Contumaz crítico de criação de cargos no Estado e de reajustes salariais ao funcionalismo, o ex-deputado estadual Guilherme da Cunha (Novo) foi nomeado, neste sábado (29), novo secretário-executivo da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, cadeira criada pela reforma administrativa do governo e proposta especificamente para abrigar o político.
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A coluna apurou que a ida de Da Cunha para o cargo, inclusive, já tem gerado certo mal-estar interno no governo, uma vez que o ex-parlamentar criou inimizades em quase todos as áreas do Poder público. Como secretário-executivo, ele terá um salário de quase R$ 32 mil, valor máximo previsto pelo novo reajuste salarial.
Segundo interlocutores, Guilherme da Cunha articulou a entrada na administração estadual desde o final de 2022, quando não conseguiu se reeleger.
Inicialmente, cogitou-se que ele assumiria o posto de secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico e, depois, uma nova pasta que poderia ser criada com o foco na gestão das empresas públicas e a privatização delas. A ideia não avançou, mas a pressão, principalmente por alas do Novo, em abrigar o ex-deputado no governo se manteve.
A nomeação do ex-deputado virou motivo de críticas e ironias entre antigos colegas na Assembleia e em outros Poderes.
O líder do bloco de oposição na Assembleia, o deputado Ulysses Gomes (PT), pontuou ironicamente que Guilherme da Cunha teria sido aprovado em um “concorrido processo seletivo”. “Imagino que ele tenha sido aprovado em processo seletivo, já que é a única secretaria que o governador criou cargo de secretário-executivo na reforma, com salário de quase R$ 35 mil. Deve ter sido muito concorrido o processo”, disse.
Ao longo do mandato de deputado estadual, entre 2019 e 2023, Guilherme da Cunha colecionou discussões e polêmicas ao criticar uma série de projetos que visavam remodelar o quadro de funcionários de instituições públicas, como o Ministério Público e o Tribunal de Contas de Minas.
‘Cabidão de emprego’
Em junho do ano passado, por exemplo, Guilherme da Cunha classificou como “cabidão de empregos” um projeto que criava a Procuradoria-Jurídica no TCE, responsável para assessorar o tribunal em processos que fazia parte. Ao todo, seriam oito procuradores previstos no projeto.
“Esse projeto é um baita de um cabidão de emprego que vai custar mais de R$1.000.000,00 por ano ao cidadão de Minas Gerais. Esse R$1.000.000,00 será destinado anualmente para aquelas pessoas que têm ótimas relações com o presidente em exercício do tribunal, que terá toda a liberdade e faculdade de indicar quem ele bem entender, haja vista que basta a inscrição nos quadros da OAB. Isso não é do que a população de Minas Gerais precisa, isso não é uma conta justa para o nosso cidadão pagar, e, além disso, sequer é do que o próprio tribunal precisa. Na verdade, no muito e no muito, ele precisa de um, e, de preferência, concursado. Se é para fazer a defesa institucional do tribunal, nas suas prerrogativas, o concursado é mais do que adequado e correto para isso. Infelizmente não tivemos a oportunidade de conseguir enxugar tanto assim a procuradoria, e não nos resta outra alternativa senão pedir aos colegas, em respeito ao bolso do cidadão mineiro e em respeito a quem vai ter que pagar essa conta, que a gente vote “não” e não permita a criação desse cabidão de emprego de oito pessoas para tomarem conta de um total de zero processos acumulados de 1988 até hoje. Sr. Presidente, encaminho pelo “não”, em respeito ao dinheiro do nosso pagador de impostos, que já tem uma conta grande demais para pagar e que não merece sofrer com mais essa”, disse, na época, Guilherme da Cunha.
Um mês antes, em maio do ano passado, Cunha também fez duras críticas a um projeto que reajustava os salários de alguns assessores de promotorias do MPMG. “O orçamento do Ministério Público pode ser de gestão autônoma pelo próprio Ministério Público, mas o dinheiro que compõe esse orçamento não é dele, o dinheiro que compõe esse orçamento é do povo de Minas Gerais. Quando a gente fala dinheiro público fica parecendo que não é de ninguém, não é mesmo? Muito pelo contrário. O dinheiro público que compõe os cofres públicos é dinheiro do povo de Minas Gerais”, afirmou em plenário o novo abrigado do governo de Minas.
Em março de 2022, durante a discussão sobre projeto de recomposição salarial dos servidores, Cunha, contrário ao texto, chegou a dizer que alguns deputados acreditavam que dinheiro dava em árvore. No dia da votação, ele chegou a levar uma árvore artificial com notas falsas de dinheiro para o plenário.
Guilherme da Cunha é filiado ao Novo desde a fundação do partido. As diretrizes iniciais da legenda, inclusive, proíbe o que classifica como “carreirismo político”, como a proibição de mais de uma reeleição para mandatários e, no caso do Executivo, somente indicações técnicas e selecionadas no mercado para ocupar cargos públicos.
Polêmica da Buser
Durante o mandato, Guilherme da Cunha chegou a ser investigado pelo Ministério Público de MG depois que deputados questionaram, no MP, possível conflito de interesses entre a atuação parlamentar em defesa do chamado “decreto da Buser”, que autorizava o transporte por fretamento de forma generalizada. Antes de assumir como deputado, Cunha atuou como advogado da empresa.
Na representação enviada ao MPMG pelo deputado Alencar da Silveira Jr (PDT), a atuação de Cunha enquanto advogado da Buser foi questionada. Em agosto de 2021, o inquérito foi instaurado e chegou a colher depoimento do deputado, mas o processo não avançou e acabou arquivado no ano passado.