Nos últimos meses, vídeos e imagens de cobras de diferentes espécies têm gerado repercussão na web. Isso porque as gravações mostram esses animais engolindo ou tentando engolir presas muito maiores do que elas. No mês passado, duas mulheres foram encontradas mortas no estômago de pítons, na Indonésia, e nesta semana, o vídeo de uma outra cobra ‘engasgada’ ao tentar engolir um frasco de xarope também repercutiu.
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Por que estes animais conseguem engolir presas muito maiores que o próprio corpo? À Itatiaia, o diretor do Centro de Desenvolvimento Cultural do Instituto Butantan, Giuseppe Puorto, e a professora do Laboratório de Zoologia dos Vertebrados da UFOP, Maria Rita Silvério Pires, explicam os hábitos alimentares desses animais e como esses répteis são capazes de ‘abocanharem’ presas tão grandes. Porto explica que esse o comportamento de ‘comer animais enormes’ é instintivo e, como as cobras comem quando conseguem encontrar um alimento e, não quando sentem fome, elas tendem dar botes em qualquer ser vivo que consideram presas, independentemente do tamanho.
Como elas conseguem ‘abocanhar’ presas muito maiores que elas?
Os profissionais esclarecem que, para conseguirem comer animais muito maiores do que diâmetro delas, as cobras contam com uma série de adaptações estruturais. A primeira delas é que a mandíbula das serpentes é dividida em dois arcos, o esquerdo e o direito, e eles são ligados por uma pele - o que permite que elas tenham uma maior elasticidade. Essa estrutura possibilita que a mandíbula faça movimentos de direita e esquerda alternadamente até que o alimento seja engolido.
Outro ponto importante é que as serpentes possuem uma caixa craniana móvel, que permite disposições diferentes de acordo com o tamanho da presa que elas estão engolindo. E, por fim, esses animais possuem uma coluna vertebral que se abre para a passagem das presas maiores e um aparelho digestivo elástico que também tensiona para permitir a digestão.
As cobras conseguem digerir tudo que comem?
Conforme Puorto, na maioria das vezes, sim, mas há casos que em que serpentes acreditam que vão conseguir digerir as presas, mas acabam não conseguindo - como foi o caso da cobra que tentou engolir o frasco de xarope. Nessas ocasiões, elas regurgitam o que ingeriram.
“Algumas serpentes jovens, ao tentarem ingerir a presa, não começam pela cabeça - o que é a posição mais ‘fácil’ para elas - e isso faz com que elas precisem regurgitar e tentar engolir a presa novamente. Além disso, há também os casos em que a ingestão é prejudicada pela mudança de temperatura. A serpente é um bicho que depende da temperatura para manter o metabolismo: quando a temperatura cai e ela não consegue mais digerir, ela regurgita ou busca ficar em um local mais quente”, explica.
Após engolirem presas grandes, Pires informa que as cobras costumam procurar um local tranquilo para fazerem a digestão. “Elas ficarão paradas por dias ou semanas enquanto digerem o alimento”, afirma.
Cobras podem comer humanos?
Há casos pontuais no sudeste asiático em que pítons se alimentaram de pessoas, mas esse não é um comportamento natural desses animais. Pires esclarece que, apesar de todas as cobras serem carnívoras, ou seja, se alimentam apenas de carne, o ser humano não faz parte da dieta de nenhuma serpente. "É importante salientar que a natureza vem sendo devastada pelo ser humano e, com isso, aumentam as chances desses acidentes ocorrerem”, afirma a professora.