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A primeira favela de Belo Horizonte

A área foi ocupada informalmente por operários e migrantes.

Pedreira Prado Lopes

A Pedreira Prado Lopes, localizada na região Noroeste de Belo Horizonte, é considerada a mais antiga da cidade. Sua ocupação começou entre 1900 e 1920, por trabalhadores que participaram da construção da nova capital de Minas Gerais e que não encontraram alternativas habitacionais formais. A origem do aglomerado está associada à exploração de uma das pedreiras usadas na urbanização de Belo Horizonte: a antiga Pedreira da Viação.

Durante a implantação da cidade planejada, a Comissão Construtora da Nova Capital (CCNC) autorizou a abertura de cinco grandes pedreiras: Pedreira do Acaba Mundo, localizada no atual bairro Sion; Pedreira do Morro das Pedras; onde hoje está o Aglomerado Morro das Pedras; Pedreira da Lagoinha, próxima ao bairro Concórdia; Pedreira da Carapuça, região leste da cidade, próxima ao atual bairro Pompéia; e Pedreira da Viação, localizada na Lagoinha, origem da futura Pedreira Prado Lopes.

Essas pedreiras forneciam calcário e blocos de rocha para obras públicas, calçamento e produção de cal. A Pedreira da Viação foi posteriormente arrendada pelo engenheiro Antônio Prado Lopes Pereira, ex-integrante da CCNC, depois governador, cujo nome acabou designando o território.

A área foi ocupada informalmente por operários e migrantes. Como a legislação da época impedia construções fora da Avenida do Contorno, essas moradias eram consideradas irregulares. A urbanização não acompanhou o crescimento do núcleo, que se transformou em um aglomerado subnormal.

A favela recebeu, ao longo do tempo, diversas denominações: Vila Senhor dos Passos, Fazenda Palmital, Vila João Pessoa, Vila Santo André e, finalmente, Pedreira Prado Lopes. A escolha do nome consolidado ocorreu por associação direta com o antigo arrendatário da pedreira.

Segundo dados da Prefeitura de Belo Horizonte de 1998, a Pedreira Prado Lopes apresentava indicadores críticos: 89% dos domicílios tinham renda per capita inferior a R$ 100 mensais. Era um dos piores índices da capital. O aglomerado possuía, à época, cerca de 1.400 domicílios em uma área de 120.000 m².

Em 2005, a favela foi incluída no programa Vila Viva. As ações incluíram urbanização de ruas, pavimentação, regularização fundiária, contenção de encostas e reassentamento de famílias. Um conjunto habitacional foi construído para moradores removidos de áreas de risco.

Em 2017, a comunidade foi palco da criação do primeiro shopping social do Brasil, na rua Araribá. A iniciativa foi coordenada por uma organização ligada à Igreja Batista da Lagoinha, com foco em economia solidária e geração de renda.

Culturalmente, a Pedreira Prado Lopes tem importância histórica. Ali surgiu o primeiro bloco carnavalesco de Belo Horizonte, os Leões da Lagoinha, nas décadas de 1920 e 1930. A favela também abrigou a escola de samba Pedreira Unida, e foi ponto de origem de músicos e artistas populares.

Hoje, estima-se que cerca de 6.000 pessoas vivam na Pedreira Prado Lopes. O território permanece com áreas não regularizadas e infraestrutura parcial, embora tenha recebido melhorias nos últimos 20 anos. A proximidade com o Centro e a valorização do entorno trazem novos desafios urbanísticos e sociais.

A Pedreira Prado Lopes permanece como um dos símbolos da exclusão urbana de Belo Horizonte e da formação de suas periferias. É também um território de resistência histórica e social, resultado direto da ausência de políticas habitacionais na fundação da capital.

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Gabriel Sousa Marques de Azevedo é advogado, empresário, jornalista, professor, publicitário, pós-graduado em competitividade global pela Georgetown University e Mestre em Cidades pela London School Of Economics.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.