Bolsa despenca 2,4% com ata do Copom e pesquisa eleitoral; dólar sobe

Resumo da reunião do Copom diminui as apostas para o corte de juros em janeiro, enquanto pesquisa eleitoral mostra vantagem de Lula em 2026

Dia foi de queda para os ativos brasileiros com repercussão

O Índice Bovespa (Ibovespa), principal indicador do mercado de ações da bolsa brasileira, teve uma queda brusca de 2,42% nesta terça-feira (16), fechando o pregão aos 158.557.57 pontos. O dia do mercado foi marcado por notícias ruins aos investidores, começando pela ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.

No encontro da última quarta-feira (10), os diretores da autoridade monetária decidiram manter a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano, como já era esperado pelo mercado financeiro. Contudo, no documento de resumo da reunião divulgado nesta terça, os economistas mantiveram o tom duro do comunicado e não deram sinais de que pode haver um corte na taxa em janeiro.

“O Ibovespa voltou a refletir hoje a influência de fatores negativos. A ata do Copom, com um tom mais duro, já amplamente esperado, direcionou as expectativas do mercado para um possível corte da Selic apenas em março”, explicou Matheus Amaral, especialista de renda variável do banco Inter.

Segundo o documento, o Banco Central avalia que o cenário externo se mantém incerto em função da política econômica dos Estados Unidos, exigindo cautela de países emergentes. Por outro lado, em relação ao cenário doméstico, a avaliação é de que os indicadores seguem apresentando trajetória de moderação no crescimento da atividade econômica, enquanto o mercado de trabalho segue resiliente a desaceleração.

Uma taxa básica de juros elevada reduz a atratividade de ativos de renda variável, uma vez que as empresas de capital intensivo mais fortes da bolsa são sensíveis à variação da Selic. As apostas do mercado por um corte na Selic agora mudaram da reunião de janeiro para o encontro de março do Copom.

Cenário eleitoral

Os investidores também repercutiram a pesquisa Quaest divulgada nesta terça, a primeira que inclui o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O levantamento mostra um favoritismo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aparece com 39% das intenções de voto.

“O cenário eleitoral também pressionou o desempenho do índice, após a divulgação da pesquisa Quaest, a primeira a considerar Flávio Bolsonaro como candidato à presidência, indicando a força de Lula frente aos demais concorrentes. Ainda assim, não vemos motivo para pânico, uma vez que essa mesma pesquisa apresentou um erro de 11 p.p. na última eleição”, ressaltou Matheus Amaral.

Dólar volta a subir

O dólar voltou a subir nesta terça com um avanço de 0,9%, cotado a R$ 5,46. Além dos efeitos da ata do Copom e da pesquisa da Quaest, o câmbio segue sendo pressionado pelo aumento sazonal de saída de dólares do Brasil no final de ano.

Segundo o analista de inteligência de mercado da StoneX, Leonel Mattos, a saída sazonal da moeda americana aumenta a volatilidade do mercado. “O período de fim de ano é marcado por aumento nas remessas de lucros ao exterior, reduzindo a oferta de moeda americana no mercado doméstico e potencializando movimentos especulativos”, explicou.

A alta da moeda só não foi maior pelo resultado negativo do payroll, o relatório de emprego dos Estados Unidos. O levantamento mostrou uma alta de 4,6% na taxa de desemprego do país, o maior nível desde setembro de 2021. O indicador tem sido uma das principais variáveis do Federal Reserve (Fed) para cortar a taxa básica de juros americana.

“A divulgação reforça a percepção de enfraquecimento do mercado de trabalho, o que pode estimular uma postura mais expansionista do Federal Reserve, com possibilidade de novos cortes de juros nas próximas reuniões. Esse cenário tende a reduzir os rendimentos dos Treasuries, diminuindo a atratividade relativa dos ativos americanos”, completou Mattos.

Leia também

Jornalista formado pela UFMG, Bruno Nogueira é repórter de Política, Economia e Negócios na Itatiaia. Antes, teve passagem pelas editorias de Política e Cidades do Estado de Minas, com contribuições para o caderno de literatura.

Ouvindo...