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Economia do Brasil cresceu 0,4% em agosto, abaixo do esperado pelo mercado

Índice de Atividade Econômica (IBC-BR) mostrou uma leve recuperação das perdas de julho, mas com queda acentuada no Agro

Fim da safra do agro levou uma queda de 2% do setor

O Índice de Atividade Econômica (IBC-BR), calculado pelo Banco Central, avançou 0,4% em agosto na comparação com o mês imediatamente anterior, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (16). Apesar do resultado positivo, o mercado esperava uma alta de 0,7%, segundo o Broadcast+, e agora começa a observar os primeiros sinais de desaceleração da economia brasileira.

O IBC-BR é considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB) calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com a diferença de considerar apenas os três setores principais da economia (Agro, Indústria e Serviços) e o volume de importações, em um acompanhamento mês a mês - o PIB é divulgado trimestralmente.

Segundo os dados apresentados pelo Banco Central, o IBC-BR reverteu parte da queda de 0,5% na passagem de junho para julho. Porém, a avaliação geral é de que a política monetária contracionista, com a taxa básica de juros em 15% ao ano, começa a desacelerar a atividade econômica de maneira gradual.

Para o economista sênior do banco Inter, André Valério, os resultados reafirmam a tendência de acomodação no crescimento da economia já observado nas últimas leituras. “A economia dá sinais de que a política monetária muito restritiva e o baixo nível de confiança dos empresários têm surtido o efeito no desempenho econômico, mesmo com a política fiscal ainda dando algum suporte, com o pagamento de precatórios no fim de julho”, disse.

A Agropecuária registrou a maior queda no indicador, com um recuo de 1,9% em relação ao mês passado. “Com o fim do período de safra do agro, o setor não conseguirá contribuir para o crescimento, como foi o caso do 1º trimestre e já apresenta queda pelo quinto mês consecutivo no IBC-BR”, explicou Valério.

A Indústria recuperou o ritmo perdido em julho com um avanço de 0,8% em agosto, enquanto os Serviços subiram 0,2%. Para os próximos meses, os analistas do Inter esperam que o PIB contraia 0,2% no terceiro trimestre e cresce 2% em 2025, e 1,8% em 2026. “Mesmo com o eventual início da flexibilização da política monetária, que ainda manterá os juros em patamar restritivo ao longo de todo 2026”, completou Valério.

Cenário de Selic estável e desaceleração controlada

Análise da Genial Investimento também ressalta o cenário para uma Selic elevada por período prolongado, enquanto a economia desacelera de maneira ordenada. “O resultado positivo de agosto não deve ser interpretado como um ponto de inflexão da economia para uma possível aceleração na passagem do segundo para o terceiro trimestre, mas sim de confirmação da perspectiva de arrefecimento gradual”, disse o relatório da equipe de macroeconomia.

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A Genial ressalta que os dados estão alinhados com os indicadores setoriais do IBGE, que apontam para uma expansão da atividade e reverter as quedas dos meses anteriores. Segundo o relatório, a política monetária restrita vai seguir afetando os setores mais sensíveis ao ciclo econômico, especialmente aqueles que dependem de crédito. A expectativa é que o nível atual dos juros deve ser suficiente para garantir a convergência da inflação, calculada em 5,17%, ao centro da meta de 3%.

“Ainda assim, o descompasso entre as políticas monetária e fiscal permanece como um risco relevante para esse cenário, sobretudo diante da aproximação do ciclo eleitoral, que pode vir acompanhado de maior expansão fiscal. Por ora, mantemos a expectativa de início do ciclo de cortes a partir de março de 2026, com encerramento em 13,0% a.a”, ressalta.

Jornalista formado pela UFMG, Bruno Nogueira é repórter de Política, Economia e Negócios na Itatiaia. Antes, teve passagem pelas editorias de Política e Cidades do Estado de Minas, com contribuições para o caderno de literatura.