércio (5%).

Ainda de acordo com Flávia Mouta, o programa surgiu a partir de uma demanda do próprio mercado para destravar a captação de recursos por empresas de menor porte. Somente em 2021 houve mudanças na legislação brasileira que permitiu a edição do Fácil pela CVM.

Entre as simplificações, ela explicou que, enquanto as grandes companhias precisam entregar formulários financeiros trimestrais verificados por auditores, no Fácil as informações são semestrais. “É uma redução de custo regulatório muito importante. Para entrar no mercado, as empresas precisam de três demonstrações financeiras auditadas, no Fácil precisa de apenas uma. (...) É um regime proporcional ao porte da companhia”, completou.

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Jornalista formado pela UFMG, Bruno Nogueira é repórter de Política, Economia e Negócios na Itatiaia. Antes, teve passagem pelas editorias de Política e Cidades do Estado de Minas, com contribuições para o caderno de literatura.