Ouvindo...

Por que líderes mundiais têm medo de ofender a Rússia? Conheça os bastidores da negociação que tirou Putin da mira condenatória do G20

Desabastecimento de fertilizantes, combustíveis e grão, além do risco de uma guerra nuclear, estão entre os temores de outras nações em relação a China

Presidente da Rússia, Vladimir Putin

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia começou em fevereiro de 2022 e, apesar de vários esforços internacionais para o cessar-fogo, o conflito já dura um ano e nove meses. Na última reunião do G20, em Nova Délhi, capital da Índia, na declaração final, os líderes optaram por não condenar o conflito. A posição foi diferente da adotada em no ano anterior, em Bali, quando os membros do bloco condenaram a invasão russa em território ucraniano.

Não apenas os integrantes do G20, mas lideranças de outras nações temem um desacordo com a Rússia, basicamente, por dois motivos: relações comerciais e risco de uma guerra nuclear. Atualmente, a Rússia é um dos principais exportadores de fertilizantes, gás natural e petróleo. A agricultura brasileira, por exemplo, é dependente dos fertilizantes russos. Um desabastecimento provocaria queda na produção de alimentos do Brasil, podendo afetar o consumo interno e as exportações. Além do que, o bloqueio russo no Mar Negro vem impedindo a exportação de grãos ucranianos que abastecem uma parcela importante do mercado mundial.

O risco de uma guerra nuclear ou de uma terceira guerra mundial também assombra as grandes nações. Em março, Vladimir Putin, cogitou a possibilidade de a Rússia retomar os testes nucleares, caso os Estados Unidos também o fizessem. A declaração reacendeu o medo de uma corrida armamentista com armas atômicas que pudesse ser inclusive contra a Ucrânia.

Diante do cenário sombrio, do risco de impactos econômicos e de danos humanos irreversíveis, as principais lideranças mundiais baixaram a guarda e seguem fazendo um discurso ameno. No G20, para que todas os integrantes concordassem com o trecho da declaração final que citou a guerra, diplomatas da Índia e do Brasil trabalharam em um texto que não despertasse as divergências. Após coletadas todas as assinaturas dos líderes, a presidência indiana se apressou em divulgar o documento, antes que alguém desistisse. A carta foi publicada 24 horas antes do planejado, que seria domingo (11).

Edilene Lopes é jornalista, repórter e colunista de política da Itatiaia e podcaster no “Abrindo o Jogo”. Mestre em ciência política pela UFMG e diplomada em jornalismo digital pelo Centro Tecnológico de Monterrey (México). Na Itatiaia desde 2006, já foi apresentadora e registra no currículo grandes coberturas nacionais, internacionais e exclusivas com autoridades, incluindo vários presidentes da República. Premiada, em 2016 foi eleita, pelo Troféu Mulher Imprensa, a melhor repórter de rádio do Brasil.